30 Outubro 2012
O assassinato ocorreu em uma área despovoada, entre o mar e a floresta. Ninguém ainda foi preso, nem suspeitos nem testemunhas.
Cinegrafista do Canal 8 de televisão a cabo Chetumal, Quintana Roo, México México, D. F. -- Cinco dias depois do assassinato do cinegrafista William Uicab Salas, as autoridades trabalham com duas hipóteses: a de que ele foi morto por um desconhecido após um assalto ou a de que o crime tenha sido passional.
William Uicab, cinegrafista do Canal 8 de televisão a cabo, foi fatalmente ferido em 17 de junho passado, quando conversava com sua esposa em uma região deserta, em um píer, a cerca de 700 metros da fronteira da cidade de Chetumal, Quintana Roo.
As autoridades não encontraram indícios de que o crime possa estar relacionado ao trabalho jornalístico. Os colegas de Uicab, entretanto, afirmam que ele recebeu uma ameaça há alguns meses por um homem portador do vírus HIV que ele havia filmado.
O assassinato ocorreu em uma área despovoada, entre o mar e a floresta. Ninguém ainda foi preso, nem suspeitos nem testemunhas. Sabe-se apenas de um homem em uma lancha e de uma família que mora em uma cabana próxima ao local que escutaram gritos e de um motorista que socorreu a esposa de Uicab depois da agressão.
A principal peça de evidência da procuradoria é o testemunho confuso e, como afirmam, contraditório, da esposa. "A investigação está sendo feita de maneira objetiva, e estou dando um voto de confiança à senhora enquanto não existe nenhuma evidência que a incrimine, mas sua versão apresenta contradições muito sérias", disse o subprocurador de justiça do Estado, Alfonso Chi Paredes.
O crime abalou essa pequena cidade, capital do Estado, que fica a 380 km de Cancún. "Esses tipos de casos impressionam; ainda são muito raros e consternam as pessoas. Além disso, até agora não tínhamos tido nenhum crime contra jornalistas", disse Gerner Corona, chefe de redação do Diario de Quintana Roo, e o primeiro repórter que chegou ao local do crime.
Não existem estatísticas confiáveis para crimes nessa cidade, mas um assalto em um local deserto e cometido por um homem mascarado é algo extraordinário, segundo fontes da Procuradoria da Justiça do Estado.
A história segundo Guadalupe
Segundo relatou a esposa à sua família e à polícia, e na reconstrução feita pelos jornalistas, William e ela pararam, a caminho de casa, para conversar, a cerca de 700 metros da Universidade de Quintana Roo, o prédio mais próximo em um raio de 4 km do píer que está desativado.
O casal voltava de um jantar com os pais do namorado de Astrid, filha de Guadalupe, no qual haviam comemorado o anúncio do casamento de seus filhos. "Estavam contentes, era noite de lua cheia e sentaram-se para conversar", conta Gonzalo Hermosilllo, repórter que trabalhava freqüentemente com Uicab." A seu redor, a luz fraca da iluminação pública e ninguém mais.
A esposa contou que estavam sentados de frente para o mar quanto alguém agrediu seu marido pelas costas, encostou-lhe uma navalha ou faca no pescoço e ameaçou matá-lo se não lhe desse dinheiro. "William disse que não tinha dinheiro e que não fizesse nada a sua esposa", conta Hermosillo, repetindo as declarações divulgadas.
"William então empurrou sua esposa para o mar; há um barranco de cerca de dois metros até a baía. Ela caiu no barranco e não pôde ver o que aconteceu depois". Segundo os peritos da Procuradoria da Justiça, quando ele a empurrou, o assaltante se desesperou e cortou seu pescoço, causando uma ferida não muito profunda.
Pelos ferimentos, sabe-se que William tentou se defender. Depois de lutar, William caiu também pelo barranco e os dois se arrastaram para subir ao píer no qual já não havia mais ninguém", reconstrói Gerner Corona.
Guadalupe declarou que então levou seu marido para o carro. Andou uns 150 metros pela estrada onde encontrou uma caminhonete Suburban e pediu auxílio ao motorista, que teria então avisado à polícia. Segundo a reconstrução de Gerner Corona, passaram-se 50 minutos desde o ataque até a chegada dos paramédicos.
William Uicab recebeu seis ferimentos. Seu corpo tinha um corte de 14 cm no pescoço, dois no antebraço e ombro, e três no abdômen. Dois ferimentos atingiram o fígado e fizeram com que Uicab perdesse sangue.
A história segundo o subprocurador
Segundo o subprocurador, há fortes inconsistências no relato apresentado pela esposa. "Ela insiste em dizer que havia um assaltante, mas a polícia auxiliar do local, a primeira a chegar e a entrevistá-la, diz que ela mencionou quatro assaltantes. Depois nos disse, e ratificou em sua declaração à procuradoria, que só havia um. Só um estado de choque muito grave provocaria tal equívoco", disse Alfonso Chi Paredes.
Guadalupe descreveu inicialmente o sujeito como tendo o rosto coberto com uma máscara para proteção do frio, depois disse que era uma meia. "Não descartamos a hipótese de assalto, mas tentamos ver se bate com as declarações da senhora ou se este pode ser um crime passional", disse Alfredo Chi.
"O paramédico que chegou ao local teve a impressão de que ela estava dramatizando; não havia lágrimas, nada", afirma. A Cruz Vermelha demorou 7 minutos para chegar ao local, depois do repórter, e encontrou William Uicab agonizando. Ele morreu 20 minutos depois. Chi Paredes sugere que a esposa deixou passar muito tempo antes de pedir ajuda. "Ainda não entendemos por que não reagiu mais rápido ou por que não o levou a um hospital". A hipótese é que tenha sido por nervosismo.
Os jornalistas do Canal 8 e do Diario de Quintana Roo lembram-se de outros dois assaltos recentes no píer, mas na área próxima ao centro da cidade. "As pessoas daqui só têm essa forma de se divertir", disse Gerner Corona. Uma das pessoas assaltadas foi ferida no rosto com arma branca.
Poucas pistas
Na opinião de Alfonso Chi Paredes, não há provas de que o atentado a Uicab tenha sido motivado por seu trabalho jornalístico e as investigações consideram assalto ou crime passional. "Não posso relacionar o crime ao trabalho jornalístico de Uicab porque era cinegrafista. A relação com o governo é crítica, mas não consideramos que possa ter sido isso", afirma o ex-chefe de Uicab, Jorge Carrillo Beltrán, do Canal 8.
"Já examinamos várias hipóteses. Pelo que sabemos, não era mulherengo nem tinha dívidas e era muito fiel", disse Gonzalo Hermosillo, repórter que trabalhou com Uicab por dois anos.
Gonzalo e seu chefe Jorge Carrillo lembram-se de um único tema delicado e uma ameaça feita a Uicab. "Estamos verificando essas gravações, foi um dos poucos trabalhos que fez sozinho; e houve uma ameaça de morte", disse Gonzalo Hermosillo. O cinegrafista filmou há alguns meses a prisão de um homem portador do vírus HIV que havia tentado matar seu cunhado. O cunhado havia divulgado que ele tinha AIDS para avisar seus parceiros sexuais, os quais ele pretendia contaminar deliberadamente.
"Não demos importância à ameaça e tampouco a acompanhamos, e essa foi a única ameaça feita a William", conta Jorge Carrillo Beltrán, chefe de redação do Canal. Não souberam se essa pessoa foi detida e acusada por algum crime ou se foi posta em liberdade. "Não comunicamos essa ameaça porque poderiam prender a pessoa sem que fosse culpada. Estamos aguardando os acontecimentos", disse.
Segundo Alfonso Chi, o caso depende fundamentalmente da declaração de Guadalupe Chávez. A idéia de que foi um assalto baseia-se apenas em suas declarações. A idéia de que tenha sido um crime passional, nas supostas contradições em que, segundo a procuradoria, ela caiu.