México

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MÉXICO A liberdade de imprensa sofreu um sério golpe com o assassinato de três jornalistas, o seqüestro do proprietário de uma cadeia de jornais, o atentado a uma comentarista de televisão e a prisão do diretor de uma revista. Ressurgiram também vozes que defendem a instauração de uma Lei de Comunicação para limitar a atividade dos meios impressos e dos jornalistas, sob o pretexto de estabelecer “limites ao excessivo poder e liberdade dos meios mexicanos”. Há dois anos, foi recusada uma proposta que pretendia regulamentar a conduta dos meios de comunicação, curiosamente apoiada por membros dos três mais importantes partidos do México: PAN, PRI e PRD. 9 de abril – O repórter gráfico do jornal La Opinión, de Matamoros, Pablo Pineda Gaucín, foi agredido até morrer e seu corpo foi abandonado nas imediações da ponte internacional Libre Comercio, da cidade vizinha de Harlingen, Texas. Leonor Solís de Pineda, acompanhada pelo chefe da polícia ministerial do Estado de Tamaulipas (PME), Sergio Puig Canales, identificou o corpo de seu marido, que apresentava sinais de tortura, golpes contundentes em diversas partes e fratura de crânio provocada por uma bala de 9 mm na nuca. Autoridades policiais de Harlingen, Texas, não descartaram a hipótese de Pineda Gaucín, de 39 anos, ter sido seqüestrado, torturado e assassinado em Matamoros e abandonado no Texas. Descartaram a hipótese de roubo como motivo do crime, visto que foram deixados no corpo um cordão, vários anéis e credenciais de repórter gráfico do jornal La Opinión. O caso continua aberto e não foram esclarecidos os motivos do crime. Os culpados também ainda não foram detidos. As recentes investigações do caso indicam que Pineda Gaucín havia sofrido vários atentados do narcotráfico em Matamoros. A polícia investiga a possibilidade de uma execução do repórter por causa de seu estilo “agressivo” de jornalismo, que pode ter afetado interesses de algum chefão das drogas. Em 28 de abril, em Ciudad Juárez, Chihuahua, o corpo do jornalista José Ramírez Puente, do grupo da rádio Radio Net 1490, foi localizado por vizinhos da cidade Tierra y Liberdad. Apesar de o corpo portar documentos de identificação, o caso foi ocultado por elementos do grupo de homicídios da Polícia Judicial do Estado (PJE) em circunstâncias “estranhas”. Menos de 10 horas depois do crime, a família identificou o corpo e agentes da PJE revelaram que “haviam encontrado 10 kg de maconha no automóvel e que a investigação não lhes dizia respeito”. O corpo do jornalista, de 28 anos, recebeu mais de 35 golpes com um picador de gelo no lado esquerdo das costas, sendo que um golpe atingiu o coração. O jornalista foi encontrado no assento de trás do seu carro, um Sentra, Nissan, modelo 1994. O sindicato de jornalistas dessa cidade considerou que existem sérias dúvidas sobre essas provas, visto que Ramírez Puente tinha fama de pessoa honesta, sem vícios e apegado à sua família, que enfrentava dificuldades financeiras. No dia 2 de maio, durante uma marcha da funerária Perches à igreja do Sagrado Coração dessa cidade, jornalistas, políticos e membros de Organizações Não Governamentais exigiram a investigação do homicídio e a designação de um promotor especial para as investigações e para pesquisar a ação dos agentes da PJE que iniciaram as investigações, visto ser estranho que não tenham examinado o veículo. Em 19 de julho, Hugo Sánchez Eustáquio, editor do jornal local La Verdad, de Atizapán de Zaragoza, México, foi encontrado morto com uma bala no pescoço próximo a seu carro, na avenida Zaragoza, dessa cidade. Segundo investigações iniciais, o jornalista foi seqüestrado três meses atrás e as autoridades consideraram que o crime foi uma execução dos seqüestradores. O corpo foi encontrado em Hacienda del Pedregal e até o momento as investigações não apresentaram nenhum esclarecimento definitivo. Um crime sem solução é o do jornalista norte-americano Phillip True, correspondente do jornal San Antonio Express News no México e que foi assassinado no exercício do jornalismo na zona serrana de Jalisco, no final de 1996. Os supostos responsáveis do crime, Juan Chivarra de la Cruz e Miguel Hernández de la Cruz, estão detidos em uma prisão de Jalisco, mas quase quatro anos depois do crime eles ainda não foram sentenciados. No final de maio deste ano, uma delegação da SIP, chefiada por seu presidente Tony Pederson, visitou a cidade de Guadalajara, Jalisco, e se reuniu com o procurador-geral da Justiça do Estado, entre outras autoridades. O procurador confirmou que haveria uma resolução em agosto do presente ano. Dois meses depois da data do compromisso do procurador, o caso continua na etapa de apresentação de provas e ainda não foi ditada nenhuma sentença para os implicados. Entre os casos pendentes, incluem-se o crime de Benjamín Flores González em San Luis Río Colorado em julho de 1997; e o atentado contra Jesús Blancornelas, ocorrido em novembro de 1997, na cidade de Tijuana, e que continua sem solução. Tudo parece indicar que as autoridades se esqueceram de investigá-lo. Em 15 de junho, pouco depois das 22 horas, quando chegava de táxi à sua casa, na Cidade do México, o jornalista Freddy Secundino Sánchez, colaborador da revista Epoca, foi seqüestrado, torturado e ameaçado por supostos agentes judiciais. Segundo a denúncia que Sánchez apresentou perante a Comissão Mexicana de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos, no momento em que pagava o táxi, dois indivíduos que se apresentaram como agentes judiciais, o obrigaram a permanecer dentro do carro. Os homens mandaram que o motorista colocasse o carro em movimento, agrediram o jornalista no peito e nos joelhos e o insultaram e o ameaçaram com uma pistola. O seqüestro durou duas horas, segundo relato do jornalista, que afirma ter tido os olhos vendados e as mãos presas nas pernas. Os seqüestradores retiraram de Sánchez 11 mil pesos, seus cartões de crédito, um celular e um pager. Os seqüestradores mencionaram repetidas vezes um suposto dano que o jornalista teria causado a uma terceira pessoa, ao que parece um legislador, que supostamente os teria contratado. Posteriormente, Freddy Secundino Sánchez foi abandonado nas ruas de Galicia, em Alamos do Distrito Federal. Foi ameaçado com represálias se apresentasse queixa. Em 2 de agosto, na cidade de Los Mochis, Sinaloa, o proprietário da cadeia de jornais El Debate, Ildefonso Salido Ibarra, de 62 anos, foi seqüestrado por desconhecidos que o interceptaram às 7 horas, em Ciudad Deportiva, quando fazia exercícios. Em 5 de agosto, Salido Ibarra foi libertado por seus seqüestradores em estado de saúde normal depois do pagamento do resgate e sem intervenção das autoridades. Parece que o motivo do seqüestro foi apenas econômico, apesar de o seqüestro ter causado preocupações por ter ocorrido um mês antes das eleições presidenciais. Quanto a agressões, em 17 de abril guarda-costas da presidente do PRI, Dulce María Sauri Riancho, agrediram o repórter gráfico do jornal nacional Reforma, José Armando Alemán, na cidade de Cuernavaca, Morelos. Alemán foi agredido pelos guarda-costas de Sauri, depois de tentar fotografar a inscrição de Juan Salgado Brito, candidato do PRI a governador de Morelos. No incidente com os guarda-costas, parte do equipamento do fotógrafo foi levada pelos guarda-costas e outra parte destruída. Em 18 de maio, diante da insistência do repórter gráfico da revista espanhola Quién, David Oziel Aguilar, o guarda-costas da atriz Julia Roberts, Joe Keideth, agrediu o jornalista na cidade Real de Catorce. Na cidade sulista Campeche, Campeche, a senadora Layda Sansores Sanromán interrompeu, em 7 de junho, um café da manhã de jornalistas com autoridades locais, no qual se comemorava o “Dia de Liberdade de Imprensa”. O motivo da interrupção foi confrontar verbalmente um grupo de correspondentes de vários meios de comunicação. Ela declarou que havia interrompido o café da manhã para apresentar a “Aliança por Campeche, que exige um jornalismo livre, sem mordaça”. A senadora, junto com um grupo de seguidores, golpeou e empurrou as paredes e portas de alumínio do hotel dessa cidade, causando vários danos no local da reunião. Em 22 de junho, Lilly Téllez, apresentadora do noticiário noturno da TV Azteca, sofreu um atentado na Cidade do México, no qual saíram feridos seu motorista e seus dois guarda-costas, devido a mais de 20 balas de vários calibres que atingiram o carro no qual viajavam. Téllez foi vítima do ataque depois de sair da emissora à noite, pouco depois de terminar sua participação no noticiário. Três indivíduos a esperavam em uma ponte e dispararam contra ela e seus guarda-costas. Em 15 de agosto, o escritório do jornalista Ricardo Alemán, na Cidade do México, foi baleado a partir de um prédio vizinho. Os disparos causaram danos leves ao escritório do jornalista, que não se encontrava no local. Em 19 de setembro, o repórter Marco Vinicio Blanco, repórter do La Crónica, de Baja Califórnia, foi agredido por dois indivíduos dentro de seu carro na cidade de Mexicali, Baja California. Os indivíduos estavam armados. Em 19 de maio, o repórter Melit García, do jornal El Norte, de Monterrey, Nuevo León, foi submetido a investigação penal porque obteve, mediante uma certidão de nascimento falsa, um título de eleitor com um nome diferente do seu. O repórter estava fazendo uma reportagem investigativa que pretendia alertar sobre falhas do Tribunal Eleitoral e no processo de rescenceamento de eleitores. Em 19 de agosto, em Tuxtla Gutiérrez, Chiapas, algumas horas antes das eleiçőes realizadas no Estado, o governador Roberto Albores Guillén ordenou que fossem retirados de circulação exemplares do jornal La Jornada e outros jornais de circulação nacional. Os pacotes de jornais chegaram ao aeroporto de forma normal, provenientes do Distrito Federal, mas constatou-se que foram interceptados e não foram entregues nos pontos de venda. Esse não é o único caso de censura ao La Jornada por parte do governo do Estado. Em novembro de 1999, Albores Guillén confiscou o jornal porque este difundiu informações sobre um incidente envolvendo uma suposta tentativa de afastá-lo do cargo. 11 de agosto – Em Xalapa, Veracruz, jornalistas organizados da zona de Martínez de la Torre denunciaram a atitude autoritária e prepotente do delegado da quinta região da Secretaria de Segurança Pública do Estado, general Javier Herrera Barrera, sob cujas ordens um grupo de policiais seqüestrou e prendeu o correspondente do jornal La Opinión de Poza Rica, Jesús Mejía Lechuga. Em 20 de agosto, no Distrito Federal, os escritórios do jornal La Llovizna, cujo diretor é o fotógrafo Pedro Valtierra Ruvalcaba, foram assaltados. Os ladrões, além de levar computadores e material fotográfico avaliados em 35 mil pesos, levaram documentos jornalísticos e administrativos. Em 17 de setembro, na cidade de Zacatecas, Zacatecas, a facção legislativa do PAN exigiu que o noticiário de rádio “Vértice Informativo”, apresentado por Jorge Acuña, fosse retirado do ar porque seus organizadores estão supostamente ligados ao PDR – partido do governo – e se dedicam a atacar a oposição e defender Ricardo Monreal Avila. Em 19 de setembro, Antonio Pinedo Cornejo, diretor da revista Seminario, de Ciudad Juárez, foi detido pela polícia judicial do Estado de Chihuahua em cumprimento a um mandado de apreensão. Javier Benavides González, que foi chefe da polícia municipal de Ciudad Juárez até 22 desse mês, ingressou com ação contra o jornalista depois da publicação, na referida revista, de uma reportagem que afirmava que o ex-chefe protegia traficantes de drogas. O artigo expunha casos de pessoas vinculadas ao tráfico de drogas. 20 de setembro – Ao sair do Centro de Readaptação Social de Ciudad Juárez, Antonio Pinedo, depois de depositar uma fiança de 15 mil pesos, disse que sua prisão é uma agressão a ele e à liberdade de expressão.

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