SIP demonstra preocupação com número
excessivo de ações judiciais contra jornais brasileiros
Miami (20 de fevereiro de 2008) A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) demonstrou preocupação com uma série de ações judiciais contra a imprensa brasileira, levantando a possibilidade de que estejam fazendo com que a imprensa se autocensure e deixe de fazer várias investigações. Ao mesmo tempo, solicitou publicamente que a justiça coloque a liberdade de imprensa e o direito do povo de receber informações acima de qualquer interesse particular.
Membros da Igreja Universal do Reino de Deus em diversas pequenas cidades brasileiras moveram cerca de 100 ações judiciais por difamação, redigidas com o mesmo vocabulário, contra três jornalistas e seus empregadores, os jornais Folha de S.Paulo; A Tarde, de Salvador, e Extra, do Rio de Janeiro.
O presidente da SIP, Earl Maucker, disse que para além do respeito que devemos ter pelo direito de cada cidadão de recorrer à justiça quando se sente ofendido por uma publicação, nesse caso concreto, e considerando-se o contexto, suspeitamos seriamente de que se trata de uma manobra cujo objetivo é intimidar e restringir a liberdade de expressão.
Gonzalo Marroquín, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, disse que estamos diante de um fato inédito, uma tentativa sem precedentes de forçar os jornais a ter gastos financeiros e investimento de tempo extraordinários para que possam se defender; o que eles realmente querem é comprar o seu silêncio.
Maucker, diretor e vice-presidente sênior do Sun-Sentinel, de Fort Lauderdale, Flórida, e Marroquín, diretor do jornal guatemalteco Prensa Libre, pediram publicamente à justiça brasileira que considere o contexto da situação e priorize a liberdade de imprensa e o direito do povo de receber informações, colocando-o acima de qualquer interesse particular ou de grupo.
O jornal Folha de São Paulo e a jornalista Elvira Lobato são alvo de 50 processos por danos morais, depois de publicarem, em 15 de dezembro passado, uma reportagem intitulada Igreja Universal chega aos 30 anos com império empresarial, referindo-se às propriedades e negócios milionários obtidos por esse grupo religioso em suas três décadas de existência.
Outros 36 processos que buscam indenização por danos morais foram movidos em dezenas de cidades contra o jornal A Tarde, de Salvador, e seu repórter Valmar Hupsel Filho, depois da publicação, em 3 de dezembro passado, de uma reportagem sobre a destruição de uma imagem católica por um membro da Igreja Universal do Reino de Deus.
Outra reportagem feita sobre esse incidente pelo jornal Extra, membro do grupo Globo, no Rio de Janeiro, provocou cinco ações judiciais movidas por pastores dessa igreja evangélica contra o jornal e seu diretor de redação, Bruno Thys.