21 Dezembro 2009

Assassinato de radialista provoca comoção em Bezerros

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A polícia não tem dúvidas de que foi uma execução o assassinato do empresário e radialista José Givonaldo Vieira, 40 anos, na manhã de 14 de dezembro de 2009, em Bezerros, no agreste pernambucano, a 107 km da capital Recife. Nada foi roubado, e provavelmente Vieira foi seguido até o local de sua morte.
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A polícia não tem dúvidas de que foi uma execução o assassinato do empresário e radialista José Givonaldo Vieira, 40 anos, na manhã de 14 de dezembro de 2009, em Bezerros, no agreste pernambucano, a 107 km da capital Recife. Nada foi roubado, e provavelmente Vieira foi seguido até o local de sua morte. Testemunhas contam que ele havia estacionado seu automóvel em frente à sede onde funciona a Rádio Bezerros FM, por volta das 7h. Ainda não tinha descido do carro, quando um dos assassinos bateu no vidro escuro do veículo. O empresário baixou o vidro e recebeu os primeiros disparos. Ao tentar escapar, abriu a porta e foi atingido por mais um tiro. Sangrando muito, foi levado ao Hospital Jesus Pequenino, mas não sobreviveu. Um dia depois, o laudo da perícia ainda não havia sido divulgado, mas testemunhas confirmaram ter ouvido de três a cinco tiros. Os dois assassinos usavam bonés e óculos e fugiram em um carro Gol de duas portas. A fuga foi facilitada pela proximidade com a BR 232. “Montamos uma força-tarefa para investigar – há três delegados da Delegacia de Homicídios e um de Bezerros”, informou Osvaldo Morais, diretor geral de Operações da Polícia Civil de Recife. Mas ainda não há suspeitos. “Não há uma linha de investigação definida, e não descartamos nenhuma hipótese”, disse o delegado. Vieira era diretor da rádio comunitária há oito anos. Apresentava um programa pela manhã, em que tratava de assuntos da comunidade e abria o microfone para a população fazer suas queixas e pedidos. Entre outras coisas, distribuía cestas básicas, remédios e cadeiras de rodas. Era também diretor-presidente do jornal Folha do Agreste, publicado a cada 15 dias, com tiragem de três mil exemplares. Além disso, produzia e administrava uma banda de forró chamada Cowboys do Nordeste, e organizava o Pangufolia – um carnaval fora de época, famoso na região. Nos últimos tempos, usava o espaço da rádio para cobrar da prefeita de Bezerros, Elisabete Maria Silva de Lima, pelo mau uso de dinheiro público. Antes de morrer, teve alguns embates com ela. Cobrou duramente, por exemplo, a demissão de 700 funcionários às vésperas do Natal - fato que o desembargador e professor de Direito Clóvis Corrêa de Oliveira Andrade Filho considerou um tanto exagerado, apesar de ser um apoiador de Vieira.. Andrade Filho, que foi presidente do Tribunal do Trabalho de Pernambuco, vereador e é candidato a deputado estadual, era o responsável pela Rádio Bezerros FM em que Vieira trabalhava. A rádio pertence, na verdade, à Fundação Clóvis Corrêa, cujo nome homenageia o pai do juiz. Vieira e Andrade Filho se conheceram há pelo menos 20 anos. O juiz conseguiu o primeiro emprego, de cobrador de ônibus, para Vieira. Apesar da baixa escolaridade, Vieira era dinâmico, lembrou Andrade Filho. “Montou uma serraria que não deu certo, então me pediu que botasse uma rádio, já que Bezerros não tinha nenhuma”, contou. Ao amigo de longa data, o radialista confidenciava seus planos. Queria continuar no ramo de produção. Já sondava a compra da banda Gatinha Manhosa, popular na cidade, e ia vender o ônibus e o caminhão do grupo de forró para investir em um outro modelo maior de ônibus. Circula pela cidade a informação de que Vieira estaria cobrando uma dívida de R$ 100 mil da compra de um carro e esta seria uma das hipóteses cogitadas como causa de sua morte. A outra é de crime político devido às denúncias feitas na rádio. Vieira chegou a comentar com Andrade Filho que ia sair da cidade por 60 dias após 17 de dezembro. “Disse que o clima estava muito pesado por conta das críticas que vinha fazendo à administração municipal”, lembrou o desembargador. “Calaram sua voz, mas a rádio vai continuar seu trabalho”, garantiu Andrade Filho. Seu temor é de que este crime fique impune, como aconteceu com o caso do vereador e radialista José Cândido de Amorim Filho, 45 anos. O apresentador do programa Jota Cândido foi assassinado em 1º de julho de 2005, quando chegava à Rádio Alternativa FM em Carpina, cidade a 64 km de Recife, na região da Mata Norte, em Pernambuco. Segundo testemunhas, quatro homens, que estavam em duas motocicletas, atiraram contra o carro de Amorim. Pelo menos 10 balas das 20 disparadas o atingiram na cabeça e no peito. “Os executores foram presos, mas os mandantes até hoje não foram identificados”, criticou o desembargador. O governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos, esteve no velório de Vieira, que reuniu um grande número de pessoas e provocou uma comoção na cidade. Em entrevista à imprensa, prometeu uma investigação rigorosa. A prefeita Elisabete Maria Silva de Lima disse à SIP que acionou a Secretaria de Defesa Social para que haja urgência na apuração do crime, independentemente do fato de que o radialista lhe fizesse críticas. “Nunca houve insinuações à minha administração, ele apenas tinha espaço para a população fazer suas reclamações”, afirmou. “Quem não quiser ouvir críticas que não seja político”. A prefeita espera que a Justiça e a polícia investiguem o crime porque, antes de tudo, “Vieira era um cidadão e uma pessoa do município”.

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