A liberdade de expressão ainda não faz parte da agenda do novo governo do presidente Ricardo Martinelli Berrocal, que assumiu o poder em 1° de julho. O ministro do Governo e Justiça, José Raúl Mulino, porém, apontou em reiteradas ocasiões os meios de comunicação como responsáveis por um clima de intranqüilidade cidadã, ao divulgar assassinatos, conseqüência de uma onda de crimes originada pelo tráfico de drogas ilícitas. Além disso, o ministro Mulino e também a procuradora geral da Nação, Ana Matilde Gómez, escreveram artigos de opinião nos jornais favorecendo a regulamentação dos conteúdos jornalísticos.
O governo decidiu centralizar as comunicações oficiais e despachos da imprensa na Secretaria de Comunicação do Estado, o que causou mal-estar pela impossibilidade dos meios em acessar as fontes oficiais. Tentou-se canalizar todos os requerimentos de informação assim como entrevistas com altos funcionários em um sistema de questionários escritos, o que vem dificultando o trabalho jornalístico.
Continua existindo um panorama legal confuso com a implementação do novo Código Penal, que ainda que proteja a liberdade de expressão e o acesso à informação, pouco foi aplicado.
As mudanças estavam destinadas a descriminalizar delitos contra a honra com relação a servidores públicos ligados à Convenção Interamericana de Direitos Humanos.
Durante este período lavrou-se uma sentença penal contra Rafael Berrocal, jornalista do jornal La Prensa, por calúnia e injúria perante uma ação submetida por Dominador Kayser Bazán, ex vice-presidente do país (1999-2004), o qual o denunciado pelo jornalista, de ter sido favorecido por meio de um banco estatal em que seu filho era subgerente, outorgando a ele terrenos para projetos imobiliários. O fato relatado não foi negado e, apesar disso, foi proferida sentença contra o jornalista, agora sob apelação.
Em outro fato, o ex-presidente Ernesto Pérez-Balladares (1994-1999) ameaçou publicamente o presidente e diretor do jornal La Prensa, Fernando Berguido, além dos jornalistas Santiago Fascetto e Mónica Palm, em consequência da publicação de várias reportagens sobre a outorga de concessões a parentes e conhecidos para a operação de salas de jogo, sem o pagamento dos direitos previstos por lei.
Em outro incidente, o diretor do jornal El Siglo, Jean Marcel Chery foi condenado a dois anos de prisão por um juiz penal do município de La Chorrera, perto da cidade do Panamá, acusado do delito de violação da liberdade, em uma denúncia do magistrado do Supremo Tribunal de Justiça, Winston Spadafora, que acusou Chery de entrar clandestinamente em sua propriedade localizada em uma área rural, quando era repórter do jornal Panamá América. Durante o processo, ficou evidente a inclinação do juiz da causa em favorecer o demandante, chegando inclusive a alterar o testemunho de algumas das testemunhas apresentadas pela defesa de Chery.
O jornalista Rubén Polanco, que trabalhava no El Siglo sofreu um processo por cometer supostamente os delitos de calúnia e injúria por Juan Vega, assistente do juiz Rubén Royo. O jornalista escreveu sobre a investigação feita ao juiz pela suposta cobrança de uma comissão de jogo. O assistente do juiz foi mencionado no expediente, o que foi reproduzido pelo jornalista em sua nota. Outro processo por calúnia e injúria foi submetido pelo ex-candidato a deputado Héctor Raúl Cedeño contra o jornalista Rosmar Castillo, que trabalhava também para o El Siglo. Castillo escreveu que Cedeño tinha antecedentes criminais e apresentou como provas o registro policial que mencionava o político em um caso de roubo a mão armada. Os dois casos encontram-se em averiguação.
Um juiz civil condenou a Editora Panamá América e os jornalistas Jean Marcel Chery e Gustavo Aparicio a pagar a quantia de 20.000 dólares como indenização por dano moral supostamente causado ao magistrado do Supremo Tribunal de Justiça, Winston Spadafora, pela publicação em março de 2001 de uma reportagem que falava da construção de uma estrada com fundos públicos, que levava a uma propriedade de Spadafora, que na época da publicação exercia a função de ministro de Governo e Justiça da administração de Mireya Moscoso. A sentença sofreu apelação tanto pelos advogados da Editora Panamá América e pelos jornalistas condenados, assim como pelo advogado de Spadafora. A apelação encontra-se em trâmite.
Por outro lado, continuam as restrições que impedem que os meios impressos participem em empresas de rádio ou televisão, mediante a Lei 24 de 1999, que reorganizou o regime legal que regula os serviços de rádio e televisão. Tal lei diz, em seu primeiro artigo, que se busca promover e proteger o investimento e a livre concorrência e a qualidade entre os concessionários. Entretanto, impõe uma limitação aos meios escritos de adquirir, administrar ou operar rádios ou televisões no Panamá. Estabelece expressamente que nenhuma rádio ou televisão poderá ser controlado, de forma direta ou indireta, por um jornal de circulação nacional.
Madrid, Espanha