Durante este período ocorreram vários atentados graves à liberdade de imprensa, principalmente durante os incidentes de violência social que abalaram o país.
O presidente Sebastián Piñera decretou estado de exceção constitucional depois de um grande conflito social que começou em 18 de outubro e que incluiu desordem pública, violência nas ruas, incêndio a meios de transporte público e vandalismo de supermercados e outras lojas.
Várias estações de rádio, canais de televisão e jornais foram alvos de agressões de intensidades variadas e seus profissionais sofreram assédio e receberam ameaças de morte pelas redes sociais. Alguns meios de comunicação foram atacados e incendiados, principalmente ao jornais regionais, que ficam situados no centro das cidades, o que facilitou esses ataques: em 19 de outubro, El Mercurio, em Valparaíso; em 26 de novembro, El Líder de San Antonio, e em 13 de janeiro, El Mercurio de Antofagasta.
Tem sido extremamente difícil fazer a cobertura noticiosa. Alguns meios de comunicação tomaram medidas para proteger seus jornalistas, deixando de identificar os funcionários, não utilizando câmaras ou equipamentos que mostrem que eles são jornalistas de um determinado meio de comunicação e fazendo a cobertura de alguns eventos remotamente, utilizando imagens capturadas pelas câmaras públicas.
Embora os ataques que alguns jornalistas sofreram nas ruas tenham sido causados por manifestantes e não por agentes do governo, a polícia não criou um protocolo especial para protegê-los.
Em 15 de novembro, vários setores políticos assinaram um "Acordo pela paz" que resultou num plebiscito para avaliar uma possível reforma constitucional em 25 de outubro próximo para aprovar a elaboração de uma nova constituição que substitua a atual, que está em vigor desde 1980. Se o plebiscito for aprovado, um órgão constituinte será convocado para discutir, entre outras coisas, a situação da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa.
Um novo golpe econômico para a mídia em geral é a Lei Orçamentária de 2019. Pelo terceiro ano consecutivo, ela estabelece cotas de 40% para publicidade oficial para os meios de comunicação regionais que não façam parte de conglomerados, contradizendo os critérios de eficiência para a publicidade oficial.
Continuam em tramitação projetos de lei que podem afetar a liberdade de imprensa. Uma reforma da Lei de Proteção de Dados Pessoais incluiria a mídia como banco de dados, o que poderia permitir que os meios de comunicação fossem forçados a eliminar informações, dando origem ao direito ao esquecimento.
Dois projetos de lei proíbem a publicidade de bebidas alcoólicas e de medicamentos na mídia, violando a liberdade comercial. Outro estabelece o direito das mulheres a uma vida livre de violência, mas afirma que as autoridades decidirão como a mídia deve cumprir o respeito a esse direito.
Outro projeto apresentado este ano sanciona o discurso do ódio, incluindo atos de negacionismo ou que justifiquem as violações de direitos humanos que ocorreram no Chile entre 1973 e 1990 e discursos que exaltem o regime militar chileno daqueles anos. O projeto prevê penas de prisão para os autores de tais discursos e sanções contra os meios de comunicação que os publicarem, e que podem incluir fechamento da empresa jornalística ou responsabilidade penal.
Em 18 de março, o presidente Piñera declarou estado de calamidade durante 90 dias, e isso permite ao governo impor restrições à liberdade de circulação, de reunião, à propriedade e a requisição de bens. Por enquanto, há uma proibição de circulação nas vias públicas entre 22 horas e 5 horas. As restrições também incluem "cordões sanitários" e "barreiras sanitárias" em algumas cidades, para impedir a entrada e saída de pessoas com controles de saúde.
A liberdade de imprensa não foi incluída nessas medidas, mas foram registradas restrições. Alguns prefeitos ordenaram o fechamento de bancas de jornais e pontos de venda. Em Santiago, impediu-se a entrada de caminhões para distribuição do El Mercurio, e o mesmo aconteceu com jornais regionais em outros locais. Em Chillán, a polícia impediu a entrada de caminhões que distribuíam os jornais La Tercera e La Cuarta.
A Associação Nacional de Imprensa (Asociación Nacional de la Prensa - ANP) disse ao governo que os prefeitos não estão autorizados a restringir direitos, inclusive com respeito a bancas de jornais e pontos de vendas, o que foi confirmado em 24 de março pela Controladoria Geral da República. A ANP conseguiu que o governo incluísse a imprensa e a distribuição de jornais como serviços essenciais.
Várias autoridades locais estão realizando coletivas de imprensa virtuais para evitar a propagação do vírus, mas existem restrições ao exercício do jornalismo. Pede-se que a mídia envie perguntas, mas não se sabe sobre o que ou quem as responde.
Quatro jornais suspenderam sua circulação impressa e três a reduziram a alguns dias da semana. Tudo isso é resultado da precária situação econômica da mídia, que já vinha se arrastando desde a "explosão social" de outubro passado e da diminuição das receitas publicitárias durante a atual crise do coronavírus.