30 Outubro 2012
Investigación Previa
RESUMO No início de abril de 1988, Héctor Félix Miranda começou a dizer aos amigos que achava que alguém o estava seguindo. Disse que o estavam espionando enquanto saía e entrava em casa, em um bairro pouco povoado em Tijuana, uma cidade em rápido processo de crescimento na fronteira do México e Estados Unidos. Mais tarde, um vizinho diria que um pequeno furgão havia começado a estacionar regularmente em uma rua em frente a uma ladeira no quarteirão de Félix. Um outro vizinho relataria que pessoas em um Pontiac TransAm preto e em uma caminhonete marrom estavam vigiando a casa de Félix. Em 18 de abril de 1988, Félix disse a um amigo que temia que alguém fosse matá-lo em breve. Não disse quem. Em 20 de abril, Félix entrou em seu Ford LTD sedan azul, 1980, p ara ir ao jornal semanal Zeta, onde era o co-diretor e escritor de fofocas populares e de uma coluna sobre política. Ele tinha um dia cheio de trabalho à sua espera naquela quarta-feira. Quartas-fe i ras eram os dias em que reunia itens para sua coluna "Um Pouco de Algo" (Un Poco de Algo), que escrevia com a assinatura de Héctor "El Gato" Félix (O Gato Félix). O jornal era impresso às sextas-feiras, e Félix geralmente escrevia nas manhãs de quinta-feira. Naquela manhã de quarta-feira chovia ininterruptamente. Félix fe chou as janelas do carro. Apesar de normalmente tomar outro caminho para ir ao jornal, nesse dia Félix virou o carro para que pudesse dobrar à esquerda no alto da rua e desceu a ladeira íngreme da rua López Velarde. Eram 9h15. Um homem em um furgão bege saiu atrás de Félix, seguindo-o pela ladeira em velocidade normal. Na base da ladeira, a um quarteirão da esquina da rua onde Félix iri a dobrarà esquerda para chegar ao Zeta, um Pontiac Trans-Am preto, de um modelo antigo , apareceu na sua frente. Os relatórios da polícia são conflitantes; não se sabe se o homem no Trans-Am parou na frente de Félix para detê-lo ou se o veículo estava esperando, de frente para a ladeira, enquanto Félix a percorria. Os relatórios também são conflitantes quanto à questão de saber se o homem com a arma de calibre12 atirou da caminhonete conforme se aproximava do carro ou se saiu do Trans-Am e fez um sinal, com a arma escondida nas costas, para que Félix parasse antes de caminhar até a janela do seu carro. De acordo com a autópsia, o assassino colocou o cano do revólver bem próximo, deixando queimaduras de pólvorano pescoço de Félix. O tiro at ravessou o vidro fechado, penetrando o ombro esquerdo do jornalista e at ravessando-lhe o tronco em sentido diagonal. Um segundo disparo rasgou-lhe o lado direito e ele tombou, ficando com a cabeça e o ombro direito tombados sobre o banco do passageiro. O Trans-Am e a caminhonete part i ram em alta velocidade. Félix alcançou o status de herói local popular como o autor da coluna "Un Poco de Algo". Estabeleceu uma reputação como um cruzado contra corrupção e crime, e inspirou pessoas de todos os tipos de vida e de todos os níveis da sociedade de Tijuana a telefonarem com dicas e itens para sua coluna. Apesar de os amigos o descreverem como uma pessoa quieta, reservada e respeitosa no trato com os outros, sua escrita era mais conhecida pelo espírito provocativo e pelo sarcasmo impiedoso. O único modo de reconhecer traços da personalidade de Félix em seu trabalho, segundo os amigos, era prestando atenção a temas como preocupação com os pobres e impaciência com a corrupção que permeavam suas colunas. Félix iniciou sua carreira sem muito alarde, escrevendo colunas sobre esportes e outros temas não controversos. Ele e seu sócio no Zeta, Jesús Blancornelas, abriram um jornal chamado ABC, na década de 1970, e então Félix começou a se tornar um enérgico satirista. O trabalho no ABC terminou, entre tanto, quando uma briga entre os diretores e o então gove rnador Roberto de la Madrid foi seguida por uma greve dos sindicalistas operários, em 1979, que terminou com uma batida policial do governo aos escritórios do ABC. O jornal fechou, e quando Félix e Blancornelas abriram seu novo jornal, o Zeta, e ditaram-no na fronteira americana, em San Diego. A nova coluna de Félix se tornou a seção mais popular do jornal semanal. A coluna, amplamente lida, fornecia aos líderes civis de Tijuana a exposição que não poderiam obter em nenhum outro lugar. Quando Jorge Hank Rhon, filho de um dos homens mais ricos e poderosos do México, se mudou para Tijuana para tomar conta dos negócios da família no local, tentou se tornar amigo do popular colunista. Os dois homens se aproximaram, e Félix escrevia freqüentemente artigos elogiosos sobre seu novo amigo. Entretanto, alguns meses antes de sua morte, Félix começou a atacar Hank em "Um Poco de Algo". Amigos dizem que os ataques começaram depois de uma briga pessoal entre os dois. Depois do assassinato de Félix, Hank negou qualquer envolvimento no crime e disse que sentia apenas tristeza pela perda do amigo. O assassinato de Félix causou uma reação imediata e apaixonada na mídia local, nacional e internacional, nos leitores da coluna do "El Gato", na comunidade de comerciantes de Tijuana e em Baja Califórnia , assim como nos políticos em nível local, estadual e nacional. A voz de revolta mais alta veio dos colegas de Félix, da mídia de Tijuana, que ra ramente se une. Em um artigo que foi publicado três dias após o assassinato, o repórter do San Diego Union-Tribune, Joe Gandelman, citou Ricardo Gibert Herrera, fundador do jornal Baja Califórnia , em texto que dizia: "Nos meus 47 anos em Tijuana, nunca vi todos os meios de comunicação unidos assim, ou mesmo a classe média ou mais baixa reagirem dessa forma". As associações locais de jornalistas declararam que iriam suspender o reconhecimento do Dia da Liberdade de Imprensa, 7 de junho. Jornalistas locais acreditavam que Félix havia sido assassinado a mando de um dos alvos mais poderosos de sua coluna provocadora. Sua aguçada sátira havia atingido todos, de políticos nacionais influentes, líderes comerciantes locais, a policiais e colegas jornalistas. Jesús Blancornelas, co-editor sobrevivente do Zeta, publicou um artigo na primeira edição após o assassinato, com uma lista de doze suspeitos que ia do presidente do país ao gove rnador do Estado e ao infuente comerciante de Ti j u a n a , Jorge Hank Rhon, e outras figuras locais importantes. Blancornelas disse que havia tirado os nomes da lista das colunas de "El Gat o " dos meses anteriores. No dia seguinte ao assassinato, jornalistas locais fizer-am um protesto e caminharam por 14 quarteirões nas ruas de Tijuana. A marcha reuniu 4.000 pessoas, e seria seguida por demonstrações em Tijuana, Ensenada e Tecate. Essa reação transformou-se rapidamente em pressão sobre o governo do Estado e a polícia para leva rem os assassinos à Justiça. Os manifestantes tinham placas com dize res do tipo: "Senhor Governador, quem matou El Gato Félix?" e "Não vamos votar se não houver justiça". O governador Xicotencatt Leyva Mortera ofereceu uma recompensa de 100.000 pesos, equivalentes a US$ 43.000, segundo os jornais. As organizações de imprensa internacionais em San Diego também ofere ceram recompensa em dinheiro . A procura dos assassinos tornou-se imediatamente uma questão eleitoral e influenciou eleitores e candidatos na campanha presidencial de julho daquele ano e depois na votação para governador de Baja California. Enquanto multidões se aglomeravam do lado de fora da funerária, o prefeito de Ensenada, Ernesto Ruffo Appel, prometia, de cima de uma caminhonete, que iria fazer tudo que estivesse a seu alcance para levar os assassinos à justiça. Dois dias após o assassinato, o partido de Ruffo, o Partido de Ação Nacional (PAN), colocou anúncios nos jornais de Tijuana pedindo a seus adversários do PRI no poder "el pronto y total esclarecimiento de este nuevo atentado a la libertad de expresión" (um esclarecimento rápido e completo desse novo atentado à liberdade de expressão). Apoiado pelo menos em Tijuana por sua promessa de solucionar o assassinato, Ruffo se tornaria o primeiro governador não-PRI desde o início do domínio do PRI na política do México. A conexão do caso Félix com a política aumentou as pressões sobre o promotor público do Estado e a polícia estadual em Tijuana. Repórteres da mídia local, estadual, nacional e internacional iniciaram suas próprias investigações, e insistiram com o diretor de polícia, Gustavo Romero Meza, para que conseguissem mais detalhes. "Por mi madre que está a muchos metros bajo tierra, que les voy a presentar al asesino do El Gato" (Por minha mãe, que está a muitos metros, embaixo da terra, juro que vou lhes trazer o assassino do "El Gato"), foi a frase de Romero Meza publicada um dia depois do crime no jornal local El Heraldo.
A INVESTIGAÇÃO
A polícia de Tijuana começou sem nenhuma pista. Iniciou sua investigação batendo nas portas do bairro onde "El Gato" havia sido assassinado, conta Jaime Sam Fierro, na época o detetive chefe de homicídios e agora aposentado. "A primeira coisa que fizemos foi investigar dentro de um raio de 300 metros da cena do crime. Fomos de casa em casa. Os primeiros dias foram infrutíferos", disse Fierro. "Finalmente, encontramos uma pessoa que disse que havia visto um Trans-Am. Começamos daí".
O responsável pela investigação, o chefe de polícia Romero Meza, disse que dois adultos e um menino haviam visto o carro. Os adultos foram molhados pelo Trans-Am quando este passou por uma grande poça dágua. Nenhum dos três viu o motorista ou o outro passageiro. Duas outras testemunhas os viram. Eram empregados que trabalhavam na própria casa de Romero quando o Trans-Am dobrou a esquina, a três quarteirões da cena do crime. Essas duas testemunhas identificariam mais tarde os dois suspeitos como os homens que tinham visto no carro.
Os investigadores encontraram pessoas que haviam visto um Trans-Am preto em outros lugares próximos ao local, e a pista levou a Victoriano Medina Moreno, um ex-policial estadual judicial que trabalhava como guarda de segurança para o hipódromo Agua Caliente. A polícia encontrou o Trans-Am preto de Medina em uma garagem do hipódromo. "Nós o investigamos, o detivemos, e ele confessou", disse Sam Fierro. "Perguntamos sobre seu motivo e ele disse que quando era diretor da delegacia tinha sido alvo de ataques na coluna do jornal e que por isso o havia matado". Relatos dos jornais também dizem que Medina também queria silenciar as críticas do jornalista a seu patrão no hipódromo, Jorge Hank Rhon, um membro de uma das famílias mais poderosas do México. Medina afirmou igualmente que queria vingar ataques em "Um Pouco de Algo" que haviam custado o emprego de um outro colega , um promotor estadual.
A polícia e os jornalistas do Zeta haviam iniciado a busca dos suspeitos lendo as colunas mais recentes de Félix para econtrar nomes de seus alvos favoritos. O nome de Jorge Hank Rhon surgiu como o de uma pessoa que Félix havia atacado com maior freqüência e com sarcasmo mais provocador. Félix fez vagas re ferências a cocaína e revelou detalhes embaraçosos sobre as famosas e loucas festas de Hank. Também ironizou o melhor amigo de Hank, Alberto Murguia. As críticas a Hank em "Un Poco de Algo" começaram após um rompimento brusco do que havia sido uma amizade íntima entre Félix e Hank, segundo colegas e amigos do jornalista.
Apesar de Medina ter dito que as colunas de Félix eram a razão do assassinat o , a única outra pessoa que ele implicava em sua decl a ração à polícia era alguém que nunca havia sido mencionado em "Um Poco de Algo", o chefe de segurança do hipódromo, Antonio Vera Palestina. Vera Palestina havia trabalhado para o influente pai de Hank Rhon, Carlos Hank González, durante 12 anos antes de 1985. Hank González era um ex-prefeito da Cidade do México e era ministro da Agricultura na época da investigação. Após trabalhar para Hank, o pai, Vera se mudou para Tijuana quando o jovem Hank foi para lá assumir a gerência do hipódromo, do qual o pai era acionista controlador. Medina foi levado a julgamento pelo governo de Levya Mortera, mas Vera Palestina escapou da polícia.
Imediatamente após a prisão de Medina, Hank Rhon deu uma conferência à imprensa, em 1º de maio de 1988. Disse que não havia pago Medina ou nenhuma outra pessoa para matar Félix. Ofe receu-se para cooperar com a polícia, convidando os policiais ao hipódromo e dizendo que não tinha nada a esconder. Apesar de rumores de que Vera estava se escondendo no prédio do hipódromo, a polícia só obteve um mandado de busca e apreensão alguns dias depois. Quando a polícia ch egou para vasculhar as instalações do hipódromo, havia rumores de que Vera havia abandonado a região. Quando os investigadores da polícia finalmente vasculharam o escritório do hipódromo, em 3 de maio, a charam pouca coisa. Uma arma mostrada por Medina acabou não sendo a arma do crime. No escritório de Vera, os investigadores encontraram duas metralhadoras, dois fuzis AK-47, uma escopeta, uma arma de calibre .22 mm e meia dúzia de outros tipos de armas de fogo .
A polícia afi rmou incisivamente que Hank não era um suspeito e que não havia sido interrogado formalmente. Um guarda de segurança disse à polícia que Medina tinha retirado um vale no valor de US$ 10.000 em pesos no dia do crime. A explicação do hipódromo era de que o dinheiro seria usado para pagar o pessoal da segurança. Os investigadores abandonaram o assunto, apesar de nenhuma confirmação satisfatória do depoimento ter sido buscada ou encontrada em relação ao dinheiro.
Entre os promotores, jornalistas e outros com acesso a detalhes sobre a investigação, pelo menos duas pessoas disseram que Romero Meza havia dito que continuaria a investigação até encontrar o autor intelectual do crime. Disseram que ele afirmou estar investigando a conexão dos assassinos com Hank Rhon, e então subitamente a bandonou o assunto e declarou que a investigação estava encerrada. Romero Meza disse, oito anos após o crime, que os ataques da imprensa à sua investigação o deixaram irritado. Disse que nunca havia suspeitado de Hank Rhon, apesar de pensar que Carlos Salinas de Gortari, na época candidato à presidência, pudesse estar envolvido. Romero Meza disse que recebeu do governador Leyva Mortera uma recompensa no valor de 100.000 pesos em reconhecimento ao desempenho satisfatório de suas funções no caso.
Tanto o investigador de homicídios, Sam Fierro, quanto a chefe da promotoria estadual em Tijuana na época, Josefina Fregoso de Ezkauriatza, disseram que a única indicação disponível na época da investigação e julga mento do autor intelectual do crime veio da confissão de Medina, na qual ele afirm ava ser um dos que conceberam, planejaram e executaram o crime. A investigação inicial da polícia foi efetivamente encerrada com a identificação de Medina e de Vera como os suspeitos, sem haver nenhuma pesquisa sobre a possibilidade de outra pessoa ter contratado os assassinos. Como Medina disse que tinha suas próprias razões para o crime, a polícia não realizou investigações para identificar ou confirmar quaisquer outros suspeitos. "Se ele estava dizendo que foi ele e que ninguém o mandou fazê-lo, tínhamos que basear o caso nisso", declarou Sam Fierro.
Sam Fierro disse que devido a questões que surgiram após a investigaçãoespecificamente o acúmulo de evidência de uma ligação financeira entre o hipódromo e Vera após o crime o caso não poderia ser considerado completamente solucionado. Entre tanto, disse, para ir além seria necessário uma investigação totalmente nova, porque os investigadores originais não fizeram nenhuma tentativa para saber se outras pessoas estavam envolvidas no planejamento do assassinato de Félix. Fregoso de Ezkauriatza declarou que não podia dizer se a investigação na qual o caso de seu departamento se baseava era inadequada, porque nenhum advogado trabalhando com ela tinha envolvimento direto na execução da investigação que haviam ordenado à polícia. Disse que acreditava que seu departamento houvesse pedido uma nova investigação, mas que esta não havia sido realizada antes de o próximo governador do Estado tomar posse. Os registros do tribunal não fazem menção a nenhuma evidência sendo usada para uma nova investigação. Esta nunca foi feita. "O ideal teria sido que tivéssemos nos envolvido diretamente no modo como a investigação policial estava sendo feita, mas isso não aconteceu nesse caso, ou em nenhum outro caso na época. Eu sempre achei que isso devia ser modificado, mas não tinha poder para fazê-lo", disse.
O PRIMEIRO JULGAMENTO
Medina acusou a polícia de ter conseguido sua confissão com o uso de agressões quando foi preso, dez dias após o assassinato. A confissão o condenou. Na prisão de Tijuana onde estava preso, oito anos depois, ele repetiu a acusação de que suas primeiras declarações haviam sido feitas sob coação. Disse que era inocente, e que não tinha razão alguma para matar Félix. Buscas de jornalistas e da polícia nunca encontra ram nenhuma menção a Medina em "Un Poco de Algo", apesar de a polícia relatar que seu suspeito havia dito que queria Félix morto devido a ataques no jornal. "O jornalista nunca escreveu nada sobre mim", Medina disse em uma rápida entrevista na prisão de Tijuana, oito anos após o crime.
Depoimentos que associavam Medina ao assassinato incluíam o de empregados de Romero Meza que viram o Trans-Am passando devagar, dobrando a esquina em frente à casa do chefe de polícia pouco depois dos ruídos dos dois disparos serem ouvidos nas redondezas. As testemunhas dizem que notaram que o Trans-Am era barulhento, e que tinha o cano de descarga rebaixado. Um guarda de segurança do hipódromo também relatou que Medina o havia enviado para pôr o cano de descarga no lugar em seu Trans-Am preto no dia do assassinato. Medina foi condenado e sentenciado a 27 anos de cadeia.
O SEGUNDO JULGAMENTO
Muitos observadores creditaram a insatisfação com o partido dominante mexicano, o PRI (Partido Revolucionário Institucional), especialmente em relação ao número de criminosos poderosos levados à Justiça, pela perda do posto de governador em Baja California na eleição que se seguiu ao assassinato de Félix. Ruffo, prefeito de Ensenada na época do assassinato , tornou-se o primeiro governador não-PRI em mais de 60 anos. Durante a campanha, ele havia prometido repetidamente encontrar e levar a julgamento as pessoas envolvidas no assassinato do jornalista. Disse que nunca precisou mencionar o caso. Jornalistas e cidadãos falavam sobre ele em todos os locais de campanha, por ser intenso o interesse, em Baja California, em conseguir justiça para o caso Félix.
Uma vez no poder, os promotores de Ruffo, recentemente nomeados, e uma nova equipe nomeada de investigadores da polícia, decidiram prender Vera. Apesar de as primeiras informações da polícia indicarem que Vera estivera se escondendo na fazenda de Hank González, mais tarde descobriu-se que ele havia ido para os Estados Unidos e que morava em Los Angeles. O foco da polícia e dos promotores foi a captura e julgamento de Vera.
O governador Ruffo nomeou dois investigadores policiais experientes para chefiar os esforços de sua administração. "Logo, algumas pequenas evidências surgiram relacionadas à pista de corrida", disse Ruffo em fevereiro de 1996, dias após anunciar sua candidatura para a liderança nacional do Partido de Ação Nacional. "Continuá vamos encontrando evidências sobre Vera, o chefe da guarda de Hank Rhon. Chegamos à amante de Vera. Logo descobrimos que essa mulher estava levando quantias mensais ao hipódromo para esse cara , em Los Angeles. Quando nos certificamos da informação, fomos atrás dela". Quando localizaram Vera, a polícia de Baja California e os agentes de imigração americanos trabalharam juntos para trazê-lo de volta ao México para julgamento. Vera foi preso quando entrava em um ônibus. Como portava documentação americana ilegal, foi extraditado. As autoridades de Baja California, que o esperavam na fronteira, acusaram-no do assassinato de Félix.
Vera foi condenado e sentenciado a 25 anos de cadeia. "A principal evidência que nos permitiu condenar Vera foi aversão, ou as declarações, de Medina. Desde o momento de sua prisão, Medina admitiu que havia causado a morte de Félix, e que estava acompanhado por Vera", disse Miguel Angel Barud Martínez, que foi o juiz do julgamento de Vera.
Barud disse que esse depoimento inicial foi importante no caso Vera apesar de mais tarde Medina dizer que a confissão tinha sido conseguida sob coação. Apesar da retratação de Medina, a entrevista na qual ele confessou foi considerada importante no julgamento de Vera, principalmente devido a outras evidências que a corroboravam. Duas testemunhas viram Vera no Trans-Am de Medina enquanto este passava pela cena do crime imediatamente após os disparos, disse Barud. Segundo o ex-chefe de polícia Romero Meza, essas testemunhas eram empregados do próprio chefe de polícia que estavam trabalhando do lado de fora da casa naquela manhã. Outra evidência importante, segundo Barud, e que sustentava o caso da polícia, contra Medina e Vera, era uma entrevista gravada com a mulher de Vera, na qual ela confirmava as suspeitas sobre os dois homens e sugeria que um terceiro homemeo administrador do hipódromo estavam envolvidos.
A administração Ruffo (1989-1995) terminou sem nenhum progresso no caso. Promotores e a polícia não foram capazes de associar as transferências de dinheiro do hipódromo ao assassinato. Membros da administração suspeitaram que Hank Rhon estivesse envolvido, mas não possuíam evidência concreta. "Meus promotores sentiram que podíamos tentar conseguir uma ordem de prisão, mas o caso era leve", disse Ruffo. "Tem sido difícil provar que alguém planejou, ou que alguém deu ordens para assassinar El Gato".
Um promotor estadual que trabalhou para o governo durante o governo de Ruffo disse que nunca houve suficiente evidência para que se pudesse processar outras pessoas além de Medina e Vera. "Nenhuma evidência séria, disse, sustentava a opinião comum de que alguém havia contratado os assassinos para o crime.
é fato que as pessoas afirmam isso, mas isso não faz com que seja fato, disse Víctor Vásquez. " Topamos com uma parede. Chegamos a um ponto onde não podíamos ir além porque não havia prova". O problema, se é que havia, estava no início. A falta de evidência provinha da decisão da polícia de não investigar outras pessoas a não ser Vera e Medina. Antes de condenar Vera, o juiz Barud examinou os registros contábeis do hipódromo em uma tentativa malsucedida de determinar se os US$10.000 retirados por Vera no dia do assassinato tinham sido de fato utilizados para o pagamento dos guardas de segurança. Ele foi a primeira pessoa envolvida no caso a se dar ao trabalho de examinar os livros de contabilidade do hipódromo para determinar a natureza dos pagamentos feitos aos assassinos. Foi incapaz de chegar a alguma conclusão definitiva.
A opinião dominante nas comunidades legais, políticas e jornalísticas de Tijuana, é de que alguém, que não Medina e Vera, planejou ou ordenou o assassinato de Félix. "Não sinto que ch egamos ao final do caso, e isso não foi porque eu não quis", disse Barud. "Tive, sinceramente, toda a intenção de ir às últimas conseqüências do caso, mas me encontrei diante de limites legais e práticos". A limitada dimensão da investigação criminal, que foi essencialmente encerrada quando Medina disse aos investigadores que era culpado, é a razão mais freqüentemente citada para que a sindicância nunca tenha chegado à pessoa responsável, ao autor intelectual do crime. Ironicamente, essa mesma investigação foi inicialmente elogiada pelas associações jornalísticas locais e resultou na recompensa de 100.000 pesos dada ao ch e fe de polícia Romero Meza pelo governador Levya Mortera.
Blancornelas, co-diretor do Zeta, disse que a vontade política da administração de Ruffo de solucionar o caso diluiu-se após a condenação de Vera. Um esforço conjunto de rastrear o fugitivo foi transformado, após o julgamento, em uma mistura vaga de acusações veladas e promessas de manter a busca da Justiça. Como único governador não-PRI do país, Ruffo tinha um relacionamento no mínimo desconfortável com as autoridades federais. Durante sua administração, as polícias estaduais e federais
estiveram envolvidas em uma disputa na qual cada uma acusava a outra de fo rnecer proteção a influentes traficantes de drogas. "Circularam rumores entre os jornalistas de que a vida de Ruffo estava em perigo. Continuamos mantendo e publicamos nossa opinião de que a vontade política do governo de Ruffo desapareceu quando prenderam o autor material do crime", disse Blancornelas. "Depois desse ponto eles ficaram com medo. O governo tinha medo do Hank González e de Hank Rhon, é simples assim."
SITUAÇÃO ATUAL DO CASO
Em fevereiro de 1996, o principal promotor de Baja California em Tijuana, Jesus Alberto Osuna Lafarga, disse que o assassinato de Félix era considerado um caso aberto. Mas os promotores não podiam fazer nada até que a polícia lhes trouxesse novas informações. O chefe da polícia de Tijuana, o capitão Antonio Torres Miranda, disse que não trabalharia pessoalmente no caso. "Judicialmente, o caso foi encerrado contra as pessoas nomeadas na investigação original. Precisaríamos de uma ordem do promotor para iniciar a investigação, e então teríamos que começar novamente, do começo", disse Torres. "Sem uma declaração dos homens que foram condenados, não temos nada que nos guie em uma investigação posterior".
O Zeta publica todas as semanas uma página com o título "Un Poco de Algo", perguntando a Hank Rhon por que seu guarda-costas matou "El Gato". Outra frase, dirigida ao atual governador Héctor Terán Terán, pergunta se o atual governo de Baja California irá descobrir quem foi o autor intelectual do crime. O governador se negou a conceder uma entrevista para a investigação da SIP, e não respondeu às perguntas escritas enviadas a seu escritório. "Moralmente, e como jornalistas, estamos fazendo pressão, mas não somos o acusador oficial, disse Blancornelas. O que podemos fazer, e o que temos feito, é uma investigação jornalística.
tão simples. Os carros pertenciam ao hipódromo. Os assassinos foram do local do crime para o hipódromo. As armas usadas pertenciam . Os assassinos trabalhavam para o dono do hipódromo. Se alguém tem os pés de pato, cabeça de pato, e faz ruídos como um pato, é um pato."
Hank Rhon se negou a ser entrevistado para este relatório. Seu porta-voz, Francisco Ramirez Guerrero, também trabalha como diretor do El Heraldo, o jornal diário de propriedade da companhia de pistas de corrida. Ramírez disse que apenas o Zeta mantém a teoria de que Hank Rhon tinha relações com o crime. Ramirez disse que na época de sua morte Félix estava planejando deixar o Zeta e estava envolvido em questões sérias sobre dinheiro com seus colegas no jornal. O Sr. Hank Rhon foi chamado a testemunhar, e continua vivendo em Tijuana. Nunca se escondeu das autoridades, disse Ramírez. As duas pessoas condenadas foram as responsáveis pelos crimes.
O encerramento do caso judicial apresentado na investigação policial original pareceu satisfazer alguns membros da imprensa local que originalmente expressaram revolta e exigiram justiça. Com exceção do Zeta, a atenção da imprensa nacional e local enfoca o caso apenas ocasionalmente e parenteticamente sempre que surge uma ocasião para escrever sobre o pitoresco e controvertido Hank Rhon. Só então os artigos mencionam a crença de que o homem responsável pelo assassinato de Félix continua em liberdade, e que muitas pessoas suspeitam que Hank estava envolvido porque os dois homens condenados pelos crimes trabalhavam para ele. O jornal El Heraldo foi comprado pela companhia de pistas de corrida nos anos que se seguiram ao assassinato. El Heraldo foi um dos jornais mais agressivos nas reportagens sobre o crime e na exigência de justiça. Um jornalista do El Heraldo é hoje o presidente da principal associação local de jornalistas.
Um amigo íntimo de Félix, o jornalista Oscar Genel, disse que havia acompanhado a diminuição do interesse dos jornalistas a cada ano na cerimônia de aniversário do assassinato. "No primeiro aniversário várias pessoas se reuniram no local do crime, entre elas representantes dos grupos jornalísticos e outros. A cada ano menos pessoas comparecem. Imagino que este ano estejam lá apenas as que o conheceram", disse Genel. "Como é possível que matem um de nós e o resto fique em silêncio?"
CRONOLOGIA: HÉCTOR FÉLIX MIRANDA
20 de abril de 1988:
Héctor "El Gato" Félix Miranda é assassinado em seu carro a caminho do trabalho. Os assassinos lhe dão dois tiros à queima-roupa.
21 de abril:
Jornalistas e outras pessoas protestam em Tijuana, exigindo justiça. A SIP, juntamente com outras associações profissionais, exige justiça em comunicado enviado ao governador de Baja Califórnia, Miguel de la Madrid.
30 de abril:
A polícia prende Victoriano Medina Moreno e o acusa de assassinato. Medina confessa e implica seu chefe do escritório de segurança do hipódromo Agua Caliente, Antonio Vera Palestina, no crime. Medina é condenado no ano seguinte.
1º de maio de 1989:
Jorge Hank Rhon, o principal dono e administrador do hipódromo, dá uma entrevista coletiva para negar seu envolvimento no assassinato. A polícia declara que Hank Rhon não é suspeito.
3 de maio:
A polícia dá uma busca no hipódromo e encontra algumas evidências.
2 de maio de 1990:
Vera é preso pelas autoridades mexicanas após passar dois anos como fugitivo.
28 de março de 1991:
Vera é condenado e sentenciado a 25 anos de prisão. Como a polícia nunca identificou ninguém ou suspeitou de nenhuma outra pessoa como mentora ou financiadora do crime, o caso foi considerado solucionado. Apesar de os promotores declararem que o caso ainda está aberto, nunca pediram uma investigação sobre o envolvimento de outra pessoa que não Medina e Vera.