URUGUAI
Pela primeira vez, pelo menos desde a restauração da democracia no Uruguai, um jornalista perdeu a vida em conseqüência de opiniões emitidas no exercício de sua profissão.
O crime ocorreu em Baltasar Brum, uma cidadezinha do departamento de Artigas, fronteira com o Brasil, em 24 de fevereiro passado, quando o diretor-proprietário da CV 149 Radio del Centro, Julio C. Da Rosa, de 36 anos e pai de quatro filhos, foi assassinado pelo empresário e ex-secretário da Câmara Municipal do local, Ney Colombo, de 63 anos.
Aparentemente, os dois homens tinham uma inimizade antiga devido a investigações e denúncias públicas apresentadas por Da Rosa e que haviam feito com que Colombo renunciasse a seu cargo público. Colombo pretendia regressar amparado em novas circunstâncias políticas e essa intenção era novamente revelada em público pelo jornalista.
Programou-se uma entrevista com os dois, provavelmente para que Colombo fizesse uso de seu direito de resposta na emissora. Quando ficaram a sós, Colombo disparou em seu oponente com um revólver calibre 38 que foi encontrado no local pelas autoridades. Suicidou-se imediatamente depois.
A SIP enviou ao local o representante da Unidade de Resposta Rápida sediado em Buenos Aires, Jorge Elías.
Esse crime insere-se em um contexto de crescente intolerância que parece afetar a sociedade uruguaia atualmente. Associa-se a este o assassinato de um guarda de trânsito ocorrido em Montevidéu uma semana antes, morto por um motorista irritado porque o guarda pretendia multá-lo.
O crime provocou uma paralização das atividades desse setor da atividade municipal e uma mobilização sindical, que foi decidida em uma assembléia aberta para a qual a imprensa havia sido convidada. Os jornalistas do jornal El País foram proibidos de cobrir o evento, o que representa cerceamento ao direito dos leitores à informação.
O mesmo ocorreu quando o intendente do departamento de Río Negro, Ruben Rodríguez, durante coletiva de caráter político realizada na sede da Câmara Municipal da cidade de Young, no começo de fevereiro, obrigou, antes do início do ato, que a jornalista Ana Nela Portela de Suárez, diretora do semanário La Voz de Young, se retirasse da sala.
Continuam as investigações sobre a discriminação na concessão da publicidade oficial e financiamentos por parte de bancos oficiais a alguns meios em detrimento de outros e sobre tratamento discriminatório e arbitrário por parte de órgãos de arrecadação pública.
Essa investigação, iniciada em meados do ano passado, incrementou-se devido a denúncias formuladas por alguns meios, mas especialmente devido às informações e resoluções elaboradas na Assembléia da SIP, realizada em Houston.
A publicação desse informe no Uruguai despertou o interesse do novo presidente, Jorge Battle Ibáñez, que o expressou ao vice-presidente regional da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação da SIP, e anunciou suas intenções de manter absoluta transparência das contas públicas.
Battle assumiu o cargo em 1º de março. Em 3 de março, o Círculo de Imprensa da cidade de Paysandú denunciou ameaças de morte contra seu sócio Alfredo David Brun.
Brun é diretor-proprietário da emissora de rádio Ecos FM, da cidade argentina fronteiriça de Colón, e membro do Círculo devido à proximidade entre as duas cidades e aos acordos de fronteiras existentes.
Brun havia denunciado em seus editoriais supostas irregularidades administrativas ocorridas em Colón e, em função disso, sua família recebeu várias ameaças telefônicas.
Madrid, Espanha