PARAGUAI

Aa
$.-
A situação da liberdade de imprensa se viu afetada, no geral, por contínuos ataques verbais por parte das mais altas autoridades do país e, em particular, pela violência do crime organizado contra jornalistas e meios de comunicação. O assassinato de um jornalista e o reaparecimento com vida de outro que havia desaparecido há mais de um ano e praticamente se dava como morto, foram fatos que sacudiram a opinião pública. Em 14 de julho reapareceu o jornalista de rádio Enrique Galeano em São Paulo, Brasil, que havia desaparecido em 4 de fevereiro de 2006. Seu desaparecimento tinha sido atribuído a grupos mafiosos de traficantes de drogas conectados ao poder político. Durante meses foi intensamente procurado por órgãos de segurança e investigadores independentes, e também foi apresentada uma denúncia contra o Estado em tribunais internacionais de direitos humanos. O reaparecimento de Galeano, que era dado como morto, não minimiza nem um pouco as denúncias dos perigos do livre exercício do jornalismo na zona de Yby Yaú e na fronteira com o Brasil, onde foram comprovados casos de amedrontamento, agressões e assassinatos contra jornalistas que não foram esclarecidos, por parte de traficantes de drogas protegidos por setores políticos, policiais e judiciais corruptos. O retorno de Galeano causou uma reação por parte do governo nacional, que acusou o jornalista, as associações de comunicadores e os meios de comunicação de montar uma farsa com o objetivo de prejudicar a imagem do país e buscar a queda do Partido Colorado. O presidente Duarte Frutos, em declarações de 16 de julho, falou de uma “maquinaria de infâmia contra os colorados” e ameaçou com ações penais contra aqueles que haviam prejudicado o Estado com suas denúncias em tribunais internacionais. O desenlace do caso Galeano intensificou um fenômemo que há meses vinha ocorrendo. Trata-se dos virulentos ataques do Partido Colorado e, de forma muito particular, do Presidente à imprensa, que perante a Assembléia Geral das Nações Unidas em 25 de setembro passado, acusou a imprensa de se manter em um “maniqueísmo vil” e de não se converter em um “veículo para a veracidade informativa e a opinião séria”. Em 7 de agosto, em plena campanha eleitoral, Duarte Frutos disse que os donos de meios de comunicação eram contrabandistas e evasores. “Esses são os que querem agora dar lições de ética e moralidade. Pensam que com tinta, flashes e câmeras podem ganar o coloradismo”. Quatro dias mais tarde voltou à carga contra o “capital mercantil que controla os meios de comunicação” e os jornalistas que publicam meias verdades para prejudicar o partido colorado. Em 15 de agosto, coincidindo com uma visita de membros da SIP, ratificou que continuaria atacando a imprensa “parcial, setorizada e manipuladora” e convocou seus partidários a “não se intimidarem perante a imprensa anticolorada”. Em 21 de agosto foi assassinado em Mayor Otaño, a 300 quilômetros de Assunção, o jornalista de rádio de origem chilena Alberto “Tito” Palma. As suspeitas recaem, uma vez mais, sobre o tráfico de drogas da zona de Itapúa com a cumplicidade de policiais. O fato não atenuou a ofensiva oficialista. Em 26 de agosto o presidente Duarte Frutos denunciou uma “conspiração dos meios através de jornais, canais e rádios”, e em 6 de setembro acusou os donos de meios de comunicação de desejar sua morte. Em 12 de setembro, o titular da juventude colorada, Hugo Ramírez, convocou um boicote aos meios de comunicação, tanto que o senador Juan Carlos Galaverna, durante o aniversário do partido do governo, se manifestou com dureza contra Aldo Zucolillo, diretor do jornal Abc color. Dois dias mais tarde, o deputado Benjamín Maciel Pasotti criticou individualmente os diretores e as famílias proprietárias dos três principais jornais de circulação nacional, acusando-os de contrabandistas e falsificadores. Em 26 de setembro, o candidato opositor à Presidência, Fernando Lugo, qualificou a imprensa de “interessada” por defender somente os interesses particulares de seus proprietários. Como elemento positivo, destaca-se a visita de uma delegação da SIP em 14 de agosto, que promoveu no Congresso um debate sobre a necessidade de uma lei de acesso à informação pública. Outros fatos a serem considerados: Em 15 de maio, o deputado Julio Colmán, do partido colorado, atacou o correspondente do jornal Abc color em Santaní, atordoado pela cobertura do momento em que seu filho, detido por um acidente de trânsito, entrava em julgamento. Colmán destruiu parte do equipamento do jornalista. O correspondente do jornal Ultima Hora em Capitán Miranda (330 quilômetros de Asunción), Oscar Bogado, denunciou o amedrontamento sistemático por meio de chamadas telefônicas por parte de traficantes de drogas da região. Em 13 de agosto, o correspondente dos jornais La Nación e Crónica em Capiibary (320 quilômetros de Asunción) recebeu ameaças de morte como conseqüência da divulgação de vídeos amadores que envolviam membros da familia de um vereador. Luis Ayala, cameraman do canal 13 da Ciudad del Este, denunciou um brutal ataque por parte de três policiais em uma delegacia da localidade. Em 28 de setembro, a juíza Nilse Ortiz declarou improcedente a ação iniciada por César Rojas Mignarro contra o jornal La Nación. Em 5 de outubro, o deputado liberal Blas Riveros processou por difamação o correspondente do jornal Abc color em Concepción, Telmo Ibáñez. O jornalista reportou que havia sido encontrado gado roubado em uma propriedade do legislador.

Compartilhar

0