MÉXICO
Vários ataques a jornalistas afetaram a liberdade de imprensa neste período. Esse é o caso da morte, ainda não esclarecida, de José Luis Ortega Mata, diretor do semanário Ojinaga, na cidade do mesmo nome, fronteira com os Estados Unidos, no Estado de Chihuahua. A este somam-se diversos casos de perseguição a jornalistas e as reiteradas tentativas de setores políticos de criar regulamentações sobre meios de comunicação.
Isto contrasta com a abertura que o governo mostrou diante de exigências de meios de comunicação sobre a necessidade de contar com leis de acesso a informações públicas, proteger o sigilo profissional do jornalista, garantir a transparência no uso dos fundos públicos destinados aos meios de comunicação e exigir que os meios de propriedade do Estado sejam submetidos a controles por parte da sociedade civil.
Em 21 de fevereiro, foi assassinado José Luis Ortega Mata, diretor do semanário Ojinaga, por dez balas de calibre .22 na cabeça, praticamente em frente a sua casa.
Seu corpo foi encontrado caído perto de seu carro, uma minivan que havia sido cuidadosamente estacionada. Quando a equipe de socorro chegou ao local, o carro ainda tinha o motor ligado e as luzes acesas.
Segundo a Procuradoria do Estado em Chihuahua, o crime teria sido cometido por pessoas conhecidas de Mata, que saiu do carro sem necessidade de violência. Estão sendo feitos retratos falados dos agressores, elaborados com o testemuho de amigos e familiares da vítima.
As duas principais linhas de investigação das autoridades concentram-se em diversas publicações feitas pelo semanário que Ortega Mata dirigia, denunciando a suposta existência de atividades do narcotráfico em Ojinaga e outros locais próximos à fronteira com os Estados Unidos. Estão também sendo investigadas supostas ameaças que o jornalista teria recebido por rixas pessoais.
Em 27 de outubro de 2000, Luis Javier Salido, subdiretor da cadeia de jornais regionais El Debate, com sede no Estado de Sinaloa, publicou em sua edição matutina uma carta aberta dirigida ao governador, Juan Millán Lizárraga, na qual denunciava a perseguição de que foi alvo por parte dos tripulantes de uma caminhonete sem placas e com três pessoas armadas a bordo. Todas elas, disse, com uniformes e insígnias da PGR (Procuradoria-Geral da República), que o ameaçaram e perseguiram.
O Ministério Público não investigou o ocorrido. Meses antes, em agosto, o presidente dos jornais El Debate, Ildefonso Salido, foi violentamente seqüestrado e libertado quatro dias depois, após recebimento de resgate.
Em novembro, o diretor da segunda edição do jornal Ovaciones, Francisco Rodríguez García, recebeu ameaças constantes, via Internet, supostamente relacionadas à publicação, em sua coluna política diária, de denúncias que implicavam membros da Marinha mexicana em atos de corrupção.
Em dezembro, depois do início do governo de Vicente Fox, diversos meiso divulgaram provas de repetidas atividades de espionagem eletrônica realizadas pelo Centro de Investigação e Segurança Nacional (CISEN), subordinado à Secretaria do governo federal, e uma das várias agências de inteligência e espionagem do governo.
Carmen Lira Saade, diretora-geral do jornal La Jornada; Carlos Ramírez e Miguel Badillo, colunistas do El Universal, assim como o ex-colaborador da revista Proceso e atual diretor-geral da agência Notimex, Francisco Ortiz Pinchetti, entre outros, foram vítimas de constantes escutas telefônicas. Segundo denúncias, as tarefas do CISEN incluíram seguir jornalistas ou seus familiares, como confirmou a Comissão Nacional de Direitos Humanos, a qual emitiu uma recomendação para que o órgão esclarecesse a origem dessas práticas e ordenasse que fossem interrompidas.
A Secretaria de Governo do atual governo anunciou o fim da espionagem política, disse que as denúncias apresentadas seriam investigadas e que tais práticas seriam canceladas.
Em dezembro, denunciou-se a agressão ao jornalista José Meza, da cidade de Celaya, que foi publicamente agredido pelo prefeito nesse local, José Manuel Méndez Márquez (PAN), que reagia à publicação de críticas e denúncias contra sua administração.
Conforme vem ocorrendo nos últimos anos, legisladores de diversos partidos vêm insistindo na necessidade de regulamentar a atividade dos jornalistas, com o suposto propósito de garantir o direito dos cidadãos a receber informações verdadeiras.
Encontra-se no Congresso uma proposta de lei que espera ser votada há dois anos e que propõe a criação de um Conselho que supervisione o trabalho dos meios, regule sua conduta e eventualmente lhe imponha punições.
No fechamento deste relatório, foi recebida uma denúncia segundo a qual, em 9 de março passado, os escritórios do jornal El Sur de Campeche tinham sido objeto de um assalto por agentes policiais que, com o pretexto de cumprir uma ordem judicial, armados e violentamente, desconectaram e destruíram equipamentos de computador, com o claro propósito de evitar a circulação habitual deste jornal.
Madrid, Espanha