30 Outubro 2012

Quando morreu, Medina preparava um livro sobre o caso da Rádio María.

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Nascido em 3 de janeiro de 1939, Parmenio Medina Pérez transformou Costa Rica em sua segunda pátria, depois da Colômbia. Encantou-se com o pequeno país de 51.000 km2 quando o visitou em 1968. Defensor ferrenho dos seus ideais, apresentou durante 28 anos o “La Patada”, um programa dominical humorístico que, com o passar do tempo, tornou-se um programa de jornalismo investigativo.
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Em 29 de abril de 2001 e pela primeira vez em sua história, o “La Patada” não foi transmitido. A decisão foi da Rádio Monumental, de San José, proprietária da freqüência, e foi tomada após ameaças de processos por parte de advogados do padre Mínor de Jesús Calvo, diretor da Rádio María, também da capital, cuja administração Medina criticou várias vezes em seu programa. “El Compadre”, apelido carinhoso pelo qual o jornalista era conhecido, recorreu à Sala Constitucional em 22 de junho do mesmo ano, e os magistrados decidiram a seu favor, obrigando a emissora a transmitir os programas sem censura. Quando morreu, Medina preparava um livro sobre o caso da Rádio María. “Tenho em meu poder 50 horas de entrevistas gravadas e oito arquivos com documentos muito valiosos. Mais ainda há muito a dizer”, contou durante a última entrevista publicada no semanário Universidad, de Costa Rica. Apaixonado pela rádio, envolveu-se em vários outros campos: ciclismo, novelas, espetáculos. Seus trabalhos de investigação tocaram em pontos sensíveis. Em 1979, durante a Corrida Ciclística em Costa Rica, denunciou alguns juízes por problemas de conduta. Ameaças anônimas escritas foram colocadas embaixo da sua porta. “Precisei trocar de telefone mais de duas ou três vezes. Resistimos a tudo: intriga, inveja e falsidade dos falsos amigos”, escreveu nessa ocasião. Novas ameaças foram recebidas em 1993, quando revelou irregularidades na importação de calçados esportivos por parte de uma poderosa companhia. O tempo lançou o caso no esquecimento. Medina era, antes de tudo, um homem corajoso que não aceitava ser intimidado. Mas temia morrer como seu irmão, Jairo Medina, assassinado a tiros em uma rua de Medellín em 14 de agosto de 1985. Na época em que recebeu as primeiras ameaças de morte, Medina costumava levar no porta-luvas do carro um revólver calibre 38. No dia em que foi morto, não estava com ele e também não vestia o colete à prova de balas que um amigo havia lhe dado. Tinha 5 filhos, 14 netos e uma bisneta recém-nascida. “São os mais lindos do mundo”, costumava dizer. Era uma pessoa agradável que não tolerava a mediocridade e tinha um estilo direto de se expressar. Usava máquina de escrever para elaborar seus textos e escrevia durante as madrugadas ao som das teclas que davam vida a seus personagens, fiel reflexo da idiossincrasia costarriquense.

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