Colômbia

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COLÔMBIA Um grande aumento de atos de violência e pressões intimidatórias contra os jornalistas foram as principais características dos últimos seis meses na imprensa colombiana. Três jornalistas foram assassinados por motivos ligados à sua profissão, dezenas foram ameaçados por guerrilhas ou paramilitares e sete deles tiveram que abandonar o país no último semestre. O conflito armado que o país enfrenta tem criado um ambiente de crescente divisão, intimidação e intolerância que afeta de modo preocupante o livre exercício da profissão. Os seguintes são, em ordem cronológica, os principais fatos registrados. 24 de março: O grupo guerrilheiro Exército de Liberação Nacional enviou um pacote explosivo à residência do colunista Plinio Mendonza em Bogotá. O artefato foi descoberto antes de explodir. O ELN qualificou Mendonza, colunista do El Espectador, como "propagandista da violência estatal e paramilitar". O grupo subversivo também declarou que os meios de comunicação fomentam a "violência estatal como objetivo militar". As ações do ELN contra Mendonza foram rejeitadas por todas as associações de imprensa do país, porém o grupo armado ratificou em comunicado posterior suas ameaças contra os jornalistas. 12 de abril: O diretor do jornal Sur 30 Días, Rernando Rangel Moreno, foi assassinado por vários disparos por um pistoleiro na cidade de Plato, departamento de Magdalena. Rangel era também locutor de rádio e um líder comunitário ativo, que estava organizando uma paralização dos cidadãos do local. As primeiras hipóteses sobre sua morte relacionam-se ao seu trabalho comunitário e de denúncia da corrupção política do local. 13 de abril: Um jornalista e um cinegrafista do noticiário de televisão NTC ficaram feridos quando o helicóptero no qual se dirigiam para o município de San Pablo, departamento de Bolívar, foi derrubado pela guerrilha. O helicóptero no qual também viajavam membros da Polícia Nacional estava fazendo uma operação contra o narcotráfico na região. 18 de abril: Foi capturado em Medellín o suposto pistoleiro Guillermo León Restrepo, acusado de participar do crime do jornalista cubano-norte-americano Manuel de Dios Unanue, assassinado em Nova York em 1992. A morte do jornalista foi atribuída ao cartel de Cali e estaria ligada a denúncias sobre o narcotráfico no jornal La Prensa, de Nova York. Maio: Um projeto de lei de reforma do código penal que contempla penas de prisão para os jornalistas que divulguem informações sobre os julgamentos foi motivo de uma grande polêmica. A reação das associações de jornalistas conseguiu fazer com que o projeto não fosse aprovado pelo Congresso. 24 de maio: O jornalista do jornal Universal, de Cartagena, Jorge Rivera Serna, foi seqüestrado por um grupo paramilitar ao sul do departamento de Bolívar. Rivera foi liberado uma semana mais tarde, depois de ter sido agredido fisicamente e pressionado para que denunciasse a guerrilha em seus trabalhos jornalísticos. O jornalista anunciou que estava abandonando a profissão devido à falta de garantias para o seu livre exercício, e em setembro abandonou o país. 25 de junho: O jornalista Juan Carlos Aguilar e o cinegrafista Javier Jamarillo, do noticiário de televisão RCN, tiveram que deixar o país depois de receber várias ameaças de morte contra eles e seus familiares na cidade de Pereira, onde residiam. O motivo foi a transmissão de imagens que mostravam o linchamento de uma pessoa durante uma manifestação popular na cidade vizinha de Chinchiná. As imagens levaram à captura dos autores do linchamento. 30 de junho: O Comitê de Proteção de Jornalistas, Capítulo da Colômbia, denunciou as invasões da guerrilha das FARCs aos aposentos dos jornalistas que cobrem o processo de paz na zona de San Vicente dei Caguán, onde são realizados os diálogos com essa organização armada. As FARCs invadiram e vasculharam, sem autorização, os quartos dos correspondentes. 2 de julho: O correspondente do El Tiempo na cidade de Montería, Carlos Pulgarín, foi ameaçado por grupos paramilitares por suas reportagens sobre os conflitos que ocorrem nessa zona do país. Diante das repetidas ameaças, PUlgarín foi transferido pelo jornal para outra cidade do país. 11 de agosto: Unidades da procuradoria invadiram em Bogotá as instalações do El Diario Deportivo em cumprimento a uma ordem de fechamento. O referido jornal está sendo investigado por supostos vínculos de um de seus acionistas com o narcotráfico. 13 de agosto: Foi assassinado no centro de Bogotá o jornalista e humorista Jaime Garzón, alvejado por dois sujeitos que passavam em uma motocicleta quando caminhava para seu carro dirigindo-se para o trabalho na emissora Radtonet. O assassinato de Garzón, que gozava de uma grande popularidade nacional provocou uma das maiores manifestações do povo já registradas na Colómbia. A investigação de sua morte não obteve pistas concretas até o momento. Dois jornalistas da cadeia Radionet que cobriram o assassinato de seu colega receberam ameaças de morte em suas casas e locais de trabalho. 24 de agosto: Vinte e uma pessoas, entre as quais intelectuais, investigadores sociais, políticos e jornalistas, foram ameaçados de morte em uma lista que circulou entre os meios informativos e cuja autoria foi assumida por um chamado "Exército Rebelde Colombiano". O comunicado, do qual figuram os colunistas Patricia Lara, Alfredo Molano, Alejandro Reyes Posada e Arturo Alape, acusa essas pessoas de "alimentar o ódio e a luta de classes entre os colombianos'. 27 de agosto: Um dos programas de maior audiência na televisão colombiana, "María C. Contigo", foi suspenso pela Comissão Nacional de Televisão devído a seu conteúdo não adequado para a família. A programadora punida ingressou com ação de tutela perante o poder judicial e o programa voltou ao ar uma semana depois. 2 de setembro: Dois jornalistas e três cinegrafistas das cadeias RCN e Caracol foram detidos, junto com várias pessoas durante uma invasão da guerrilha da central hidrelétrica de Anchicayá, no departamento de Antioquia, e foram liberados depois de cinco dias. 16 de setembro: O comunicador Germán Quintero Torres, redator-chefe do jornal regional El Pilón e correspondente do noticiário "Tele Caribe", foi assassinado em Valledupar por um pistoleiro que, sem dizer nada, atirou em sua cabeça. Quintero Torres tinha sido ameaçado depois de publicar artigos sobre o grupo paramilitar" Autodefesas unidas da Colômbia". Em 29 de setembro foram capturadas duas pessoas como supostos autores materiais do homicídio. 27 de setembro: O jornal El Espectador anunciou a saída de seu diretor Rodrigo Pardo García-Pefia. O fato surpreendeu o meio jornalístico e vários colunistas de vários jornais garantiram que a saída de Pardo fora causada por pressôes do governo junto ao proprietário do Grupo Empresarial Bavaria, grupo que adquiriu a maioria das ações do El Espectador em 1997. 4 de outubro: A Procuradoria-geral do país anunciou a criação de uma unidade especial encarregada de investigar e esclarecer os homicídios perpetrados contra jornalistas colombianos. A decisão da procuradoria foi motivada pelas inquietações apresentadas pela SIP quanto ao assassinato do jornalista Hernando Rangel Moreno, ocorrida em 12 de abril. Sobre esse caso, a procuradoria informou que já existem hipóteses sérias sobre as possíveis causas e autores da morte do jornalista. S de outubro: O investigador e colunista do El Tiempo, Alejandro Reyes Posada, abandonou o país depois de receber repetidas ameaças de morte. Reyes é especialista em assuntos agrícolas e havia publicado trabalhos sobre a posse de terra nas zonas dominadas pela guerrilha e os paramilitares. Nessa mesma semana,e por motivos parecidos, ameaças de morte, abandonou o país, o subdiretor do "Noticiero de las Siete", Hernando Corral, que também trabalhava como colunista do El Tiempo.

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