COLÔMBIA

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O jornalismo colombiano continua sofrendo agressões e ameaças de vários tipos. Nesse período, dois jornalistas foram assassinados por motivos profissionais: Orlando Sierra Hernández, subdiretor do jornal La Patria, e Alvaro Alonso Escobar, do jornal El Informador, e do semanário La Región, no departamento de Magdalena. Dezessete jornalistas foram ameaçados, sete por paramilitares e dois pela guerrilha das FARC. Outros oito receberam ameaças anônimas, supostamente da máfia do narcotráfico. Nove desses jornalistas foram retirados de suas cidades de origem e levados para Bogotá. Dois deles saíram do país. Alguns jornalistas ameaçados trabalhavam em cidades onde existem grupos guerrilheiros ou paramilitares, tais como Florencia, Barrancabermeja, Valledupar e Pasto. Nesse semestre, a justiça colombiana absolveu os assassinos dos jornalistas Amparo Leonor Jiménez e Guzmán Quintero Torres. Nos dois casos, a procuradoria e o Ministério Público entraram com recurso contra a decisão. Em outubro, o ministro do Interior, Armando Estrada, durante uma reunião sobre Informação e Terrorismo, acusou os meios de comunicação de ajudar a consolidar uma cultura da violência e advertiu que "é necessário regulamentar as condições de liberdade em que os meios operam e analisar sua responsabilidade frente à crise atual". Há alguns dias, a Comissão Nacional de Televisão apresentou um projeto com o qual tentava regulamentar a transmissão de imagens e declarações dos grupos violentos na televisão pública, privada e regional. A norma pretendia proibir a transmissão de entrevistas ou comunicados de porta-vozes de grupos armados fora da lei. Proibía também a transmissão de closes de imagens nas quais eram violados direitos humanos, tais como massacres, atentados terroristas e seqüestros. Depois de um protesto generalizado dos meios de comunicação, o presidente Andrés Pastrana enviou uma carta à Comissão Nacional de Televisão na qual rejeitava a regulação restritiva e defendia um acordo. Em um comunicado de novembro, as Autodefesas Unidas da Colômbia ameaçaram um grupo de jornalistas do departamento de Nariño e deram-lhes 48 horas para abandonar a região sob pena de serem executados. Cristina Castro, do canal RCN; Germán Arcos, cinegrafista da Caracol TV; e Oscar Torres, subeditor do jornal Sur foram transferidos para Bogotá pelo Comitê de Proteção a Jornalistas do Ministério do Interior. Oscar Torres abandonou o país. Alfonso Pardo, jornalista e correspondente do semanário Voz, também foi ameaçado. Os comunicadores de Nariño protestaram contra as ameaças a seus colegas. Em dezembro, dois homens interceptaram uma caminhonete do semanário regional El Tabloide, da cidade de Tuluá, no Valle do Cauca, na qual viajavam o editor judicial Julio Morales Torres e o repórter gráfico, Armando Yepes. Os homens se identificaram e confiscaram materiais jornalísticos referentes a processos judiciais nos municípios de Sevilla e Calcedonia. Em 23 de dezembro, foi assassinado em sua casa o jornalista Alvaro Alonso Escobar, em Fundação, departamento de Magdalena. Escobar, de 49 anos, que recebeu três tiros na cabeça, era correspondente do jornal El Informador, de Santa Marta, e diretor-proprietário do semanário Región. Escobar havia denunciado casos de corrupção política na cidade de Fundación. O diretor anterior desse semanário, Hernando Rangel Moreno, também foi assassinado em março de 1999 depois de denunciar políticos locais e o prefeito de El Banco, Magdalena. As autoridades capturaram o ex-congressista Carlos Oviedo Alfaro, que havia fugido da prisão há alguns meses. Oviedo Alfaro foi condenado a 38 anos de prisão por homicídios, e a procuradoria-geral o investiga como suposto mentor do assassinato dos jornalistas Jairo Elías Márquez e Ernesto Acero Cadena, na cidade de Armenia. Em janeiro, o Tribunal Penal de Valledupar emitiu sentença de absolvição em favor de Velásquez e Rodolfo Nelson Rosado, supostos autores do assassinato no caso do homicício do jornalista Guzmán Quintero Torres, ocorrido em setembro de 1999,. Em 20 de janeiro, o mesmo tribunal absolveu Libardo Prada Bayona, acusado como mentor do assassinato da jornalista Amparo Leonor Jiménez, ocorrido em agosto de 1998. Em ambos os casos, os promotores e o Ministério Público apelaram da decisão do juiz e espera-se o pronunciamento do Tribunal Penal de Valledupar, cidade onde ocorreram os homicídios. Em 30 de janeiro, o subdiretor do jornal La Patria, Orlando Sierra Hernández, foi baleado por um pistoleiro quando estava com sua filha de 19 anos em frente às instalações do seu jornal. O jornalista faleceu 48 horas depois e sua morte provocou um enérgico protesto de todos os meios de comunicação, sete dos quais realizaram uma investigação conjunta para descobrir o autor do crime. No dia do assassinato, Fernando Soto Zapata foi detido como autor do assassinato. As autoridades continuam suas investigações para descobrir o mentor do crime e os primeiros indícios apontam para uma coalizão de políticos locais que Sierra havia criticado duramente em suas colunas. No mesmo 30 de janeiro, as FARC fizeram explodir um carro-bomba com 30 kg de dinamite nos fundos da sede de Caracol Noticias, em Bogotá. Uma semana antes, o grupo guerrilheiro havia pedido que o governo retirasse a licença dos meios de comunicação que "promoviam o paramilitarismo". Em fevereiro, a jornalista Claudia Gurisatti, diretora do programa de opinião "La Noche", do canal RCN, saiu novamente do país. O RCN informou em um comunicado que a jornalista teve de abandonar o país por motivos de segurança, pois as ameaças a ela haviam se intensificado. Em 30 de janeiro do ano passado, Gurisatti havia saído do país pelo mesmo motivo. Em relação a esse caso, a Unidade de Direitos Humanos da Procuradoria emitiu, em maio de 2001, mandado de prisão contra três supostos membros das FARC, que teriam sido encarregados de cumpir as ameaças. Essas pessoas continuam detidas. A procuradoria-geral recusou o pedido da parte civil de manter aberta a etapa investigativa do processo do assassinato de Jaime Garzón, e até agora não foram apresentadas novas provas. A procuradoria encerrou a etapa de investigação e dá prosseguimento ao caso para qualificar o mérito da investigação. Acusará os pistoleiros capturados e os paramilitares de serem os autores e mentores do crime, descartando a possível participação dos militares no serviço ativo do crime. As FARC seqüestraram o jornalista Christian Miller, correspondente do Los Angeles Times, em El Curillo, na fronteira dos departamentos de Putumayo e Caquetá. O jornalista foi libertado 24 horas de depois. Depois de um pedido expresso do candidato à presidência, Horacio Serpa, o governo pediu à OEA que enviasse uma comissão para monitorar as informações eleitorais. O pedido afirma que "o alto índice de audiência dos meios privados de comunicação representa um risco para a objetividade do eleitorado no caso daqueles que não cumpram seu dever de informar de forma imparcial e igualitária sobre as campanhas políticas, razão pela qual um controle extra nesse aspecto promove um verdadeiro equilíbrio informativo". Por causa do rompimento do diálogo com as FARC, os jornalista Efraín Jiménez, da RCN Radio; Alfonso Altamar (free-lance) e María Luisa Murillo, correspondente do El Tiempo, que estavam trabalhando na área desmilitarizada expressaram seu temor pelo que poderia lhes acontecer na nova situação. Em dezembro do ano passado, esses jornalistas foram detidos por paramilitares quando se dirigiam a Bogotá para se reunir com o relator de Liberdade de Imprensa da OEA. O Comitê de Proteção a Jornalistas tomou medidas de proteção para os jornalistas. Durante a semana posterior à ruptura do diálogo com as FARC, o Exército colombiano impediu que vários jornalistas de meios nacionais e internacionais tivessem acesso à antiga área desmilitarizada, onde ocorriam os diálogos do governo com as FARC. O comandante da XII Brigada Militar argumentou que a medida tinha como objetivo garantir a segurança dos profissionais de imprensa por causa dos bombardeios da Força Aérea no local. O jornalista Arnulfo Sánchez, de 65 anos, proprietário da emissora Ecos de Combeina, foi seqüestrado pelas FARC em Tolima. Trata-se de um seqüestro para extorsão. No final de fevereiro, as FARC atacaram as instalações de comunicações em Pitalio Huila, afetando as redes de transmissão da emissora local. No município de Acevedo, também em Huila, foram roubados os equipamentos de transmissão da emissora comunitária Onda Zero. No dia seguinte, o jornalista Divier Alexander López, vinculado à emissora, saiu da região por temer por sua segurança. A emissora suspendeu suas transmissões. Em março, vários meios de comunicação receberam uma mensagem anônima com uma sentença de morte para sete jornalistas: Carlos Girardo, do RCN; Julia Navarrete, de Caracol; Marilín López, do NTC; José Antonio Jiménez, de TV Hoy; Jairo Lozano, do El Tiempo; Hernando Marroquín, da Caracol Radio, e Jairo Naranjo, da RCN Radio. A mensagem dizia: "Vocês têm 72 horas para sair do país. Se não o fizerem, vocês e suas famílias serão alvo militar. Estão sendo vigiados e sabemos onde moram. Comando Morte." O Comitê de Proteção a Jornalistas e o diretor de Direitos Humanos da Polícia assumiram o caso e aprovaram o uso de guarda-costas pelos jornalistas. Vinte e quatro horas depois do recebimento da mensagem, o jornalista esportivo do jornal El Tiempo, Mauricio Bayona, recebeu repetidas ameaças de morte relacionadas às suas colunas dirigentes de times profissionais de futebol. Todas essas ameaças foram feitas pela máfia do narcotráfico. Para concluir, devemos notar que, ainda que o conflito armado que ocorre na Colômbia continue sendo a causa das piores agressões à liberdade de imprensa, nesse último período o narcotráfico, como vemos nessas últimas ameaças, e principalmente a corrupção política, transformaram-se em um fator preocupante de violência, intimidação e autocensura. O assassinato de dois jornalsitas neste semestre por motivos profissionais está vinculado a denúncias de setores públicos de suas respectivas localidades.

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