30 Outubro 2012
Tudo indica que o assassinato de Samuel Román seja um crime político
Tudo indica que o assassinato de Samuel Román, apresentador do programa de rádio A voz do povo, seja um crime político, acredita José Roberto da Silva, 31 anos, colega dele na Rádio Conquista FM. A emissora fica em Coronel Sapucaia, cidade em Mato Grosso do Sul que faz fronteira com o Paraguai. Román foi assassinado na noite de 20 de abril, quando chegava a sua casa, no centro da cidade. Mas Ivan Barreira, titular do Grupo Armado de Resgate e Repressão a Assaltos e Seqüestros (Garras), encarregado das investigações, prefere não divulgar ainda, com tanta certeza, a causa do crime. A área é complicada, estamos tentando manter sigilo e chegar aos autores, observou. Barreira acredita que provavelmente até o dia 21 de maio vai concluir o inquérito.
A região é palco do tráfico de armas e drogas. Ameaças e assassinatos são comuns, porque o medo das testemunhas e a facilidade de fuga na fronteira entre os dois países colaboram para a impunidade dos criminosos. Mas a proximidade das eleições para prefeito e vereador, marcadas para outubro deste ano, e a dúbia relação dos profissionais de rádio, que ora atuam como radialistas, ora como políticos, não podem ser menosprezados. Por isso, Barreira está seguindo várias pistas.
Segundo õ delegado, mais pessoas estão sendo interrogadas, além dos três brasileiros suspeitos de envolvimento, que foram presos na primeira semana das investigações. A polícia ainda não tem convicção da participação deles.
Assim que foi noticiado o assassinato de Román, os jornais do Brasil e do Paraguai divulgaram que a causa provável seriam denúncias feitas pela vítima sobre o narcotráfico. Mas, de acordo com o sonoplasta e produtor Nélio Júnior, que trabalhou com Román, o radialista nunca falou em seu programa sobre o problema do tráfico. Ele só queria mais saúde, educação e comida para os pobres.
O radialista Silva confirma. Román costumava usar seu espaço na rádio para denunciar irregularidades cometidas pelo prefeito na atual administração (que é de um partido diferente ao do radialista). No último programa que apresentou, na terça-feira pouco antes de ser assassinado , Román insistiu mais uma vez que a Justiça deveria investigar essas irregularidades para que o prefeito não pudesse se candidatar novamente nas eleições deste ano. Acusou o roubo do dinheiro dos cofres públicos.
Ele próprio, Román, pretendia se candidatar a vereador. Acumulava o cargo de diretor e apresentador da rádio com a função de primeiro suplente de um vereador do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Também era secretário do PDT no município. Comprou a Rádio Conquista FM havia oito meses. Antes, trabalhou na Rádio 103 FM e apresentou um programa de televisão no Canal 9, ambos no Paraguai, no mesmo estilo jornalístico-policial de A voz do povo. Foi ainda assessor do deputado estadual Ari Rigo (do PDT). A sócia de Román na Rádio Conquista FM, Silvia Gimenez, foi procurada pela SIP, mas não deu retorno aos pedidos de entrevista.
Natural de Aral Moreira, cidade a 75 quilômetros de Coronel Sapucaia, Román era muito popular, principalmente porque há cerca de 14 anos organizava festas para arrecadar fundos e dar presentes no Natal, no dia das crianças, ou no dia das mães. Ele só teve um defeito: ajudar as pessoas, disse Silva.
Nem Silva, nem Nélio lembram ter ouvido Román queixar-se de ameaças a não ser há dois anos, quando ele foi alvo de tiros, depois de apresentar o programa na televisão em que denunciou problemas na administração municipal. Após o assassinato de Román, é Silva quem segue apresentando o programa. Também acumula os cargos de assessor do PDT e assessor de imprensa da Câmara Municipal de Coronel Sapucaia. Silva teme por sua vida disse que recentemente, num dia em que havia dito que estaria na rádio, o segurança da emissora foi abordado por homens armados.