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O país voltou aos termos aos quais se encontrava antes do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (de 2019 a 2022), após um período de radicalizada violência a jornalistas e veículos de comunicação em meio a atos antidemocráticos com ápice em 8 de janeiro de 2023, quando milhares de radicais invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.

No entanto, persistem no país práticas de desqualificação da imprensa, sobretudo a tática de intimidação via redes sociais ou outras plataformas contra os profissionais, em particular as mulheres.

Em 4 de outubro, foi invadida a conta pessoal da jornalista Andreza Matais, diretora da Sucursal de O Estado de S.Paulo em Brasília, no site governamental gov.br, que reúne serviços para o cidadão e dados pessoais dos usuários, incluindo a declaração do Imposto de Renda. A conta foi invadida e a jornalista, ameaçada de ter seus dados pessoais revelados depois de notícias produzidas pela sucursal sobre o governo federal e que geraram uma série de ataques contra a profissional e o jornal.

A ofensiva hacker ocorreu após o jornal publicar reportagem em que mostra como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atuou para liberar empréstimo e interferir na eleição da Argentina, segundo informação revelada pela colunista do diário paulista Vera Rosa. Nas redes sociais, Andreza também passou a ser alvo de ataques após compartilhar a reportagem em seu perfil no X.

Os casos de agressão física revelam despreparo e autoritarismo por parte de governos, policiais e pessoas de atuação pública.

Em 30 de maio jornalistas que cobriam a reunião de líderes sul-americanos em Brasília foram agredidos por militares do Batalhão do Exército requisitados pelo Itamaraty, durante entrevista coletiva do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Quando os jornalistas tentaram se aproximar de Maduro para fazer as perguntas, os militares reagiram com violência. A repórter da TV Globo, Delis Ortiz, foi agredida com um soco no peito. O repórter de O Globo, Sergio Roxo, foi arrastado pela roupa e depois imobilizado; as repórteres Sofia Aguiar (Agência Estado) e Nathália Pase (BandNews) foram empurradas, assim como um jornalista venezuelano.

Em 3 de abril, o jornalista do Portal Cic7 Notícias, Vitor de Paula, foi agredido pelo coordenador de segurança pública da Prefeitura de Araruama, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, Marcos André Costa, ao denunciar a demora enfrentada pelos pacientes que buscavam atendimento na UPA da cidade. O jornalista foi atacado e seu equipamento de filmagem foi destruído pela polícia.

Em outro caso, um agente da Polícia Militar de São Paulo apontou um fuzil e intimidou a jornalista Danielle Zampollo, do Profissão Repórter, da TV Globo, informou a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O programa exibido no dia 15 de agosto tinha como tema a letalidade em ações policiais no Brasil, como a Operação Escudo, realizada no fim de julho em São Paulo, e que até o momento sabe-se que resultou na morte de 20 pessoas. Segundo autoridades, todas foram mortas por policiais ao "reagirem às abordagens".

Em 2 de junho, o repórter e diretor do portal de notícias de Nova Andradina (MS), Sandro Almeida de Araújo, foi perseguido e agredido por quatro policiais da cidade sul mato-grossense. A perseguição ao carro de Araújo começou no meio da rua e terminou ao chegar em casa, quando foi imobilizado pelos agressores. Os policiais fizeram uma revista ao carro do jornalista e chegaram a exigir que o repórter revelasse suas fontes, sem sucesso. Araújo é conhecido por sua cobertura jornalística das deficiências da segurança pública.

Em agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que veículos de comunicação podem ser responsabilizados por injúrias, difamações ou calúnias proferidas por um entrevistado. A decisão tomada se refere ao julgamento do Recurso Extraordinário (RE 1075412) da denúncia do ex-deputado federal Ricardo Zarattini, já falecido, contra o Diário de Pernambuco. Apesar de ter condenado o jornal, o Supremo não conseguiu firmar uma tese que se aplique aos outros casos, em razão de divergências entre os ministros. A previsão agora é de que haja um novo julgamento, sem data prevista, para que os integrantes da corte entrem em consenso ou cheguem a uma maioria a respeito de uma tese relacionada ao tema. Para a ANJ a decisão é um retrocesso que abre um precedente muito perigoso de punir o mensageiro por declarações de terceiros.

A ANJ também acompanha de perto o julgamento da Reclamação Constitucional 23.899, ajuizada pelo jornal Gazeta do Povo, do Paraná, e jornalistas que foram alvo de um dos episódios mais tenebrosos de assédio judicial no país. Após a publicação de matérias a respeito da remuneração de magistrados, promotores e procuradores de Justiça do Estado do Paraná, o veículo e seus profissionais foram alvo de dezenas de processos espalhados em Juizados Especiais Cíveis paranaenses, ajuizados por magistrados e promotores, o que praticamente inviabilizava sua defesa.

Também começaram a ser julgadas virtualmente, no STF, duas ações diretas de inconstitucionalidade: a ADI 7055, ajuizada pela Abraji, e a ADI 6792, proposta pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). As ADIs buscam que o STF dê interpretação conforme à Constituição Federal a dispositivos do Código Civil, do Código de Processo Civil e da Lei dos Juizados Especiais, de modo a diminuir os danos causados pelo assédio judicial contra a imprensa.

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