31 Agosto 2009

Os riscos de fazer jornalismo ambiental no Brasil (Amazônia): Parte 2

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Há dois anos exatamente, em agosto de 2007, o fotógrafo Alberto César Araújo e mais dois jornalistas franceses foram ameaçados e mantidos reféns durante uma noite em um hotel na cidade de Juína, no Estado do Mato Grosso. Estavam de passagem pela cidade – o objetivo era documentar a situação dos índios Enawene-Nawe, em uma excursão promovida pela ONG Greenpeace e pela organização indigenista Operação Amazônia Nativa (Opan).
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Na Amazônia, perseguições e armas apontadas contra jornalistas Parte 2 Há dois anos exatamente, em agosto de 2007, o fotógrafo Alberto César Araújo e mais dois jornalistas franceses foram ameaçados e mantidos reféns durante uma noite em um hotel na cidade de Juína, no Estado do Mato Grosso. Estavam de passagem pela cidade – o objetivo era documentar a situação dos índios Enawene-Nawe, em uma excursão promovida pela ONG Greenpeace e pela organização indigenista Operação Amazônia Nativa (Opan). Queriam mostrar os costumes do povo indígena em contraste com o desmatamento no território, e a disputa de uma área reivindicada pelos índios e atualmente ocupada por fazendeiros. Mas nem os jornalistas nem os ambientalistas conseguiram ir adiante – antes de chegar à área indígena, foram cercados por fazendeiros e levados para a Câmara dos Vereadores, onde ouviram o prefeito da cidade dizer que não poderiam entrar nas terras dos índios, porque seria “perigoso”. Naquela noite, os fazendeiros fizeram uma vigília na frente do hotel para garantir que ninguém saísse dali. A polícia foi chamada para dar proteção, mas não conseguiu evitar as ameaças. “Um dos fazendeiros saiu com uma pedra na mão atrás de mim, e a sorte foi que entrei no carro blindado”, conta Araújo. Na manhã seguinte, em comboio, os fazendeiros seguiram os jornalistas e os ambientalistas até o aeroporto. O grupo foi então advertido de que o avião deveria decolar imediatamente, caso contrário, seria queimado. O Greenpeace e a Opan protocolaram uma queixa no Ministério Público Federal do Mato Grosso contra os fazendeiros e os políticos que os expulsaram. A situação vivida por Araújo em Juína faz parte de uma dura rotina na cobertura de questões ambientais na Amazônia. A cidade está localizada no Estado do Mato Grosso, que, junto com Roraima, Amapá, Amazonas, Pará, Acre, Maranhão, Tocantins e Rondônia, compõem a chamada Amazônia Legal. O território abrange trechos da Floresta Amazônica e boa parte das populações indígenas do país. Araújo lembra de outra ameaça recebida, em 1996. Estava em Presidente Figueiredo, no Estado do Amazonas, a 107 quilômetros da capital, Manaus. Ele havia fotografado uma usina clandestina que funcionava em um terreno da União. Para chegar à usina, Araújo e o repórter haviam caminhado o dia inteiro mata adentro. Era noite, por isso decidiram descansar antes de voltar para casa. O fotógrafo não pôde dormir. “A dona da usina e seu marido arrombaram a porta do quarto do hotel e, armados, exigiram que eu entregasse o equipamento fotográfico para eles”, conta. Ele não entregou, mas teve de voltar para a redação do Jornal do Norte sob escolta da polícia. O medo foi parecido quando, em 2008, estava em São Félix do Xingu, no sudeste do Estado do Pará, para realizar uma reportagem especial sobre desmatamentos para a revista Veja. Uma noite, Araújo despertou com a presença de dois pistoleiros em seu quarto. Imediatamente fechou os olhos, fazendo crer que continuava dormindo. No relance, viu um dos homens encapuzado, com uma fita na mão, que seria usada para vedar sua boca. Outro, com uma espingarda apontada em sua direção, pegou rapidamente a mochila onde acreditava estar a máquina fotográfica do jornalista, e saiu. A invasão era um “aviso” de um fazendeiro, que ficara incomodado com a presença da equipe de reportagem. Na ocasião, Araújo levava duas mochilas: uma com livros e outra com sua máquina fotográfica. Por sorte, os pistoleiros pegaram a mochila errada. A polícia foi chamada e a empresa responsável pela revista fretou um avião para tirar do local Araújo e o repórter que fazia com ele a matéria. O problema é que o único avião disponível era o mesmo que costumava ser utilizado pelo fazendeiro. Para despistá-lo, os jornalistas pediram ao piloto que aterrissasse em uma cidade próxima, e ali alugaram um carro, seguindo em outra direção. Não fosse essa estratégia, provavelmente teriam tido problemas – souberam depois que o fazendeiro havia enviado pistoleiros para persegui-los na cidade onde haviam aterrissado. Hoje, Araújo não deixa de fazer suas fotos, nem de voltar aos lugares onde foi ameaçado, mas é cuidadoso. “Não ando sozinho, nem durmo no mesmo hotel”, avisa. Veja no vídeo Amazônia, uma região de poucos, do Greenpeace, como Araújo e outros jornalistas franceses foram ameaçados e expulsos pela Prefeitura e por fazendeiros da cidade de Juína, no Mato Grosso, ao tentar documentar a disputa de terra com os índios Enawene-Nawe: http://www.youtube.com/watch?v=q9esNX7bzHY (em português) http://www.youtube.com/watch?v=9-O2iIHXyn0&feature=channel (em inglês)

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