MEXICO

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Nesse semestre, os atentados contra a vida de jornalistas mexicanos aumentaram assustadoramente. Três jornalistas foram assassinados e teme-se que outro esteja morto, já que está desaparecido desde abril. A esses casos somam-se outros cinco assassinatos cometidos entre março de 2004 e de 2005. Os últimos dezoito meses configuram o período mais grave que o país já viveu. Há evidências reforçadas por informações oficiais de que cinco desses nove casos estão ligados ao crime organizado, principalmente ao narcotráfico. As autoridades alegam que os outros quatro casos envolvem questões pessoais não relacionadas a assuntos de liberdade de expressão. Entretanto, nem as famílias, nem as associações jornalísticas a que pertencem, nem a opinião pública receberam informações que permitam descartar definitivamente no momento a hipótese de que o motivo dos ataques tenha sido o exercício do jornalismo. Os casos são os seguintes: - Jesús Reyes Brambile, morto em 18 de setembro em Guadalajara, Jalisco. - Raúl Gibb Guerrero, diretor do jornal La Opinión de Poza Rica, Veracruz, assassinado em 8 de abril. - Guadalupe García Escamilla, assassinada em frente ao seu trabalho em 5 de abril passado, em Nuevo Laredo, Tamaulipas. - Alfredo Jiménez Mota, repórter do El Imparcial de Hermosillo, Sonora, desaparecido desde 2 de abril. Destacou-se por sua cobertura sobre narcotráfico. Tinha 25 anos quando desapareceu. Os casos registrados em relatórios anteriores são os seguintes: - Gregorio Rodríguez Hernández, de Sinaloa, morto em 28 de novembro de 2004. - Leodegario Aguilera Lucas, reportado como desaparecido em Acapulco em 9 de setembro de 2004. - Francisco Arratia Saldierna, assassinado em Tamaulipas em 1º de setembro de 2004. - Francisco Ortiz Franco, morto em Tijuana em junho de 2004. - Roberto Mora García, assassinado em março de 2004 em Nuevo Laredo, Tamaulipas. A repetida reclamação feita pela SIP e outros setores sobre esses casos fez com que a Procuradoria-Geral passasse para a alçada federal as investigações sobre quatro desses casos: Francisco Ortiz Franco, Guadalupe García Escamilla, Raúl Gibb Guerrero e Alfredo Jiménez Mota. Além desses exemplos brutais contra a liberdade, a violência impôs um clima de terror e desalento em diversas regiões do país, principalmente na zona norte de fronteira com os Estados Unidos. Uma contagem independente feita esse ano pelo jornal El Universal com casos de execuções atribuídas ao narcotráfico registrou mil mortes desse tipo em menos de nove meses. Ameaças e pressões contra editores e repórteres fizeram com que diversos meios deixassem de publicar informações sobre o narcotráfico, inclusive obtidas de fontes oficiais. O estado com o maior número de execuções é Sinaloa, na costa oeste do país. Nessa região, como na fronteira, tem-se várias notícias de jornalistas que abandonam sua profissão e até se mudam de cidade, temendo por suas vidas e de seus familiares. A SIP desempenhou um papel ativo e fez uma importante contribuição no trabalho de organizar uma resposta consistente por parte dos editores e a Corte Interamericana de Direitos Humanos e Repórteres sem Fronteiras. Em 30 de agosto, realizou-se na cidade de Hermosillo, Sonora, um Encontro de Editores da Fronteira Norte. Editores de 40 jornais, provenientes de oito estados do país, reuniram-se para celebrar vários tipos de acordo. A Declaração de Hermosillo pede uma legislação que federalize os crimes contra jornalistas, não prescrição para esses crimes e aumento das penas para os criminosos. O jornal Noticias de Oaxaca está ocupado desde novembro passado e sofre perseguição do governo estadual, o qual é acusado de provocar um conflito trabalhista entre o jornal e um sindicato. Em 18 de julho passado, esse sindicato cercou as instalações do jornal e impôs uma greve. O jornal continua circulando com muita dificuldade, já que é impresso em uma cidade próxima. Em abril passado, por pressão de vários grupos e indivíduos no México, o Senado aprovou uma reforma do Código Penal Federal que impede que o Ministério Público exija aos praticantes de diversas profissões revelarem a identidade das suas fontes de informação. Isso representará o estabelecimento, em nível federal, do sigilo profissional do jornalista. Essa lei necessita ainda ser aprovada pela Câmara dos Deputados. Outros fatos que afetaram a liberdade de imprensa foram: Em 2 de abril, registrou-se o desaparecimento do jornalista Alfredo Jiménez Mota, do jornal El Imparcial de Hermosillo, Sonora. Jiménez Mota era especializado em assuntos de segurança pública, especificamente relacionados ao narcotráfico. Seu caso passou para a jurisdição federal. Em 5 de abril, a jornalista Guadalupe García Escamilla, da Radio Estéreo 91, foi atacada por um homem sozinho que disparou nove tiros contra ela. Depois de ficar onze dias em tratamento intensivo, faleceu em 16 de abril. A jornalista havia recebido ameaças de morte por telefone e seu carro já havia sido incendiado. O caso passou para a jurisdição federal. Em 8 de abril, o jornalista Raúl Gibb Guerrero, diretor-geral do jornal La Opinión em Poza Rica, Veracruz, foi morto por quatro homens que atiraram 15 vezes de dentro de dois automóveis quando dirigia sua caminhonete. Esse caso passou para a jurisdição federal. Em 28 de abril, diretores e funcionários do jornal vespertino Primera Hora, de Mazatlán, Sinaloa, ingressaram com ação criminal alegando que três de seus repórteres que cobrem assuntos policiais, José Luis Rodríguez, Juan Escutia e outro não identificado, foram ameaçados de morte por telefone por publicarem uma reportagem sobre o roubo de gasolina em Petróleos Mexicanos e o assassinato de um agente da procuradoria. Em 11 de maio, um grupo de desconhecidos lançou uma bomba molotov contra a caminhonete do editor da página de editoriais do jornal Primera Hora, de Nuevo Laredo, Tamaulipas, Pedro Pérez Natividad. Em 18 de julho, homens armados e policiais à paisana tomaram durante a noite as instalações do jornal Noticias, desalojando com violência 31 funcionários do jornal que durante 30 dias tinham sido impedidos de abandonar o lugar por problemas sindicais. Os funcionários foram agredidos e tiveram que dar seus celulares e carteiras aos agressores, liderados por Ulisses Bravo, um dos dirigentes da CROC, e por Carlos Monjarraz, integrante de um grupo de homens armados controlados pelo líder sindical David Aguilar Robles. Em 22 de julho em Cananea, Sonora, o membro do comitê executivo do sindicato dos mineiros, Juan José Gutiérrez Ballesteros, e dois dos seus guarda-costas, foram detidos e libertados após pagamento de fiança por ameaças e agressões ao repórter Orlando Valencia Estrada, do programa de notícias “Noticentro” da estação de rádio local La Consentida. Em 29 de julho, em Escuinapa, Sinaloa, a repórter Sugey Estrada, correspondente do jornal Noroeste, denunciou que foi ameaçada pelo chefe da polícia municipal, Filiberto Bribiesca Sandoval, quando tentou entrevistá-lo. Diretores e jornalistas do jornal Noroeste emitiram o “Informe Escuinapa” que informa sobre um clima de perseguição a diversos jornalistas na região que tiveram que abandonar seu trabalho e mudar-se com seus familiares para outras cidades, diante do medo de atentados. Em 18 de setembro, Jesús Reyes Brambile, repórter da página social do jornal Vallarta Milenio, foi encontrado morto na mala de um carro de propriedade da empresa que edita o jornal. O corpo estava dentro de um saco preto, nu, com as mãos atadas, os olhos vendados, e apresentava três ferimentos de arma branca no pescoço e no tórax, além de três golpes contundentes na cabeça. O veículo foi abandonado perto do centro de Guadalajara. Segundo o serviço médico forense, o assassinato de Reyes Brambilia ocorreu dias antes de o seu corpo ser encontrado. O repórter era irmão do diretor-geral do jornal, Luis Reyes Brambilia, e foi identificado por seus familiares.

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