Mexico

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Persiste no país um padrão de ataques e crimes contra jornalistas por parte principalmente do crime organizado, em particular do narcotráfico. Isso ocorre em uma zona muito específica, a fronteira norte do país, próxima aos Estados Unidos, onde o trabalho jornalístico continua sendo um ofício de alto risco. A violência ocorre em um ambiente geográfico, econômico e cultural complexo, no qual a presença do narcotráfico exerce uma ação grave, por vezes brutal, na vida das comunidades. Com recursos econômicos ilimitados, os chefões da droga conseguem subordinar vários atores sociais, desde autoridades até pais de família, e ocorrem também casos isolados de jornalistas que se subordinam a eles. É possível imaginar o dilema que enfrentam muitos jornalistas na região: ou aceitam se submeter ou colocam sua vida em risco. Ou, para citar o comentário comum na região: devem escolher entre dois metais, o ouro ou o chumbo. Os riscos não são menores para os que aceitam negociar com o narcotráfico. Podem ser vítimas de um bando contrário ou executados se lhes for atribuída uma infidelidade. Em 19 de janeiro, foi assassinado o jornalista Félix Fernández, em Ciudad Alemán, Tamaulipas, fronteira com o Texas. O jornalista viajava em seu carro quando foi atingido por rajadas de metralhadora disparadas de outro carro em movimento. Fernández foi diretor do jornal local Opción, de propriedade de um ex-prefeito local que foi vinculado ao narcotráfico por autoridades federais. Duas pessoas foram detidas em conexão com o assassinato. Em 2001, três jornalistas foram assassinados na região fronteiriça, sem que as autoridades tenham informado sobre progressos no esclarecimento desses casos. Trata-se de José Luis Ortega Mata, morto em 19 de fevereiro em Ojinaga, Chihuahua; Valentín Dávila Martínez, morto em agosto em Ciudad Juárez, Chihuahua, e Saúl Antonio Martínez, em 24 de março em Matamoros, Tamaulipas. Continua sem punição a morte dos jornalistas Héctor Félix Miranda, em 29 de abril de 1988, e de Víctor Manuel Oropeza, em 3 de julho de 1991, casos investigados pela SIP que motivaram recomendações da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que definiu a responsabilidade internacional do Estado mexicano pelas violações cometidas. Continuam ocorrendo retrocessos graves em termos judiciais. Um exemplo é o caso do jornalista norte-americano Philip True, morto em dezembro de 1989 em uma região indígena do estado centro-ocidental de Jalisco. Os supostos assassinos, que estavam presos aguardando sentença, foram libertados em agosto de 2001, supostamente por desaparecimento de provas. Uma apelação apresentada por Martha True, esposa do jornalista falecido, juntamente com o procurador do Estado, ainda não obteve resolução por parte do poder Judiciário do Estado. Em 15 de janeiro, o jornalista Jesús Blancornelas, co-diretor do semanário Zeta, de Tijuana, informou em sua coluna que havia recebido ameaças de morte cinco dias antes através de uma mensagem recebida por e-mail. Em 27 de novembro de 1997, Blancornelas sofreu um atentado no qual ficou gravemente ferido e no qual um de seus acompanhantes morreu. Em novembro de 2001, o coordenador da Polícia Federal Preventiva no México, o general Francisco Arellano Noblecía, moveu processo por difamação, perante um juiz federal da Cidade do México, contra o jornal El Imparcial de Hermosillo, depois de esse jornal ter publicado, em julho passado, que Arellano Noblecía era a mesma pessoa que, 25 anos antes, em outubro de 1975, havia coordenado uma operação policial para desocupar terras em Sonora e na qual morreram vários camponeses. Inicialmente, Arellano Noblecía publicou em um jornal da Cidade do México cópias de cheques supostamente não identificados, com os quais acusou o El Imparcial de receber dinheiro do narcotráfico, o que resultou em um processo movido pela editora do jornal. Em 19 de fevereiro, Laura Eugenia Mendoza Sarao, repórter da emissora de rádio XEA, de Campeche, foi agredida por líderes locais enquanto cobria um evento político. Informes em jornais nacionais e agências de notícias, tais como a Associated Press, revelam que jornalistas de Ciudad Juárez, Chihuahua, denunciaram perseguições por parte de autoridades estaduais em resposta às investigações jornalísticas que abordam a incapacidade oficial diante da insegurança pública na região, especialmente no caso da morte de dezenas de mulheres trabalhadoras da região. Em 16 de março, em um incidente sem precedentes, um grupo de oito guardas da empresa de Tamaulipa, de segurança particular, Grupo de Servicios Impulsos, S.A. de C.V., liderados por um suposto representante do Instituto Mexicano de Previdência Social, Gerardo Rodríguez Valdés, que não mostrou nenhuam identificação, invadiram as instalações do jornal Vanguardia, de Saltillo, derrubaram a porta principal com um guindaste, causaram danos ao patrimônio, desconectaram a mesa telefônica e permaneceram nas instalações durante mais de duas horas, impedindo a entrada e saída dos funcionários, e o livre trânsito nas áreas de trabalho. Pretendiam apoderar-se ilicitamente do jornal, ignorando o estado de direito e as garantias individuais concedidas na constituição geral da República e os princípios essenciais que a lie de imprensa consagra. Depois das denúncias de dano moral e difamação que enfrentaram por parte das autoridades do Estado de Campeche em 1994 e 1995, diretores do jornal Tribuna, de Campeche, moveram um processo para exigir o pagamento por perdas e danos. Os processos foram interrompidos arbitrariamente para proteger os interesses dos acusados. Para o novo período legislativo, serão considerados três projetos referentes a jornalistas e meios de comunicação: a reforma da lei que criou o prêmio de jornalismo que o governo não mais concederá; a nova lei de rádio e televisão; a lei de transparência informativa que dará acesso às informações oficiais.

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