O exercício do jornalismo foi afetado neste período pelo assassinato de três jornalistas que podem ser crimes de índole política e de delinquência ligada ao crime organizado. Além disso, não desapareceram todos os fatores presentes na crise política que começou no início junho de 2008, situação que provocou uma forte repressão contra os meios de comunicação e ameaças e intimidações contra jornalistas por parte de grupos de simpatizantes dos dois grupos em conflito.
Neste período deflagrou-se uma campanha de desprestígio e perseguição contra meios de comunicação independentes, editores e jornalistas, principalmente pelos simpatizantes do ex-presidente Manuel Zelaya. Nos últimos dois meses de 2009, recrudesceu uma campanha de intimidação e ataques com diferentes métodos, através da Internet, de grafites, e mensagens a celulares contra editores, jornalistas e executivos de meios de comunicação independentes. A Procuradoria moveu ação contra policiais que durante a crise política se apropriaram de alguns meios de comunicação à força, mas depois da declaração de anistia do novo governo esses casos começaram a ser indeferidos.
O novo governo, que foi eleito de Porfirio Lobo Sosa, do Partido Nacional, eleito em novembro de 2009, assumiu em 27 de janeiro. Lobo prometeu uma irrestrita liberdade de expressão no país e em 18 de fevereiro assinou a Declaração de Chapultepec.
Em seu discurso, o presidente de Honduras disse estar muito comprometido com o respeito à liberdade irrestrita de pensar e opinar, de difundir opiniões, de difundir notícias e que ninguém a restrinja e disse: neste governo o que lhes peço é que nos ajudem, porque afinal todos nós podemos dar nossa contribuição.
Em 2009, pelo menos três jornalistas foram assassinados no país, sem que até a presente data se conheça a identidade dos responsáveis e sem que os casos tenham se transformado em ações judiciais.
As autoridades não forneceram informações sobre responsáveis pelo sequestro e posterior assassinato do comunicador Bernardo Rivera Paz, que foi sequestrado em 13 de março de 2009 e cujo corpo foi encontrado em 9 de julho passado.
Tampouco foram identificados os autores materiais e intelectuais do assassinato do comunicador da Rádio Cadena Voces, Santiago Rafael Munguía, morto em 31 de março de 2009, nem há pistas sobre o assassinato, em 3 de julho passado, do jornalista Gabriel Fino Noriega, de 51 anos, correspondente da Rádio América, em San Juan Pueblo, Atlántida. Ele foi assassinado quando saía da Rádio Estelas, onde apresentava um programa.
Outro caso lamentável foi o atentado que levou à morte de um jornalista em 1º de março de 2010. Joseph Hernández Ochoa, jornalista do Canal 51, morreu quando ele e a jornalista Carol Cabrera, do Canal 8, estatal, foram atingidos por disparos feitos de um veículo em marcha no centro da capital.
Hernández Ochoa faleceu no local, e Carol Cabrera foi levada com urgência ao hospital Escuela. Apesar de ter sido atingida no lado direito do corpo e no braço esquerdo, está fora de perigo.
O incidente ocorreu em El Chile, Tegucigalpa, por volta das 8 horas, quando os jornalistas se dirigiam para a casa de Cabrera, em Cerro Grande. Foram disparados pelo menos 10 tiros, e 3 deles acertaram Cabrera. Os outros acertaram Hernández Ochoa, apresentador do programa Encuentros do Canal 51.
Cabrera trabalha em uma revista informativa na Rádio Cadena Voces e tem um programa no Canal 8, estatal. Seu trabalho tem sido marcado pela defesa do ex-presidente Roberto Micheletti (julho 2009 a janeiro 2010) e por seus reiterados questionamentos aos seguidores de Zelaya.
O porta-voz da Secretaria de Segurança, Leonel Sauceda, informou que Cabrera estava sob proteção policial havia três semanas. Garantiu que o policial que a protegia estava na residência da jornalista, já que ela havia lhe dito que ali ficasse. Segundo Sauceda, o alvo do atentado era Cabrera.
A jornalista havia denunciado ter recebido ameaças vindas, supostamente, de membros da chamada resistência zelayista. Em 15 de dezembro de 2009 a filha da jornalista, Katherine Nicolle Rodríguez, foi morta a tiros no mesmo setor da costa El Chile. Segundo relatórios policiais, o objetivo dos atacantes era matar a comunicadora.
Também foi assassinado o jornalista de rádio e TV David Meza Montesinos, de 51 anos, na cidade atlântica de La Ceiba, Atlántida. O crime ocorreu em 11 de março. Ele foi morto por desconhecidos que o seguiram e o balearam antes que chegasse em casa. Montesinos vinha fazendo matérias sobre disputas de terras provocadas por ocupações de grupos de camponeses em fazendas de palmeira africana e também sobre violência e mortes relacionadas ao narcotráfico na zona. As autoridades policiais não têm pistas do assassinato.
Outro comunicador, o jornalista Nahúm Palacios, de 34 anos, foi assassinado em 14 de março na cidade de Tocoa, na costa atlântica de Honduras, transformando-se na terceira vítima do ano. O jovem jornalista foi morto a tiros por desconhecidos que estavam dentro de um carro em movimento. Ele era chefe de redação da Televisora del Aguán e de um noticiário na rádio Tocoa. A mulher que estava com Palacios no seu carro ficou ferida e um cinegrafista que estava no banco traseiro foi atingido de raspão por uma bala.
Entre outros fatos importantes, em meados de janeiro deste ano, em Tegucigalpa, começou a ser vendido o chamado Tornillo sin fin uma edição de 16 páginas, sob a suposta responsabilidade dos estudantes hondurenhos, com conteúdo que ataca e insulta conhecidas figuras políticas, empresários e jornalistas, como comunicadores de diferentes meios independentes de comunicação do país, entre eles, Renato Alvarez, da Corporação Televicentro; Rodrigo Won Arévalo e Armando Villanueva, Canal 10; Carlos Mauricio Flores e Fernando Berríos, El Heraldo; María Antonia de Fuentes, La Prensa; Adán Elvir Flores, Edgardo Dumas Rodríguez, Daniel Villeda e Jorge Talavera, La Tribuna; Edgardo Melgar, Hoy Mismo; Luis Edgardo Vallejo, Rádio América; Rómulo Matamoros e Rosendo García, HRN. Em um destes artigos, intitulado Porta-vozes podres da oligarquia assassina*, denigrem e ameaçam editores, entre eles José Rafael Ferrari, Corporação Televicentro; Carlos Flores Facussé, La Tribuna; Jorge Canahuati Larach, El Heraldo e La Prensa; Elías Asfura, Canal 30; e Juan Bendeck, Teleprogreso, entre outros.
A chamada Frente Nacional de Resistência Popular um grupo de organizações afins a Zelaya- em seu comunicado 51, emitido em 5 de março, ataca diferentes meios de comunicação.
No número 3 desse comunicado, ao referir-se aos problemas agrícolas, sobretudo à cobertura feita pela mídia de um conflito de terras no litoral atlântico do país, afirma que denunciamos os meios de comunicação da oligarquia, especialmente os jornais La Prensa e El Heraldo, propriedade de Jorge Canahuati Larach, e os canais de televisão da Corporação de Televicentro, propriedade de Rafael Ferrari, que pretendem mostrar as famílias trabalhadoras e os dirigentes populares como terroristas.
Os participantes de uma passeata realizada em 20 de fevereiro na capital e convocada por esse mesmo grupo partidário de Zelaya encheram de grafites com insultos contra os meios de comunicação e jornalistas as paredes de lojas, igrejas e instituições públicas.
Outros fatos e denúncias que merecem destaque nesse período:
Em 24 de novembro o jornalista do Canal 50 de Ocotepeque, Modesto Acosta, denunciou que o coordenador de promotores da zona ocidental não permitiu que fizesse seu trabalho.
Em 25 de novembro, um explosivo foi detonado no edifício Torre Libertad, onde se emite o sinal do Canal 10 e do noticiário Abriendo Brecha, localizado no bulevar Suyapa. Francisco Mejía, executivo da emissora, informou que o explosivo foi jogado, de madrugada, contra a fachada do imóvel, por dois homens em uma motocicleta.
Em 29 de novembro o jornalista espanhol Mario Gazcón Aranda foi detido por várias horas por agentes da Polícia Nacional quando tirava fotos do centro da capital, denunciou o Comitê de Direitos Humanos (Codeh). Marlen Cruz, procuradora do Codeh, disse que o jornalista foi detido pela polícia que alegou que ele estava violentando o artigo 213 da Lei Eleitoral que diz que nenhum estrangeiro pode vir ao país incitar o não exercício do sufrágio.
Em 28 de dezembro o jornalista César Silva foi agredido e sequestrado durante mais de 24 horas por vários homens armados que estavam dentro de carro branco. Silva foi um conhecido ativista do ex-presidente Manuel Zelaya. O jornalista disse que na segunda 28, passava de táxi pela colônia Loarque da capital, quando percebeu que estava sendo seguido por um carro branco, que pouco depois o interceptou. Duas pessoas sacaram suas armas, abriram as portas do táxi e o retiram do carro e o colocaram na caminhonete. O jornalista foi libertado 24 horas depois.
Em 13 de janeiro foram ameaçados de morte por meio de ligações e mensagens enviadas de celulares, Misael Cárcamo e o acadêmico José Salomón Orellana, da rádio Católica Santa Rosa e Estéreo Emeaus, onde transmitem seu programa Dando en el Clavo.
Em 22 de fevereiro , a pedido do Ministério Público, os tribunais do país indeferiram um processo contra um grupo de membros das Forças Armadas que durantes a crise política invadiram as instalações da Rádio Globo, simpatizante a Zelaya. A decisão do juiz se amparou em um decreto de anistia aprovado pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Porfirio Lobo Sosa, em 27 de janeiro.
Madrid, Espanha