Estados Unidos

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No final de fevereiro, dois anúncios surpreendentes reforçaram o que muitos já sabiam – o setor da mídia nos Estados Unidos enfrenta um dos seus piores períodos na história moderna. Primeiro, a E.W. Scripps Company anunciou o fechamento do Rocky Mountain News, de Denver, que estava em circulação há 150 anos. Trata-se do maior jornal norte-americano a ser fechado nesses dois anos de forte declínio da receita com publicidade. O jornal, conhecido como "The Rocky" tinha uma reputação de longa data como sendo um dos melhores do país, mas perdeu US$16 milhões em 2008 e não conseguiu superar os desafios econômicos. Sua edição final – com a manchete "Goodbye, Colorado" (“Adeus, Colorado”) – , publicada em 27 de fevereiro, deixou Denver com apenas um jornal diário. Alguns dias depois, a American Society of Newspaper Editors (ANSE) anunciou que estava cancelando sua convenção anual pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. O grupo de editores de revistas anunciou logo depois o cancelamento da sua convenção. As inscrições para a reunião dos editores de jornais estavam muito abaixo das dos anos anteriores. A indústria "está em crise”, disse o presidente do maior grupo de editores dos EUA. Também em fevereiro, a Philadelphia Newspapers entrou com pedido de proteção à falência, com pelo menos US$400 milhões em dívidas. Desde dezembro, três outras companhias de mídia solicitaram a proteção à falência -- The Tribune Company, com jornais em Chicago, Los Angeles, Fort Lauderdale e Orlando; Star Tribune, em Mineápolis, e a Journal Register Co. com sede em New Haven, Connecticut. Em Detroit, considera-se a possibilidade de publicar o jornal apenas três vezes por semana. De acordo com o blog graphicdesignr.net/papercuts/, que acompanha as reduções de pessoal em jornais, cerca de 15.000 empregos desapareceram em 2008. Este ano, 3.000 empregos já foram perdidos. As implicações perturbadoras para a liberdade de imprensa e para um jornalismo vigoroso nos Estados Unidos são óbvias. Menos jornais e jornais com bem menos jornalistas significa que haverá menos “cães de guarda” para expor os casos de corrupção e a incompetência no governo e nos setores privados. As exigências crescentes de fornecer aos leitores notícias contínuas on-line 24 horas por dia mudaram a cultura da maioria das redações. O desafio assustador que enfrenta a maioria dos diretores de jornais é como continuar oferecendo algo parecido com as reportagens investigativas e de serviço público que exigem tanto tempo para ser feitas, numa época em que os recursos reduziram-se dramaticamente. É algo que pode ser feito, mas para isso será necessário modificar os fundamentos tradicionais da cobertura noticiosa. De um ponto de vista mais otimista, podemos observar os primeiros sinais de que o novo governo em Washington está aberto a discutir questões relacionadas à liberdade de imprensa. A maior pendência para os defensores da liberdade de imprensa nos Estados Unidos é a aprovação da “Lei do Livre Fuxo de Informações”, também conhecida como a "lei escudo", para fornecer proteção aos jornalistas na não identificação das fontes. O anteprojeto foi surpreendentemente aprovado na Câmara de Deputados no final de 2007. Mas a oposição do governo Bush paralisou o processo. As perspectivas para aprovação pelo Senado são bem maiores agora porque o presidente Obama co-patrocinou uma lei semelhante enquanto era membro do Senado. Mas ele vai provavelmente consultar o Departamento de Justiça antes de rever a questão. Mais de 70 organizações e companhias de mídia endossaram a adoção de uma lei escudo federal. No ano passado, um grupo bipartidário de 41 procuradores estaduais escreveu para líderes do senado norte-americano apoiando a lei. Ela já foi aprovada pelo Comitê Judiciário do Senado por uma ampla margem. A necessidade de uma lei escudo federal tornou-se mais evidente recentemente com o caso do jornalista David Ashenfelter do Detroit Free Press, que escreveu matérias questionando a conduta de um ex-promotor federal. Depois que o promotor deixou o cargo, processou seus ex-chefes e está solicitando ao juiz que considere que o jornalista cometeu desacato por se recusar a revelar suas fontes. O juiz ainda não se pronunciou a respeito. No seu primeiro dia no poder, o presidente Obama cumpriu uma promessa de campanha para eliminar as restrições do governo Bush sobre o acesso aos arquivos presidenciais. A nova política estabelece novamente um prazo de 30 dias para que os ex-presidentes revisem seus arquivos antes que estes sejam liberados. Elimina também o direito do vice-presidente ou membros da família de ex-presidentes de fazer essas revisões. No governo Bush, não havia limite de prazo. Em outra ordem executiva – o Memorando Presidencial sobre a Lei de Liberdade de Informação (FOI – Freedom of Information Act) --, Obama restaura padrões do governo Clinton, que afirmavam que a transparência é a base para todas as solicitações de revisão de arquivos. No governo Bush, adotaram-se políticas para atrasar os pedidos de informações relacionados à FOI . Agora, a ordem executiva de Obama restaura as antigas regras de Clinton que pressupõem a divulgação de informações, a menos que "prejuízos previsíveis" possam resultar. Obama prometeu um "nível de abertura sem precedentes no governo." O presidente da American Society of Newspaper Editors elogiou Obama por seu "forte e imediato posicionamento em favor de um governo aberto" e por enviar uma "mensagem clara de que a transparência e a responsabilidade serão pedras fundamentais de sua administração". Não se sabe ainda se o Departamento de Justiça de Obama vai estar mais propenso a ceder em ações judiciais já iniciadas e nas quais se quer obter informações sobre as bases legais do governo Bush para fazer escutas telefônicas em nível nacional sem ter nenhuma autorização para fazê-lo; o tratamento que dava a presos em casos de terrorismo, e a prática de extradição ou transporte de suspeitos para países estrangeiros conhecidos por praticar a tortura de prisioneiros. O novo procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, anunciou que se fará uma revisão de todos os casos judiciais em que o governo Bush tenha usado uma ferramenta legal diferente -- chamada "privilégio de segredos do Estado" – para indeferir ações judiciais. Mas os advogados do Departamento de Justiça continuam a usar esse argumento para combater tentativas de obtenção de mais informações sobre atividades questionáveis do governo. O governo de Obama "não deve invocar segredos do Estado para encobrir acusações de extradição e tortura", afirmou um editorial do The New York Times em fevereiro. Também no final de fevereiro, o secretário de defesa Robert Gates anunciou uma mudança em uma política militar de 18 anos que proibia os meios de comunicação de fotografar caixões de mortos em guerras da América. Agora, as fotografias serão permitidas se as famílias dos mortos concordarem. A ordem afeta principalmente os caixões que chegam do Iraque e do Afeganistão na Base da Força Aérea de Dover em Delaware.

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