Os meios de comunicação continuam fazendo seu trabalho em meio a uma guerra entre as forças federais e bandos do crime organizado. No ano passado, mais de 5.300 pessoas morreram na luta do governo para acabar com o narcotráfico.
O jornalismo não escapou desse panorama adverso que se agravou nos últimos seis meses. O número de agressões e mortes de jornalistas aumentou, dentro de um ambiente de violência e de impunidade no que se refere às questões relacionadas à liberdade de expressão e de imprensa.
Quatro jornalistas foram assassinados nesse período e ocorreram pelo menos oito atentados graves contra profissionais e meios de comunicação.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos do México identificou os estados de Tamaulipas, Chihuahua, Veracruz, Oaxaca e Michoacán como os mais perigosos para o exercício do jornalismo.
O aumento das agressões a meios e jornalistas nos últimos anos resultou em um alto nível de autocensura. A maioria dos meios de comunicação mexicanos não fazem investigações sobre o narcotráfico e o crime organizado. Com medo de represálias de grupos criminosos, utilizam apenas as informações oficiais divulgadas pelas autoridades do país. Houve casos em que o crime organizado ameaçou meios de comunicação para que não publicassem informações que esses grupos criminosos queriam ocultar.
No que se refere aos avanços na federalização dos crimes que envolvam a liberdade de expressão, notou-se um retrocesso devido a novas propostas surgidas na Câmara dos Deputados, especificamente na Comissão de Justiça, presidida por César Camacho.
De acordo com uma proposta preliminar dessa Comissão, apresentada a representantes da SIP no início de março, ignorou-se o trabalho realizado há anos pela Comissão Especial de Acompanhamento das Agressões a Jornalistas e Meios de Comunicação da Câmara dos Deputados, liderada pelo deputado Gerardo Priego, e a qual em novembro passado apresentou um projeto de lei que permite transferir para o âmbito federal as investigações judiciais dos casos de ataques a jornalistas e meios de comunicação.
Essa iniciativa foi resultado de um consenso, após meses de trabalho e consultas, entre legisladores federais, juristas, jornalistas e membros de organizações nacionais e internacionais dedicadas à defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa.
Continua em debate a federalização dos crimes cometidos contra a liberdade de expressão e persiste a impunidade nos assassinatos e agressões a jornalistas e meios de comunicação. O caso do jornalista Alfredo Jiménez Mota, do jornal El Imparcial de Sonora, que desapareceu há quatro anos, em 2 de abril de 2005, é uma prova disso.
Apesar de a Procuradoria-Geral, através da Subprocuradoria para o Crime Organizado, ter assumido o caso desde o início, até agora não se obteve nenhum resultado. Em 12 de março, a SIP apresentou o caso de Jiménez Mota à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Por outro lado, algumas autoridades estaduais e municipais continuam tentando controlar os meios de comunicação independentes através de boicotes publicitários. Um exemplo disso é o jornal AM de Guanajuato que durante dois anos não recebeu publicidade do governo.
Segue-se um resumo dos assassinatos e agressões a jornalistas e meios de comunicação entre outubro de 2008 e março de 2009:
Em 1º de outubro, David García Monroy, analista político e colaborador de vários meios de comunicação foi executado junto com outras 10 pessoas no bar Río Rosas, em Chihuahua. Um grupo armado entrou no local dizendo que se tratava de uma inspeção de rotina.
Em 10 de outubro, Miguel Ángel Villagómez, editor do jornal La Noticia, de Lázaro Cárdenas, Michoacán, foi encontrado morto na estrada Lázaro Cárdenas-Zihuatanejo.
Em 13 de novembro, Armando Rodríguez Carreón, jornalista do El Diario de Ciudad Juárez, Chihuahua, foi executado em frente à sua casa por um grupo de desconhecidos. Ele já havia sido ameaçado e a polícia não havia tomado nenhuma providência.
Em 23 de fevereiro, Luis Daniel Méndez Hernández, correspondente do programa Enlaces Noticias, da agência Radiorama, Tuxpan, morreu depois de receber quatro tiros nas costas quando participava das festas do Carnaval do município de Huayacocotla, no estado de Veracruz.
Em 15 de outubro passado, a casa do correspondente do Diario del Yaqui em Nogales, Sonora, foi baleada por pistoleiros. Vicente Bórquez Rivas e sua família acordaram com o ruído das balas às seis horas da manhã.
Em 16 de outubro, um caminhão de entregas do Grupo Reforma foi baleado por desconhecidos quando circulava pelo município de San Mateo Atenco. Jorge Trejo Pacheco e Érick Alanís Martínez, que estavam no caminhão, não foram feridos e pediram o apoio da polícia estadual.
Entre a noite de 25 de outubro e a madrugada de 26 de outubro, o jornalista Pedro Matías Arrazola, do jornal Noticias de Oaxaca e correspondente do semanário Proceso em Oaxaca, foi detido durante doze horas e submetido a tratamento violento e tortura psicológica.
Em 13 de novembro, dia em que estava sendo velado o jornalista Armando Rodríguez Carreón, Jorge Luis Aguirre, diretor do jornal La Polaka, de Chihuahua, e também jornalista, recebeu ameaças pelo telefone.
Em 17 de novembro, as instalações do jornal El Debate de Culiacán, Sinaloa, foram alvo de um ataque com duas granadas de fragmentação que destruíram janelas, danificaram portas e paredes da entrada principal.
Em 6 de janeiro passado as instalações da Televisa Monterrey foram danificadas por granadas de fragmentação e tiros disparados por um grupo de pessoas mascaradas.
Em 16 de janeiro o jornalista Miguel Badillo foi detido pela polícia ao se executar um mandado de prisão contra ele.
Em 29 de janeiro, o jornalista mexicano Emilio Gutiérrez Soto, exilado em 15 de junho de 2008 e detido desde então pelos serviços de imigração dos Estados Unidos, foi libertado, mas não se sabe se será recebido nesse país. O correspondente do El Diario em Ascención, Chihuahua, cruzou a fronteira com seu filho depois de receber ameaças de morte atribuídas a militares.
Em 9 de fevereiro, a casa do jornalista Moisés García Castro do jornal El Debate de Guasave, Sinaloa, foi baleada por armas de grosso calibre. Os disparos atingiram uma casa vizinha, mas não houve feridos.
Madrid, Espanha