Durante este período, o ambiente para o exercício do jornalismo se deteriorou. O aumento das ações judiciais contra a vice-presidente Cristina Kirchner intensificou o discurso do "lawfare", tese defendida por setores do governo que afirma haver conivência entre a imprensa crítica ao governo, parte do poder Judiciário e membros da oposição.
Desde o ataque à vice-presidente, em 1º de setembro, intensificaram-se as acusações desses setores e de jornalistas e veículos de mídia aliados ao governo.
Iniciou-se também uma perigosa campanha contra alguns jornalistas e meios de comunicação, vinculando-os ao ataque.
Nos dias que se seguiram ao ataque, foram divulgados projetos de lei defendendo o combate aos "discursos de ódio", mas que promovem a regulação de conteúdos e instauram mecanismos de censura. Tais projetos foram apresentados por líderes do governo, mas revelaram posturas autoritárias de vários líderes da coalizão governante.
Em 11 de outubro, uma faixa foi colocada em frente às instalações do canal Telefé Rosario na cidade do mesmo nome, com uma mensagem dizendo "vamos matar jornalistas". Essa área da província de Santa Fé tem registrado um aumento da criminalidade ligada ao tráfico de drogas. Este ano, mais de 200 pessoas foram mortas em confrontos entre quadrilhas criminosas. A ameaça representa um novo desafio para as organizações que defendem a liberdade de imprensa e para a mídia, pois as autoridades não têm protocolos de proteção nem promotorias especializadas para jornalistas, e não existem protocolos de segurança para a mídia.
Entre os episódios de violência que ocorreram neste período, destaca-se o ataque armado contra os fotojornalistas Federico Soto, do La Mañana de Neuquén, e Patricio Rodríguez, do Río Negro, por um integrante da Associação de Trabalhadores do Estado em San Martín de los Andes, em Neuquén. Soto capturou com sua câmera o momento em que um dos tiros foi disparado. Os jornalistas saíram ilesos do ataque.
Três semanas antes, um cinegrafista da TyC Sports foi atingido por três tiros de balas de borracha perto do estádio Gimnasia y Esgrima, na cidade de La Plata, durante uma operação desordenada em resposta a incidentes com torcedores do clube local.
Em junho, o jornalista George Chaya, colaborador do Infobae, foi ameaçado pelo grupo terrorista Hezbollah.
Em agosto, jornalistas de diversos canais noticiosos foram agredidos física e verbalmente por manifestantes perto do Palácio do Governo.
No final de abril, o governador da província de La Rioja pediu um bloqueio da mídia de Buenos Aires nas províncias do norte da Argentina, o que foi motivo de preocupação.
No início de junho, organizações como Adepa e Fopea criticaram as ações judiciais movidas pelo deputado Javier Milei contra jornalistas por considerar que foram movidas por intolerância a críticas.
Em setembro, veio a público uma fita de áudio na qual se ouve Marcelo Saín, ex-ministro da segurança da província de Santa Fé, sugerindo que se deveria mover ação criminal contra o proprietário de um grupo de mídia local.
Também em setembro, as autoridades do canal da província de Catamarca decidiram cancelar o programa "Tirame un centro", apresentado por Silvio Iramain. Em sua última transmissão, o jornalista criticou a gestão do Ministério da Infraestrutura.
Em maio, o procurador-geral da província de San Luis rejeitou um recurso de cassação do jornalista Diego Masci. O jornalista pedia revisão da sentença emitida pelo tribunal local por violação de privacidade pela publicação de um vídeo da ex-ministra da educação, Natalia Spinuzza. O caso explicitou as dificuldades do jornalismo naquela província, devido a um uso abusivo do direito penal.
Em junho, o tribunal da província de La Rioja invadiu a casa da jornalista Manuela Calvo e apreendeu seus equipamentos de trabalho. Ela trabalhava numa investigação sobre o desaparecimento de uma menor.
No final de junho, a Suprema Corte de Justiça decidiu sobre um pedido de "direito ao esquecimento", anulando uma decisão da Câmara que o havia reconhecido. Natalia Denegri exigiu a desindexação de informações sobre seu passado. A Suprema Corte priorizou o direito à liberdade de expressão em detrimento ao pedido de Denegri. A Adepa defendeu esta posição por meio de um "amicus curiae" que teve o apoio da SIP, mas alertou sobre os danos que a opacidade e a dinâmica dos algoritmos dos mecanismos de busca causam ao debate público.
A escassez de dólares nas reservas do governo argentino causou uma série de restrições de importação que afetaram o acesso ao papel, tintas, chapas e insumos tecnológicos, o que prejudica a impressão de diversos produtos e gera incerteza quanto ao futuro de muitos meios de comunicação, o que configura uma restrição indireta à liberdade de expressão, conforme descrito no artigo 13º do Pacto de San José, Costa Rica.