30 Outubro 2012
Editor da página de editoriais do El País
Em um novo esforço para tirar da letargia judicial o caso do jornalista colombiano Gerardo Bedoya, assassinado em março de 1997, a Unidade de Resposta Rápida da Sociedade Interamericana de Imprensa visitou novamente Cali para dar prosseguimento à investigação iniciada em 1998. Três anos e meio depois do assassinato, restam perguntas sem respostas. Perguntas não sobre o crime, mas sobre o que levou a promotoria a não investigar várias pistas sobre a autoria intelectual do crime. Luis Guillermo Restrepo, editor da página de editoriais do El País, de Cali, continua chocado diante da inércia judicial que cerca o assassinato do seu predecessor, Bedoya. A promotoria não queria investigar o que aconteceu. Quando não se investiga imediatamente um crime, há 60% de chances de que não seja solucionado. E foi isso que fizeram, comentou consternado.
Restrepo não é o único a apontar irregularidades da promotoria sobre esse caso ou indicar que as hipóteses seguidas não são as corretas. O diretor do jornal, Eduardo Fernández de Soto, disse que esperamos que com a sua investigação não aconteça o que aconteceu há um ano, quando vieram (umas pessoas) da promotoria e pediram todas as informações sobre o seguro médico de Gerardo.
Diego Martínez Lloreda, vice-diretor do El País, afirma que as investigações não progridem e que a promotoria parece estar seguindo apenas uma suposta hipótese sobre o comportamento homossexual de Bedoya, porque não contentes em matá-lo, querem também acabar com a sua reputação, disse.
As irregularidades começaram na época do crime. Os três cadernos com perguntas a amigos e familiares de Gerardo Bedoya, que estão na Unidade de Direitos Humanos da Procuradoria, estão cheios de referências a uma possível conduta homossexual do jornalista, assim como pesquisas sobre os remédios que usava e visitas ao médico. Mas, surpreendentemente, não existe nenhuma pesquisa sobre suas colunas que afetavam os narcotraficantes do Vale do Cauca e os governantes da época, envolvidos no famoso escândalo do Processo 8000 sobre o financiamento dos narcotraficantes para a campanha presidencial de Ernesto Samper.
María Eugenia Arango, que estava com Gerardo no dia do assassinato e que ele acompanhava para ver um apartamento na Unidade 5 do Multicentro, em Cali, quando um pistoleiro o atingiu, foi interrogada por agentes da promotoria, os quais chama de ignorantes. Indignada, disse que há seis meses, um agente veio me preguntar se Gerardo era traficante. Mandam pessoas que nem sabem quem era Gerardo.
Um ano antes do assassinato de Bedoya, uma de cada duas colunas do jornalista publicadas no El País era contra o governo e os narcotraficantes ou sobre o processo 8000. Em 27 de fevereiro de 1996, escreveu o editorial do jornal com o título O estado ameaçador, em que denunciou o governo do então presidente Ernesto Samper, o qual chamou de policialesco, autoritário, e acusou-o de perseguir os cidadãos, jornalistas, e a oposição.
Cinco dias antes, em uma coluna, disse que os mecanismos de protesto não haviam conseguido derrubar o presidente eleito pelos traficantes. Em outras matérias de janeiro, declarou que o regime temia a liberdade de imprensa. A todas essas colunas, somaram-se aquelas nas quais pedia a extradição dos narcotraficantes, sendo uma das mais famosas a chamada Prefiro que me chamem de pró-ianque.
Três meses antes do crime, na casa do também jornalista José Pardo Llada, Bedoya abriu o bico, como se diz popularmente, sobre os generais Manuel José Bonnet e Harold Bedoya (seu primo). Criticou-os porque considerava que os dois haviam protegido os narcotraficantes quando Bonnet era membro da Terceira Brigada.
Fios soltos
Familiares, colegas e amigos de Bedoya não estão satisfeitos com o resultado das investigações oficiais. Ao acompanhar a investigação oficial sobre o assassinato, a SIP descobriu algumas pistas que deveriam ser consideradas no caso.
Em 8 de abril de 1998, apenas um ano e meio depois do assassinato, a promotoria pediu a Clara Bedoya, irmã da vítima, que desse informações sobre um homem que ela disse ter entregue um organograma da máfia que cercava a fazenda de Gerardo Santa Clara em Guachinte, Jamundí, onde também possuíam propriedades os traficantes Helmer Pacho Herrera e Phanor Arizabaleta, conhecidas como as fazendas San Cayetano, a Novillera, La Luisa e La Carolina.
Não se fez ainda teste de impressões digitais no documento cujo autor diz que Bernardo Tovar, campeão de tiro ao alvo, era quem treinava os guarda-costas da máfia na fazenda El Muro, de Miguel Angel Rodríguez e Armando Vélez, e que nessa área também estava Gustavo Patiño, pai de Victor Patiño.
Ximena Palau e María Eugenia Arango, as mulheres com quem Bedoya se relacionava antes de morrer, afirmam que ele temia um atentado por parte da guerrilha. Elas não aceitam que o assassinato de Bedoya seja associado a homossexualismo, e nesse ponto parece que há outra pregunta a responder. Por que, 15 dias após o assassinato, cinco homens do DAS (Departamento de Segurança) visitaram Palau em seu apartamento de Bogotá e lhe disseram que o móvel do crime era o homossexualismo de Bedoya, só porque o pistoleiro o chamou de maricas quando atirou contra ele?
Por que os promotores demoraram três anos e meio para desfazer as dúvidas sobre a identidade de María Eugenia Arango, que, segundo declarou um familiar de Bedoya, tinha sido namorada de um homem chamado Gómez, irmão do traficante Denis Gómez? Por que não se confirmou com o médico da sua filha a versão segundo a qual María Eugenia havia pedido a Bedoya 20 milhões de pesos (cerca de US$10.000 naquela época) para operar sua filha? Por que não se pediu na Praça de Touros, como o fez a SIP, as informações sobre como Arango conseguiu uma cadeira exatamente ao lado de Gerardo Bedoya?
Por que a justiça deixou em liberdade Edgar José Astaiza, único acusado de autor material apontado pelos detetives do Corpo Técnico de Investigações da Procuradoria e que foi identificado em fotos por María Eugenia Arango como o pistoleiro que matou Bedoya?
A única resposta até agora é que Gerardo cometeu o mesmo erro do seu líder Alvaro Gómez Hurtado: dizer o que pensava sobre o regime. Denunciou a corrupção, e esse é o ponto que não foi examinado, disse Luis Guillermo Restrepo.