Familiares discutem a herança da violência contra jornalistas

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Gabriela Ferigato, enviada a Brasília (DF), PortalImprensa
A herança da morte violenta de jornalistas foi o tema do encerramento do 6º Fórum Liberdade de Imprensa. Participaram do debate Ivo Herzog, diretor do Instituto Vladimir Herzog e filho do jornalista assassinado em 1975; Tânia Lopes Muri, irmã do jornalista Tim Lopes, assassinado em 2002; Vanessa Andrade, jornalista e filha do cinegrafista Santiago Andrade, morto em fevereiro de 2014 e Valério Luiz Filho, filho do comentarista esportivo Valério Luiz, morto em 2012.
Tânia Lopes, irmã do jornalista Tim Lopes (Foto:Robson Cesco)
Tânia Lopes afirmou que é difícil caminhar após um fato tão triste, e todo dia 2 de junho fala sobre o assunto com a mesma dor. “Eu morava em Cabo Frio (RJ) e sonhei com o Tim em fevereiro de 2002. Quando liguei, ele disse que estava tudo bem, para eu não me preocupar com nada. Na época do desaparecimento dele,em junho, minha mãe não comia e fazíamos o terço todos os dias. Não achávamos que ele tinha morrido. Até que um dia estava passando automobilismo na televisão e entrou uma tarja preta dizendo que estava confirmada a morte de Tim Lopes. Foi assim que eu soube da morte do meu irmão. E eu fiquei com a tarefa de ser a porta-voz para que ele não fosse esquecido”, destacou.
Durante os mais de dez anos após a morte do jornalista, Tânia idealizou diversos movimentos para perpetuar o nome de Lopes. “Tinha coisas que nem sabia que estava acontecendo. Colégio no complexo do alemão com nome dele; o teatro municipal Nilópolis Tim Lopes; E.C Tim Lopes São José dos Campos; Salas de Imprensas Alerj e C.Vereadores Búzios, Avenida Jornalista Tim Lopes e muitas outras coisas. O caminho ainda é longo. O assassinato foi sua última matéria e expôs a situação de vida insustentável de milhares de famílias. Agora o próximo passo é a reforma do código penal”, destacou Tânia.
Três meses atrás, Vanessa Andrade, filha do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, recebia uma ligação sobre o acidente de seu pai - no dia 6 de fevereiro desse ano.  “Eu sempre dizia para o meu pai que tinha a memória péssima e ele falava que eu precisava lembrar de tudo. Então tento recordar o que vivi nesse dia 6 de fevereiro. Ele tinha me ligado antes para dizer que ia cobrir a manifestação. E uma hora e meia depois eu estava no hospital, onde me entregaram somente a aliança dele e uma camisa vermelha rasgada cheia de sangue e massa encefálica. Essa é a minha última memória desse dia. Eu não tinha noção da dimensão que a morte dele ia causar na sociedade”, comentou Vanessa.
Para Vanessa, ninguém é inocente no acidente que resultou na morte de Santiago. “Ninguém chega em uma praça, às 17 horas, olha uma pessoa com uma bomba e não faz nada. Surgiram muitos boatos que foi uma ação dos Black blocks, que, em minha opinião, é uma minoria sem força nenhuma. A partir disso comecei a formar o meu discurso contra a violência de nós jornalistas. As depredações não podem ser o mote desse movimento”, opinou.
Ivo Herzog afirmou que, mesmo após 34 anos da morte de seu pai, o caso nunca foi esquecido. Para ele, existe sim a violência com jornalistas, mas não é só isso. Ivo cita o caso de um acidente de um torcedor morto por uma privada em Recife e de uma mulher linchada no Guarujá (SP), pois a população achou que ela fazia magia negra com crianças.  “Vai além da violência com jornalistas, chamo isso de crise de valores. E nisso entra os ‘pseudojornalistas’. Em programas como o do Datena vemos a apologia à violência. A maioria da população brasileira acha tortura um método válido para obtenção de informação. Pra mudar a nossa realidade temos que mudar isso. Que sociedade é essa que a gente vive?”, disse Ivo.
VI “Fórum Liberdade de Imprensa & Democracia”
IMPRENSA promove o VI Fórum Liberdade de Imprensa & Democracia, nesta terça-feira (6/5), das 10h às 19h, no Museu da Imprensa Nacional, em Brasília (DF). As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas no site do evento.
O fórum conta com a presença de importantes profissionais de imprensa, como Alexandre Jobim, vice-presidente do Grupo RBS em Brasília; Ministro Ayres Britto, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF); Cristina Serra, repórter do "Jornal Nacional"; Denise Rothenburg, repórter especial doCorreio Braziliense; Eliane Cantanhêde, colunista de Política da Folha de S.Paulo; Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do Grupo Estado; e Milton Blay, correspondente e colunista da Rádio Bandeirantes e BandNews FM.

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