30 Outubro 2012
Castaño é condenado por assassinar Garzón
Carlos Castaño Segundo o juiz do sétimo juizado especializado de Bogotá, que emitiu a sentença, Carlos Castaño declarou que o humorista Jaime Garzón era alvo militar e ordenou sua morte. Bochas e Toño são absolvidos. Colprensa Bogotá. O chefe político das Autodefesas Unidas da Colômbia, AUC, Carlos Castaño Gil, foi condenado a 38 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de $790 milhões depois de ser considerado culpado como co-autor do assassinato do jornalista e humorista Jaime Garzón. A sentença foi emitida ontem pelo juiz do sétimo juizado especializado de Bogotá, Julio Roberto Ballén Silva.
"O assassinato de Jaime Garzón teve uma finalidade terrorista. Seu objetivo foi ensinar uma lição, infundir o terror e levar uma clara mensagem aos intermediários e familiares dos seqüestrados, a de que tentar negociar com eles é uma atitude inaceitável, disse Ballén Silva, ao emitir a condenação.
O juiz considerou que durante o processo foi possível constatar que o líder das AUC declarou Garzón como alvo militar e ordenou sua morte.
No mesmo processo foram absolvidos Juan Pablo Ortiz Agudelo, conhecido como Bochas, e Edilberto Antonio Sierra Ayala, conhecido como Toño, os outros dois acusados como co-autores materiais no assassinato de Garzón, ocorrido às cinco e meia da madrugada de 13 de agosto de 1999 no bairro Quinta Paredes, em Bogotá.
O funcionário considerou que ambos estavam envolvidos nos fatos com testemunhos falsos, preparados com antecedência e com a nítida intenção de desviar a investigação.
Por isso, ordenou que as autoridades competentes investiguem a conduta dos agentes do Departamento Administrativo de Segurança, DAS, que fizeram a investigação, de quatro testemunhas que forneceram falsos testemunhos ao longo do processo, e a suposta participação de uma delas, identificada como Wilson Javier Llano Caballero, na morte de uma testemunha.
Em suas determinações finais, o juiz também solicitou à promotoria que prossiga separadamente e imediatamente à investigação para identificar e castigar os autores materiais e demais co-partícipes do assassinato do jornalista.
Decidiu também enviar cópias para a Suprema Corte de Justiça para que seja julgada a conduta da senadora Piedad Córdoba, que se negou a depor sem justificativa.
MORTE ANUNCIADA. "Esse caso é igual ao criado por Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel, na sua Crônica de uma morte anunciada. Jaime Gárzon sabia que iram matá-lo, comentou com familiares e conhecidos que sabia e não pôde fazer nada para evitar sua morte, afirmou o juiz Ballén em suas considerações, citando trechos da acusação da promotoria.
Segundo o processo, as partes constataram por meio de depoimentos e provas materiais que Garzón era um mediador na libertação de várias pessoas seqüestradas pela guerrilha, usando sua fama e posição profissional.
O juiz da causa considera que os verdadeiros autores materiais do crime estão foragidos. Acredita-se que seriam homens de confiança de Carlos Castaño. O trabalho gerou críticas contra ele, as quais aumentaram porque em vários casos ele agiu sem o conhecimento e aval do governo de Cundinamarca, disse o juiz.
A conduta do jornalista gerou suspeitas e surgiram rumores de que Garzón estava recebendo pagamento pelo seu trabalho. O processo revelou, entretanto, que ele agia apenas por motivos altruístas e humanitários.
Entretanto, Carlos Castaño declarou que ele era alvo militar depois de escutar gravações de algumas conversas suas com chefes guerrilheiros com os quais falava com bastante intimidade.
Garzón ignorou a ordem, mas o chefe paramilitar, ao se dar conta disso, o enganou e fez com que baixasse a guarda. O julgamento estabeleceu que ambos se comunicaram por meio de Angel Custodia Gaitán Mahecha, que estava preso na prisão Modelo de Bogotá por paramilitarismo, uma semana antes do homicídio. Castaño teria marcado uma entrevista com Garzón.
Mas esse encontro não ocorreu. Um dia antes do dia marcado para a entrevista, dois homens o assassinaram.
Uma testemunha excepcional
A indicação de Bochas e Toño foi uma armação para desviar a investigação e deixar impunes os verdadeiros autores materiais do crimes, disse o juiz.
María Amparo Arroyabe foi uma testemunha excepcional no assassinato de Jaime Garzón. Ajudou os agentes do DAS a quem revelou ter visto tudo de um apartamento no quarto andar de um prédio localizado a um quarteirão do lugar onde os fatos ocorreram. Descreveu os assassinos e conseguiu fazer um retrato falado deles. Reconheceu-os também em fotografias e na fila de identificação.
Segundo sua descrição, a pessoa que disparou teria cerca de 20 anos, usava calça comprida e um casaco preto, tinha cerca de 1,68 m de altura, rosto redondo, sobrancelhas cerradas, nariz reto, pele morena, e boca pequena com lábios finos. Descreveu também detalhadamente a motocicleta, uma 250 cm3, branca e vermelha. Descreveu até as botas de quem fez o disparo e disse que tinham marca Brahma, segundo consta no expediente do caso.
O juiz considerou essa versão inverossímil e afirmou que é absurda a opinião dos que aceitam a história da testemunha, que não tem nenhuma validade. Além disso, a testemunha desapareceu e comprovou-se, depois, que da janela em que disse ter estado não havia visibilidade para o local onde o assassinato ocorreu.