Guatemala

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GUATEMALA A imprensa da Guatemala atravessa um dos momentos mais difíceis desde o retorno à democracia e isso devido a uma intensa campanha de desprestígio e perseguição instigada por funcionários do governo que têm vínculos estreitos com quem controla o monopólio da televisão aberta em canais VHF. As relações entre o governo do presidente Alfonso Portillo e a imprensa têm transcorrido em um clima de incerteza e tensão e com momentos críticos. Um deles ocorreu em fevereiro de 2000, quando houve pressão para que o Canal 13 encerrasse o programa “T-Mas de Noche”, do jornalista José Eduardo Zarco e com um cunho de oposição. Depois desse incidente, quatro canais de televisão aberta, controlados pelo empresário mexicano Remigio Angel González, que apoiou a campanha presidencial de Portillo com um milionário investimento publicitário, se dedicaram a tentar desacreditar a imprensa escrita e os jornalistas independentes. Utilizaram também os noticiários da televisão para promover a imagem do governo e, principalmente, a do ministro das Comunicações, Luis Rabbé. O relator da OEA para Liberdade de Expressão fez algumas simples recomendações ao governo, mas nenhuma delas foi cumprida até o momento pelo presidente que, entretanto, aproveitou a presença do relator para se promover. As relações entre a imprensa e o governo estão deterioradas. Os funcionários públicos limitam as informações fornecidas aos repórteres. O presidente reduziu suas coletivas ao mínimo e tanto ele quanto o vice-presidente, Francisco Reyes López, criticam publicamente a imprensa escrita, a qual consideram “irresponsável” devido aos “ataques” que fazem a eles. A imprensa escrita independente denunciou atos de corrupção na administração pública, e o Prensa Libre provocou um escândalo nacional ao divulgar um vídeo que permite comprovar que os deputados do partido oficial alteraram ilegalmente uma lei. Por isso, 24 deputados estão sendo processados para que percam sua imunidade, e entre eles está o presidente do Congresso, general Efraín Ríos Montt, que perdeu recentemente a imunidade parlamentária por causa disso. Resumo dos fatos que afetaram a liberdade de imprensa: Janeiro de 2001: o Prensa Libre apóia editorialmente uma iniciativa para promover a transparência na eleição na nova Corte de Constitucionalidade (CC). Manifesta seu apoio a iniciativas de grupos da sociedade civil que defendem a justiça. Fevereiro: diversas publicações no Prensa Libre sobre a necessidade de transparência nas eleições da CC provocam as primeiras transmissões de noticiários governamentais criticando o jornal, com o objetivo de atacar sua credibilidade. 15 de fevereiro: o el Periódico publica uma série de irregularidades na realização de contratos no Ministério das Comunicações, o ministério que apresenta mais casos de corrupção no governo. 19 de fevereiro: funcionários do Ministério das Comunicações, fazendo-se passar por simpatizantes do ministro Rabbé, fazem uma manifestação em frente ao el Periódico, em uma nítida tentativa de intimidar os jornalistas desse jornal. 19 de fevereiro: o Prensa Libre publica um trabalho de investigação jornalística sobre a corrupção no Ministério das Comunicações. 20 de fevereiro: O Prensa Libre e o el Periódico publicam provas de que os manifestantes diante do el Periódico eram funcionários do Ministério das Comunicações. O presidente Portillo dá atenção ao caso e declara que se for provado que esses manifestantes são funcionários do governo, eles serão destituídos. 20 a 27 de fevereiro: orquestra-se uma campanha contra a imprensa escrita, principalmente contra os jornais el Periódico e o Prensa Libre. São feitos ataques a seus diretores, e até o ministro Rabbé faz uma ameaça velada de morte, que é denunciada pelos envolvidos, os jornalistas José Rubén Zamora e Gonzalo Marroquín. A partir de então, intensificam-se os ataques aos jornais e nos dois noticiários da TV aberta e na rádio controlada por Rabbé, que é cunhado de Angel González. Chega-se inclusive ao extremo de advertências pessoais, acusações injuriosas e caluniosas, e até a edição má intencionada de histórias que comprometem os diretores do el Periódico e do Prensa Libre em uma manobra que se suspeita ser um complô. 26 de fevereiro: o Prensa Libre publica um informe, baseado em um trabalho investigativo realizado pelo jornalista peruano Christian Vallejo, a quem os noticiários de televisão apresentam como um mercenário da imprensa e bêbado irresponsável. O trabalho investigativo de Vallejo vincula o empresário de televisão com Vladimiro Montesinos. 2 de março: são transmitidas reportagens televisivas para desprestigiar o jornalista Vallejo, que é apresentado como mercenário da imprensa e, além disso, como um bêbado irresponsável. Desde então, essa campanha se intensificou e pode-se notar que os noticiários de TV gastam quase uma hora diária e o rádio uma hora diária para tentar desprestigiar todos os meios e a imprensa escrita. Tem-se também evidências claras de escuta telefônica, que parece estar sendo feita pela inteligência do Exército, cujo diretor é irmão do ministro Rabbé. O silêncio da presidência diante dos ataques e das atitudes de Rabbé permitem supor que Portillo apóia o que está acontecendo, mediante o “linchamento público” daqueles que denunciam a corrupção e o monopólio da televisão. Essa situação, somada ao que foi antes denunciado pela imprensa escrita sobre os favores políticos que González utiliza para se congraçar com os presidentes e os políticos mais influentes, mostra o grave perigo que ameaça a democracia guatemalteca. Em 28 de fevereiro, o repórter Gustavo Soberanis, do jornal Siglo XXI, é ameaçado verbalmente e com uma pistola pelo Controlador-geral do país, que, além disso, lhe limitou o acesso à informação. O jornal denuncia o fato, o qualifica como parte de “atos públicos de intimidação e agressão de que foram objeto outros meios da imprensa guatemaltecos.

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