Um panorama violento sem antecedentes registra o jornalismo mexicano pelos assassinatos, desaparições e agressões físicas contra os jornalistas nos últimos meses.
Neste período seis jornalistas foram assassinados e cinco permanecem desaparecidos. Outro morreu por causa das agressões recebida quando de seu sequestro.
Entre 18 de fevereiro e 3 de março, oito jornalistas de meios de comunicação impressos e eletrônicos de Tamaulipas foram sequestrados, e segundo informação obtida pela SIP, suas identidades não foram reveladas e tampouco foram feitas as denúncias perante as autoridades pelo temor que existe a represálias a pôr em perigo a vida dos comunicadores; até o momento três deles foram liberados.
O cenário é cada vez mais complicado por falta de garantias e segurança para jornalistas e meios de comunicação porque o Governo não conseguiu frear a impunidade que existe na maioria dos crimes e atentados contra esses profissionais e seus meios.
Os níveis de autocensura da imprensa mexicana têm se incrementado notoriamente. Em algumas áreas do país os meios de comunicação decidiram não divulgar nenhuma informação relacionada com as atividades das organizações criminais. Nem sequer são publicados os boletins oficiais do exército ou das polícias por temor a represálias dos grupos delitivos, gerando um alto nível de desinformação.
Desde dezembro de 2006 a março de 2010 foram relatadas pouco mais de 18 mil mortes vinculadas ao crime organizado, sem contar os 5 mil policiais e os 87 soldados que enfrentaram delinquentes e perderam sua vida; os estados mais violentos foram Chihuahua, que acumula 3.637, além de Michoacán, Sinaloa e Tijuana, Baja California.
Em 15 de fevereiro deste ano uma missão da SIP se reuniu com autoridades federais as quais se reiterou a urgência da adoção de medidas para enfrentar a violência e a impunidade.
A missão incluiu uma reunião com editores de jornais dos estados de Durango, Coahuila, Sinaloa e Sonora, estados nos quais surgiu uma reivindicação às autoridades federais e estaduais por maiores garantias para a profissão.
Em 13 de janeiro, a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) destacou que ante a falta de resultados das autoridades federais e estaduais na prevenção e investigação de agravos contra jornalistas, o organismo dá estreito seguimento às indagações ministeriais e alça a voz com a exigência de que se esclareçam os casos e se faça justiça.
A CNDH, desde 2000 até a data atual, tem 60 mortes registradas, 11 desaparições de comunicadores, entre elas a de Alfredo Jiménez Mota, jornalista de El Imparcial de Sonora, caso que a SIP remeteu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos em março de 2009.
A federalização dos crimes contra a liberdade de expressão é um tema que se mantém pendente na legislatura mexicana.
Em fevereiro, a Secretaria de Governança e a Procuradoria Geral da República do México anunciaram a reorganização de uma promotoria especial que atende delitos contra jornalistas com o objetivo de desenvolver trabalhos de investigação e de acusação assumindo casos dos estados em âmbito federal.
A Comissão Especial para dar Seguimento às Agressões a Jornalistas e Meios de Comunicação da Câmara dos Deputados abriu uma consulta com organizações especializadas, jornalistas, meios de comunicação e público em geral para elaborar seu plano de trabalho.
Mantém-se a prática de alguns governos de tentar controlar os meios escritos e eletrônicos através da distribuição de publicidade oficial.
Entre os casos de seis jornalistas assassinados, contam-se os seguintes:
José Emilio Galindo Robles, 24 de novembro de 2009, diretor de uma rádio local em Guadalajara, Jalisco.
José Alberto Velázquez López, encontrado sem vida em 23 de dezembro de 2009; proprietário de uma revista e colaborador de uma televisão local em Cancun, Quintana Roo.
José Luis Romero, jornalista de Sinaloa, sequestrado em 30 de dezembro de 2009 e encontrado morto em 16 de janeiro deste ano.
Valentín Valdés Espinoza, jornalista de Saltillo, Coahuila, localizado sem vida em 8 de janeiro de 2010.
Jorge Ochoa Martínez, editor dos semanários El Oportuno e Despertar de Costa Chica, em Chilpancingo, foi assassinado em 29 de janeiro de 2010.
Evaristo Pacheco Solís, de 33 anos. O corpo sem vida do repórter do semanário Visión Informativa foi encontrado em 12 de março ao lado da rodovia que leva a Chilpancingo, capital do estado de Guerrero; apresentava impactos de bala calibre 25 e duas pessoas foram presas como supostos responsáveis.
Por outro lado, Jorge Rábago Váldez, jornalista da Rádio Rey e Reporteros en Red, Reynosa, Tamaulipas, foi sequestrado em 19 de fevereiro de 2010 e encontrado em 1º de março com marcas de tortura. Morreu em 4 de março, sendo seu falecimento atribuído às agressões sofridas no cativeiro ao qual esteve submetido.
Também se teme pela vida de María Esther Aguilar Cansimbe, repórter de El Diario de Zamora, Michoacán, desaparecida desde 10 de novembro de 2009.
A Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Tamaulipas confirmou a desaparição, em 1º de março de 2010, de Miguel Ángel Domínguez Zamora, do jornal El Mañana, de Reynosa. No que diz respeito a outros sete casos registrados em Ciudad Reynosa, a PGJE assegurou não haver recebido nenhuma notícia.
Outros fatos relevantes durante este período:
Em 20 de janeiro, Juan Aparicio, diretor da revista El Observador, em Chiapas, foi ameaçado por um subinspetor da Polícia Estadual Fronteiriça quando cobria a inspeção de uma casa onde havia ocorrido um sequestro.
Em 21 de janeiro, Armando Suárez, jornalista da revista Puerto Viejo, editada em La Paz, Baja California, foi ameaçado de morte pelo presidente municipal de Loreto, Yuan Yee Cunnigham, e golpeado por membros das autoridades locais.
Em 27 de janeiro, um automóvel foi incendiado em frente aos escritórios de uma estação de rádio de Los Mochis, Sinaloa, com uma mensagem: isso é o que vai acontecer com os repórteres, nós vamos queimá-los. Atenciosamente, La Mochomera.
Em 18 de fevereiro, Juan Manuel Martínez Moreno, preso por um ano pelo assassinato do cameraman estadunidense Brad Will, foi liberado ante falta de provas.
Por outro lado, Gabriel González Gutiérrez, sentenciado a 22 anos de prisão pelo crime do jornalista Benjamín Flores González, ocorrido em 1997 em San Luis Río Colorado, Sonora, saiu em liberdade do Centro de Readaptação Social Uno de Hermosillo.
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos iniciou uma investigação com motivo dos fatos recentes nos quais foram afetados vários jornalistas em Coatzacoalcos, Veracruz e em Ciudad Juárez, Chihuahua. Por exemplo, em Coatzacoalcos, Veracruz, oito jornalista assinalam ser vítimas de textos caluniosos, difundidos através da internet. Três outros jornalistas receberam ameaças diretas.
Um grupo de sicários assassinou e dissolveu em ácido o corpo do jornalista Rodolfo Rincón, que havia sido reportado como desaparecido em 2007, em Villa Hermosa. Tabasco. A desaparição e assassinato de Rincón, jornalista do jornal estadual Tabasco Hoy, foi atribuída a membros dos Zetas devido à publicação de uma série de informes relacionados com o narcotráfico.
A Comissão Nacional dos Direitos Humanos integra um expediente de reivindicação e recolhimento de elementos que tem a finalidade de resolver questões relacionadas à suposta violação ao direito à liberdade de expressão do diretor geral do jornal El Sur, Juan Angulo Osorio, por parte da Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Guerrero. Sublinha que as autoridades devem abster-se de vulnerar o direito humano com o qual contam os jornalistas de guardar a reserva da informação que obtém com motivo do exercício de sua profissão.
A reforma eleitoral de 2007 restringiu os espaços na rádio e na televisão para os cidadãos possam se expressar livremente sobre assuntos eleitorais, ao conceder ao Instituto Federal Eleitoral (IFE) o poder exclusivo da comunicação política. Para as eleições de 2009 e 2010, o IFE estabeleceu procedimentos de igualdade para os noticiários do rádio e da televisão quando informarem sobre as eleições, o que pode representar censura prévia. O tema das eleições poderá ser debatido no Congresso no atual período legislativo.
Madrid, Espanha