Miami (10 de janeiro de 2025) -- A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) condena veementemente o desaparecimento forçado e subsequente detenção arbitrária dos jornalistas venezuelanos Carlos Marcano, Nakary Mena Ramos e seu marido, o cinegrafista Gianni González, que foram privados de liberdade por exercerem seu trabalho informativo em um contexto de crescente repressão contra a imprensa independente na Venezuela.
Carlos Marcano, jornalista, professor universitário e colaborador de organizações civis, foi detido em 23 de maio de 2025 após uma operação de busca sem ordem judicial em sua residência em Caracas, conforme relatado pela imprensa.
Seu paradeiro foi desconhecido por 13 dias. Embora posteriormente tenha sido revelado que ele foi transferido para o presídio de Tocuyito, seus familiares denunciaram em 7 de junho que ele ainda está desaparecido. O Instituto de Imprensa e Sociedade da Venezuela (IPYS Venezuela) e outras organizações nacionais e internacionais denunciaram sua detenção como uma grave violação dos direitos humanos.
Marcano, de 30 anos, foi publicamente acusado pelo ministro das Relações Interiores, Justiça e Paz, Diosdado Cabello, durante seu programa de televisão "Con el mazo dando", onde foi associado a um suposto plano para gerar violência durante as eleições regionais e legislativas de 25 de maio. No programa, Cabello mostrou uma fotografia do comunicador e o acusou sem qualquer acusação formal ou processo judicial prévio.
A jornalista Nakary Mena Ramos foi detida em 8 de abril de 2025 junto com seu marido, o cinegrafista Gianni González, após publicar uma reportagem sobre criminalidade em Caracas, conforme relatado pela organização de direitos humanos Espacio Público.
Eles ficaram desaparecidos por mais de 48 horas. Depois foram acusados de "incitação ao ódio" e "publicação de informações falsas". Mena foi enviada ao Instituto Nacional de Orientação Feminina (INOF) e seu marido ao El Rodeo II.
A reportagem de Mena incluía testemunhos de cidadãos que descreviam um aumento na insegurança em áreas populares de Caracas, contrastando com a narrativa oficial. Após a divulgação da reportagem, o portal Impacto Venezuela a removeu de suas plataformas, aumentando ainda mais a preocupação sobre possíveis pressões diretas ou indiretas por parte do Estado.
Diversas organizações, como o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP), destacaram que as acusações contra Mena e seu marido carecem de sustento legal e buscam criminalizar o trabalho jornalístico. A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos reiterou que as acusações penais utilizadas neste caso não estão em conformidade com os padrões internacionais e são incompatíveis com o direito à liberdade de expressão.
"A criminalização do jornalismo crítico e o uso de acusações vagas como incitação ao ódio fazem parte de um padrão sistemático de perseguição contra aqueles que informam de forma independente", afirmou o presidente da SIP, José Roberto Dutriz, CEO e diretor geral da La Prensa Gráfica. "Exigimos a libertação imediata de Carlos Marcano, Nakary Mena Ramos e Gianni González, e que seus direitos fundamentais sejam respeitados".
Martha Ramos, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, afirmou: "Estes casos mostram como a justiça é utilizada como instrumento de censura. A Venezuela deve cessar essas práticas repressivas e cumprir com os padrões internacionais em matéria de liberdade de expressão e devido processo".
O Colégio de Jornalistas da Venezuela registrou 16 jornalistas e repórteres detidos desde as eleições presidenciais de 28 de julho de 2024.
O Índice de Chapultepec 2024 da SIP relatou na Venezuela "uma ampla performance de arbitrariedades estatais contra a expressão cidadã, e um funcionamento da imprensa limitado por fechamentos, medidas administrativas e jornalistas detidos por motivos políticos". O país ficou em 21º lugar entre 22 países analisados no estudo sobre o comportamento das liberdades de expressão e de imprensa.
A SIP é uma organização sem fins lucrativos dedicada a defender e promover a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão nas Américas. É composta por mais de 1.300 publicações no Hemisfério Ocidental e tem sede em Miami, Flórida, Estados Unidos.