Paraguai

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Neste período, a imprensa do Paraguai foi alvo de vários ataques verbais por parte do presidente da República e de políticos do governo. Jornalistas e correspondentes de meios de comunicação também foram agredidos e ameaçados. O jornal ABC Color tem sido alvo de uma intensa campanha denigridora por parte de grupos que se declaram afins ao governo. Como nas melhores épocas da ditadura de Alfredo Stroessner, em dezembro passado teve início uma intensa campanha – que continua – contra o jornal ABC Color, através de cartazes, gravuras em camisetas, pichações e Internet. A campanha é feita por grupos não denominados que se declaram partidários do governo. Seu slogan é “ABC mente” e também sua tradução ao guarani “ABC ijapu”, utilizando a tipografia do periódico. Criou-se também um blog com esse lema e que encoraja os internautas a participar da “campanha” para “gerar inquietação, perguntas, debates e discussões sobre porquê o ABC mente, já que é a única maneira de retirar tanto poder desse senhor (Aldo Zuccolillo) em quem ninguém nunca votou”. Situações semelhantes ocorreram meses antes de o ditador Stroessner resolver fechar o ABC Color. Rádios “comunitárias” ilegais têm recebido o apoio do governo por meio de publicidade estatal, através das hidrelétricas binacionais Itaipu e Yacyretá. O governo também agilizou, por meio da Secretaria de Informações e Comunicação para o Desenvolvimento (SICOM), a formação de “agentes de comunicação para o desenvolvimento”. A esse respeito, o editorial do ABC Color de 4 de janeiro de 2010, afirma que o governo “necessita organizar um sistema de meios de comunicação controlados para disseminar sua ‘verdade oficial’ em cadeia obrigatória”, já que o governo de Lugo promove a partir da SICOM a formação de ‘agentes de comunicação para o desenvolvimento’ que não serão mais que pessoas instruídas para estar à frente das ‘rádios comunitárias’, que receberão orientações do governo em vez de fazê-lo por meio do contato com as comunidades…”. Também destacou que o “passo que o governo agora está dando para impor o modelo totalitário do socialismo do século XXI – através da Conatel – é equiparar as rádios clandestinas com as legais, dando-lhes status legal e apoio financeiro através de anúncios estatais (por enquanto) pequenos e com os fundos da Itaipu e da Yacyretá, e que com isso o enxame de ‘rádios comunitárias’, que chegam a 120, deverá se transformar na ‘imprensa amiga’ do governo.” Outros fatos relevantes neste período são: Em 27 de novembro o presidente Lugo criticou a “agenda banal da mídia”, afirmando que “na agenda da mídia estão itens absolutamente banais, confrontos político-partidários, acusações, intrigas, antagonismos políticos.”. Por sua vez, o ministro de Emergência Nacional, Camilo Soares, acusou o jornal ABC Color de ser um “panfleto fascista”. O Departamento de Assuntos Jurídicos do Ministério de Defesa tentou silenciar o correspondente do ABC Color em Villa Hayes, Cirilo Ibarra. Com efeito, em dezembro do ano passado, por meio de um comunicado, o major de Justiça Militar, Gustavo Dávalos Insfrán, ameaçou processar o jornalista se ele continuasse com publicações sobre um lixão localizado em um terreno pertencente a dito Ministério e que havia sido alugado a uma empresa privada para dito fim. Em 30 de dezembro, um tribunal unipessoal a cargo da juíza Elsa García absolveu o correspondente do ABC Color, Rosendo Duarte, em ação movida por um político do Partido Colorado de Salto do Guairá, Marciano Godoy, o qual tentou silenciar uma investigação jornalística que revelou sua influência e ascendência na zona. Na ação, o político pedia a aplicação de uma multa e dois anos de prisão. Em 3 de janeiro de 2010, o correspondente no departamento de San Pedro dos jornais La Nación e Crónica foi alvo de uma brutal agressão por parte de um grupo de pessoas supostamente alcoolizadas, entre as quais o diretor de trânsito do município de Capiibary e o filho de um vereador desse distrito. O jornalista tinha chegado a um posto de gasolina para abastecer seu carro, e quando observou a briga que estava ocorrendo no lugar começou a tirar fotos, motivo pelo qual foi agredido. Dias depois, o jornalista denunciou ter recebido novas ameaças dos envolvidos no incidente. Em 9 de janeiro, o correspondente do ABC Color em San Estanislao , Sergio Escobar Rober, também no departamento de San Pedro, denunciou que havia recebido várias ameaças anônimas de morte via mensagens de texto. A perseguição começou depois da publicação da reação dos cidadãos à nomeação da oficial Virginia Villar como chefe da delegacia policial de Guayaiby, sendo que existem várias denúncias de tortura contra Villar, que foi posteriormente afastada do cargo. Em 18 de janeiro, o correspondente do ABC Color no departamento de Caazapá, Antonio Caballero, foi vítima de ameaças, via celular, advertências que haviam sido feitas por uma juíza devido a algumas matérias que a incomodavam. Em 17 de janeiro, o jornalista Secundino Silguero Rodas, da rádio Panambí Vera, de Villarrica, departamento de Guairá, e correspondente dos jornais La Nación e Crónica, de Assunção, foi alvo de um ataque por desconhecidos que dispararam contra seu carro, que estava estacionado em frente a sua residência. Dias depois, atiraram contra a fachada da casa. O jornalista vinha publicando artigos sobre dois homicídios que envolviam dois agentes da Polícia Nacional. Em 25 de janeiro, funcionários da segurança do governador do departamento de Alto Paraná, Nelson Aguinagalde, ameaçaram o jornalista do jornal Vanguardia, de Ciudad del Este, e correspondente do ABC Color, Fermín Jara, que havia ido à Catedral para apoiar o trabalho do fotógrafo Eduardo Homero que tirava fotos de locais onde havia ocorrido vandalismo causada por funcionários do governo departamental que estavam embriagados e fortemente armados. Os jornalistas foram prontamente interceptados por veículos oficiais e ameaçados com uma arma de fogo. Em 13 de fevereiro, dois motociclistas armados com escopeta e revólver interceptaram o correspondente do ABC Color em San Pedro, Cristino Peralta, perto de Nueva Germania. O comunicador estava em uma caminhonete de cabine dupla, com o logotipo do jornal, quando foi alcançado por dois homens que vinham em duas motocicletas, sem placas e sem faróis. Finalmente, o jornalista se refugiou em uma delegacia e os agressores fugiram. Em 27 de fevereiro o governador de San Pedro, José Ledesma, em uma surpreendente declaração disse ao correspondente do ABC Color de San Pedro, Cristino Peralta, que faz seu trabalho acompanhado de guarda policial devido a ameaças, que ele nunca vai ter 100% de segurança por causa da corrupção policial. Em 2 de março passado, membros da Agrupação Especializada da Polícia Nacional agrediram o correspondente do ABC Color, Higinio Ruíz Díaz, que estava fazendo a cobertura de um conflito entre duas comunidades em um bairro da localidade de J. Augusto Saldivar, do departamento Central. Um dos policiais o agrediu com o escudo, enquanto outro lhe apontava a escopeta e ameaçava disparar se o jornalista tirasse fotos do incidente. O policial, não satisfeito com as agressões, ameaçou também queimar o veículo do ABC Color. Inclusive, em várias ocasiões repetiu que “matar um jornalista não custa nada”.

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