Estados Unidos

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Algumas das questões mais preocupantes relativas à liberdade de imprensa nos Estados Unidos desde a reunião de outubro da SIP em Washington referem-se à guerra ao terrorismo liderada pelos Estados Unidos. Daniel Pearl, chefe da sucursal do The Wall Street Journal no Sul da Ásia, foi seqüestrado em janeiro no Paquistão e assassinado por um grupo que se autodenomina "Movimento Nacional para a Restauração da Soberania do Paquistão". Pearl estava investigando os vínculos locais entre Richard C. Reid, o "terrorista" com a bomba no sapato, e a rede Al Qaeda, de Osama Bin Laden. Seus captores afirmaram primeiro que Pearl era membro da CIA e posteriormente do Mossad, serviço de inteligência israelense. Exigiram, entre outras coisas, a libertação imediata de prisioneiros paquistaneses do Afeganistão que estavam sendo interrogados na base naval norte-americana de Guantánamo, Cuba. Ameaçaram seqüestrar outros jornalistas norte-americanos. A Sociedade Interamericana de Imprensa pediu, em carta enviada à embaixada do Paquistão em Washington, que o governo fizesse o possível para obter a libertação de Pearl. O editor do The Wall Street Journal, Peter R. Kann, e o vice-diretor Paul E. Steiger, afirmaram em uma declaração após a confirmação da morte de Pearl: "Seu assassinato foi um ato bárbaro que vai contra tudo aquilo em que os seqüestradores de Danny afirmam acreditar. Afirmam ser nacionalistas paquistaneses, mas suas ações são motivo de vergonha para todos os verdadeiros patriotas do Paquistão. Nos próximos meses, celebraremos de forma pública e privada e de todas as formas possíveis, o excelente trabalho de Danny e suas boas ações". Depois da morte de Pearl, foram criados dois Fundos Daniel Pearl, um por seu empregador, a Dow Jones and Co., e outro pela família de Pearl. Esse último pretende apoiar causas que inspiraram a vida e a obra de Daniel, promover um entendimento entre diferentes culturas e evitar a violência motivada por intolerância. Vários suspeitos foram presos no Paquistão, mas o caso ainda não foi esclarecido. No Pentágono, alguns funcionários do governo do presidente Bush trabalham na campanha de desinformação que aumenta a vulnerabilidade dos repórteres e compromete a confiança do público no que se lê e ouve na mídia. O governo ponderou se um recém-criado Departamento de Influência Estratégica poderia divulgar informações para auxiliar na próxima fase da guerra ao terrorismo. Depois que suas intenções foram reveladas na imprensa, a Casa Branca e o Pentágono negaram imediatamente que pudessem eventualmente influenciar a opinião mundial espalhando falsos rumores por meio da mídia. Em 26 de fevereiro, o ministro de Defesa, Donald Rumsfeld, anunciou que o referido departamento seria fechado e enfatizou que o Departamento de Defesa não havia usado, não pretendia usar e não usaria recursos de desinformação. Outra questão preocupante, além das informações falsas, é a falta delas. A Sociedade Norte-americana de Diretores de Jornal emitiu um alerta especial sobre mudanças de política da Lei de Liberdade de Informação que tem importantes implicações para os jornais. Um memorando emitido pelo escritório do ministro da Justiça John Ashcroft em outubro determinava que antes que uma agência federal possa fornecer informações segundo pedido feito de acordo com a Lei de Liberdade de Informação, deve considerar a "segurança nacional, para aumentar a eficiência de nossos órgãos policiais, proteger informações comerciais delicadas e, também, preservar a privacidade das pessoas". Vários defensores da Lei de Liberdade de Informação demonstraram sua preocupação afirmando que a política pode representar uma drástica mudança na forma em que isso afetará o fluxo fundamental de informações provenientes do governo federal. Dan Metcalfe e Richard Huff, co-diretores do departamento de Informação e Privacidade do ministério da Justiça, afirmaram considerar a política uma "mudança natural" dentro de uma nova administração e que não deveria representar mudanças significativas. Huff disse que as principais preocupações após os ataques de 11 de setembro eram pedidos que envolviam a segurança nacional e o cumprimento da lei. "Pode ser que haja mais cuidado na divulgação de informações", disse Huff. O alerta da Sociedade Norte-americana de Diretores de Jornal pedia que os diretores de jornais prestassem atenção especial aos resultados dos pedidos de informação com base na Lei de Liberdade de Informação feitos por seus jornais. Disse também que estava procurando exemplos de negativas que apresentem diferenças em relação a pedidos de informação feitos no passado. O medo do antrax que reinava durante o período da reunião de outubro parece ter desaparecido, mas não houve nenhuma prisão de pessoas ligadas ao caso. Segundo agentes policiais, o FBI identificou uma "pequena lista" de 18 a 20 pessoas que tinham os meios, a oportunidade e um possível motivo para enviar as cartas com antrax que mataram cinco pessoas no ano passado. Uma das pessoas que morreu nos incidentes com antrax trabalhava na American Media e outras pessoas na American Media, NBC e CBS foram contaminadas durante o que pareceu ser uma campanha contra a mídia. As mais recentes conclusões do FBI consideram provável que os responsáveis estejam ligados a algum laboratório que tenha sofrido sanção do governo na costa leste do país. No Afeganistão, o Pentágono continua mantendo um controle total do acesso a áreas nas quais os jornalistas podem fazer suas reportagens. Um confronto dramático ocorreu em 10 de fevereiro quando Doug Struck, repórter do The Washington Post, chegou a Zhawar, local afastado no Afeganistão, para verificar informações de que um míssil norte-americano havia matado por engano inocentes civis. Soldados norte-americanos armados impediram-no de continuar em um determinado ponto e ameaçaram atirar contra ele se prosseguisse em seu caminho. Struck disse, do Afeganistão, que "o importante não é o fato de Dough Struck ter sido ameaçado. O incidente mostra os extremos do Exército para manter essa guerra em sigilo e impedir que os repórteres descubram o que está acontecendo". Um porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano disse que "era difícil acreditar" nas afirmações do jornalista. Outro caso em que a Sociedade Interamericana expressou seu protesto foi o de Vanessa Leggett, uma escritora free-lance do Texas que foi libertada da custódia federal em Houston depois que uma intimação de um tribunal federal expirou, em 4 de janeiro. Ela ficou 168 dias na prisão por ter se recusado a testemunhar perante um tribunal federal e negou-se a entregar seus materiais de pesquisa. Pediu que o Supremo Tribunal revisasse seu caso, mas este ainda não se pronunciou a respeito. Os promotores deixaram em aberto a possibilidade de intimá-la e de prendê-la novamente. Também no Texas, o presidente Bush colocou mais de 1.800 caixas de documentos relativos a seu período como governador do Estado na biblioteca de seu pai, na Texas A&M University, em vez de colocá-los nos arquivos estaduais. Na cidade de Nova York, colegas do ex-prefeito Rudolph W. Giuliani celebraram um contrato com a cidade no qual os documentos do prefeito ficam sob controle do Centro Rudolph W. Giuliani para Assuntos Urbanísticos. Esses dois casos preocupam os arquivistas que temem que a colocação de documentos públicos em instituições particulares permita que haja restrições quanto ao acesso do público e da imprensa a seus documentos oficiais para atuais e ex-funcinários públicos.

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