Oito meses depois de sua chegada ao Palácio Queimado da praça Murillo na cidade de La Paz, o governo da corte populista do presidente Evo Morales Ayma, leva suas relações com a imprensa boliviana em geral em um ambiente sem dissimulações e com crescentes tensões.
Em 24 anos de vida democrática se algo caracterizou a Bolívia foi o respeito que as gestões governamentais que se alternaram no poder observaram pela liberdade de imprensa e de expressão. No mínimo não se produziram atentados ou restrições graves contra esse direito consagrado na Carta Magna da república.
Os primeiros sinais inquietantes de que as relações governo-imprensa começariam a transitar por um caminho escabroso foram dados pelo próprio presidente Morales em seu discurso de posse quando atacou a rede privada de televisão Unitel, denunciando seus proprietários como latifundiários e representantes da oligarquia que, segundo ele, se opões às mudanças revolucionárias que pretende implementar no seu governo. Desde então Morales quase não tem perdido a oportunidade de atacar as equipes de imprensa da Unitel, inclusive em concentrações públicas com o conseqüente risco para os repórteres e cameramen dessa rede de televisão.
Recentemente, em uma entrevista com a rede Telesur, Morales declarou que seu governo é vítima do terrorismo da mídia, embora sem acusações específicas, enquanto o vice-presidente Álvaro García Linera disse que as mudanças políticas e sociais são objeto de sistemáticos ataques dos meios controlados pela oligarquía.
Essas declarações calaram fundo entre os denominados movimentos sociais que costumam pressionar a Assembléia Constituinte que delibera em Sucre para redigir uma nova constituição. Lá, a tarefa dos jornalistas se realiza em um ambiente de hostilidade onde permanentemente abundam os insultos e ameaças contra a que se considera imprensa burguesa ou imprensa racista.
O governo aponta para a criação de sua própria rede de meios de comunicação com o apoio financeiro da Venezuela. Colocou em funcionamento cinco de trinta rádios comunitárias em áreas rurais do ocidente e pretende instalar um canal de televisão para gerar informação alternativa nas comunidades originárias.
Não surpreende o que ocorre com o Canal 7, canal estatal, já que gestões de governo anteriores também o utilizaram como um meio de informação governamental, assim como a agência oficial de notícias ABI (Agencia Boliviana de Información).
Comenta-se com insistência sobre mudanças na Lei de Imprensa que na Bolívia data de 1925, mas preocupa que não se conheçam essas mudanças, assim como um projeto de lei que introduziria o Conselho Nacional de Ética, impulsionado por diferentes entidades jornalísticas nacionais.
Em virtude de um conflito em que a Federação de Jornaleiros da Bolívia manteve um boicote contra a distribuição e venda de La Razón, cerca de 200 empregados do jornal, entre jornalistas, funcionários, fotógrafos e voluntários, saíram às ruas no domingo, 17 de setembro para vender o jornal ocasião em que foram agredidos pelos jornaleiros) e em alguns casos tiveram roubados os exemplares.
O litígio teve início em fins de agosto quando o sindicato apresentou à empresa um requerimento de 10 pontos, entre os quais exigia a transferência total das assinaturas da empresa a favor dos jornaleiros. O ofício petitório é um documento de pedidos que é cabível unicamente quando existe uma relação patrão-empregado, conforme estabelece a Lei Geral do Trabalho.
Outro fato que ocorreu em meados de julho quando o prefeito de Santa Cruz de la Sierra, Percy Fernández, fez declarações públicas e ameaças contra jornalistas do jornal El Deber naquela cidade. O funcionário deixou entrever que tentaria impedir que o jornal informasse sobre sua gestão de governo e limitaria o acesso à informação a seus jornalistas.
Madrid, Espanha