Uruguai

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URUGUAI Neste último semestre, ocorreu um sério ataque à liberdade de expressão quando em 20 de agosto passado o sindicato que reúne os vendedores de jornais de Montevidéu decidiu não distribuir a edição correspondente a esse dia do jornal El País e ameaçou boicotar as ediçőes seguintes. A medida obedeceu à exigência sindical de que a empresa jornalística se retratasse em relação a um artigo publicado na edição anterior referente ao preço de venda dos exemplares e à porcentagem de lucros dos vendedores e distribuidores e de que revelasse o nome de seu redator. Diante da postura firme assumida pela empresa de não ceder aos pedidos e do apoio dado por autoridades públicas e entidades jornalísticas, tais como a Associação da Imprensa Uruguaia, depois de gestőes de mediação realizadas pessoalmente pelo primeiro vice-presidente da SIP, Danilo Arbilla, o sindicato recuou nas ameaças. Entretanto, a distribuição do jornal não pôde ser feita normalmente. Atualmente, estão sendo feitas gestőes para formar uma comissão mista que elabore uma fórmula que satisfaça aos interesses de ambas partes, mas que além de dar um fim a um sistema que tem cerca de 70 anos, que não tem respaldo legal e não se adapta à realidade, adeque a distribuição e comercialização dos meios de imprensa escritos a todas as possibilidades que oferecem as mudanças tecnológicas e ao mundo atual. São também preocupantes algumas práticas jornalísticas, tais como plágios por parte de meios sem a mínima ética necessária e sem nenhum tipo de profissionalismo e com supostas intençőes ideológicas, que provocam, além dos danos próprios, confusão na opinião pública e dúvidas sobre os reais valores da liberdade de imprensa. Provoca inquietação a demora, em âmbito jurídico, nas investigaçőes referentes à intervenção ou interferência nas comunicaçőes telefônicas de um meio de imprensa, concretamente o semanário Búsqueda. Elementos referentes ao caso foram manipulados por um alto funcionário da polícia. O fato foi denunciado ao promotor pelos jornalistas do semanário e à Associação da Imprensa Uruguaia (Sindicato dos Jornalistas) ainda que haja informaçőes de que se tem provas muito claras sobre os responsáveis diretos ou cúmplices, não se tem nenhum tipo de decisão. Essa lentidão na justiça também se observa em uma ação ingressada contra o mais alto funcionário policial pelos supostos crimes de simulação de crime e calúnias. Quanto aos elementos em poder da SIP referentes a esses crimes, destaca-se a demora em nível da promotoria correspondente. Isso tem a ver com a acusação sem provas feita em meados de março pelo mais alto funcionário da polícia contra o primeiro vice-presidente da SIP, Danilo Arbilla, vinculando-o gratuitamente a operaçőes de lavagem de dinheiro do narcotráfico, com base em supostas informaçőes provenientes do exterior, mais especificamente dos Estados Unidos, México e Argentina. O caso foi arquivado e três representantes dos três governos citados anteriormente confirmaram oficialmente que em nenhum momento tiveram qualquer tipo de participação nessas açőes. O caso foi noticiado em destaque pela imprensa escandalosa que, coincidentemente, segundo as denúncias da SIP, foi a mais beneficiada, no passado, pela concessão arbitrária da publicidade oficial. Como essa vice-presidência regional e os demais membros da delegação uruguaia o anteciparam na Assembléia da SIP e diretamente ao Comitê Executivo, as denúncias apresentadas na Assembléia de Houston provocaram uma campanha que em princípio voltou-se contra a SIP, inclusive com ameaças veladas a esse vice-presidente, mas que depois se concentraram especificamente na figura do primeiro vice-presidente da SIP, em vários meios e utilizando todos os tipos de ameaça. Devemos destacar que a campanha não teve os resultados esperados por seus responsáveis e isso deveu-se à responsabilidade das autoridades uruguaias, em particular o presidente da República, Jorge Batlle, o vice-presidente Luis Hierro López e o ministro do Interior Guillermo Stirling. Sem essa garantia, poderia ter ocorrido algo parecido ao que houve recentemente no Peru. O policial foi punido e aposentou-se. Entretanto, a demora na justiça, mais precisamente em nível das promotorias, não permitiu elucidar totalmente a questão, e isso deixa manchas no nome da vítima, o que na verdade foi o propósito da campanha. Cabe informar que nas últimas semanas os sócios da SIP do Uruguai entregaram mais material tanto ao Poder Executivo quanto à justiça referente à concessão arbitrária de publicidade oficial para que sejam feitas investigaçőes e se adotem as medidas correspondentes. Em 2 de maio, o comentarista esportivo Julio César Sánchez Padilla, diretor do programa “Estadio Uno” do Canal 5, estatal, foi vítima de um atentado no qual resultou ferido depois que desconhecidos dispararam diversas vezes contra ele. Nesse país existe a via criminal, além da civil, para os processos por crimes cometidos por meio da imprensa e essa via, como é notório, foi condenada e rejeitada por todas as organizaçőes de defesa dos direitos humanos e da liberdade de expressão do continente e do mundo. Entretanto, a vigência dessa possibilidade no Uruguai é aproveitada em muitos casos por figuras públicas e muitos profissionais que recorrem a essa via condenável para confundir a opinião pública e tentar que não sejam desmascarados perante o público com a ameaça de mandar os jornalistas para a prisão com o auxílio dos tribunais.

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