CUBA
Não existe liberdade de imprensa no país. A repressão e perseguição ao pequeno e fraco grupo de jornalistas independentes que opera em Cuba, contra as intempéries, continua de forma quase irracional.
A ofensiva contra todas as fontes de informação estendeu-se nas últimas semanas inclusive à Igreja Católica, à qual foram impostas severas restrições para a aquisição de equipamentos de computação, copiadoras e aparelhos de fax. Estas restrições, feitas por meio da Resolução 144-97 do Ministério
do Comércio Exterior em 4 de agosto, cria graves problemas para a realização da visita do Papa João Paulo II no próximo mês de janeiro.
Também houve indicações recentes por parte das autoridades cubanas sobre a forma de organizar a imprensa estrangeira durante a visita do Papa, fato que inquieta os jornalistas que há meses esperam pelas licenças necessárias para cobrir a visita do Papa.
As investidas por parte das autoridades e por tropas de choque em roupas civis contra os jornalistas independentes e suas famílias aumentaram nas últimas semanas em aparente antecipação ao 50 Congresso do Partido Comunista Cubano, que foi realizado na semana passada.
Essa última ofensiva contra os jornalistas independentes começou em julho passado, pouco antes do Festival Mundial da]uventude, em Havana. Segundo os jornalistas independentes, o governo cubano temia que os opositores entrassem em contato com jovens do exterior e que os jornalistas independentes transmitissem ao mundo uma imagem diferente da que apresentava.
Os chamados atos de repúdio, prisões domiciliares, mandados de busca e confisco de cartas, papéis pessoais e até elementos básicos, como papel e lápis, tornaram-se rotineiros. Desde abril passado, foram registradas 24 detenções de jornalistas independentes. Outros 9 foram presos, 7 sofreram atos de
repúdio por tropas policiais e 3 foram extraditados.
Nos últimos dias, essas agressões estão ocorrendo praticamente todos os dias. Nos dias 15 e 16 da semana passada, dois jornalistas independentes foram agredidos em suas próprias casas.
María de los Angeles González Amaro, jornalista da agência HavanaPress e presidente do Sindicato de Jornalistas e Escritores Cubanos Independentes, foi submetida a um ato de repúdio durante uma chamada telefónica aos Estados Unidos em que relatava os diferentes casos de agressões aos jornalistas
independentes.
Ricardo González Alfonso, jornalista independente da agência CubaPress, teve sua casa invadida por agentes do ministério do Interior durante uma reunião com três jornalistas independentes. González Alfonso foi preso. Um agente da polícia secreta cubana disse a Raúl Rivero, presidente da agência
HavanaPress, também presente à reunião: "nós o prendemos à toa ... e nem se preocupem em divulgar o incidente, porque isso não vai dar em nada". Essa notícia foi divulgada por Ana Luisa López Baeza, também do HavanaPress. Sua filha, Lubia Bonito López, de 22 anos, foi intimada a se apresentar à
polícia e acusada de ter assaltado um estrangeiro. As autoridades disseram que ela correspondia à descrição da suspeita e abriram um inquérito que ainda não foi encerrado. "Minha filha nega tudo", disse López Baeza. "Ela sabia que se tratava de um ataque a mim. Minha saída do La Tribuna de Havana impediu que minha filha conseguisse trabalho". Lubia é periodicamente chamada pela polícia, que a
aconselha a convencer a mãe a abandonar o país ou o jornalismo independente.
Por outro lado, o Clube Nacional de Imprensa, em Washington, foi notificado, no final de setembro, pelas autoridades cubanas que a viagem que planejava fazer a Cuba seria "inconveniente", devido aos preparativos logísticos em Cuba para a visita do Papa em janeiro e à convenção do Congresso cubano em outubro.
Cronologia dos acontecimentos:
11 de maio - Cecilio Ismael Sambra Haber, poeta, i ornalista e roteirista, foi liberado e viajou para o Canadá.
Junho - Os jornalistas Lázaro Lazo e Olance Nogueras, ambos do Escritório de Imprensa Independente de Cuba, foram forçados a emigrar aos Estados Unidos após ameaça de prisão se não o fizessem.
23 de junho - Héctor Peraza Linares, correspondente do HavanaPress em Pinar dei Río, foi detido pela Segurança do Estado nesta província. Foi liberado em setembro.
Junho - Reinaldo Soto, de CubaPress, cumpre uma sentença de cinco anos na prisão de segurança máxima de Ciego de Avila. Foi declarado culpado de distribuição de "propaganda inimiga".
12 de julho - Lorenzo Páez Núfiez, BPIC, foi condenado a 18 meses de prisão por difamar a Polícia Nacional.
Julho -Juan Antonio Sánchez, de CubaPress, foi preso em Pinar dei Río.
18 de julho - Luis López Prendes, BPIC, foi interrogado em Villa Marista por ter informado à imprensa estrangeira sobre as bombas que explodiram em hotéis da capital.
22 de julho - Ramón Alberto Cruz Lima, Agencia Patria, foi detido. Confiscaram sua máquina de escrever, papel e outros materiais de trabalho.
Julho - Mirta Leyva, APIC, foi presa em Manzanillo em meados do mês. Foi advertida a abandonar seu trabalho "contra-revolucionário", do contrário seria processada e perderia a guarda de seus filhos menores. Nessa mesma semana, seu marido foi preso e condenado a um ano de prisão.
11 de julho - Armando Rosabal, da Oriente Press, e o médico Desi Mendoza, foram presos por fornecerem as primeiras informações ao exterior sobre a epidemia de dengue em Santiago de Cuba.
26 de julho - Ricardo Martínez e Juan Antonio Sánchez, ambos de CubaPress, foram detidos e ameaçados de prisão se continuassem trabalhando na Radio Martí.
Foram ameaçados, detidos ou "visitados" pela polícia política: Mónica López, APIC; Jorge Olivera, HavanaPress; Plácido Hernández, Angeles González Amaro, Germán Castro, Miguel Fernández, Julio Martínez e Tania Quintero, todos de CubaPress.
As casas dos jornalistas Raúl Rivero, Ana Luisa López, Tania Quintero, Joaquín Torres, Jorge Oliveira, Mercedes Moreno e Lázaro Lazo foram invadidas por um grupo pró-governo.
12 de agosto - Raúl Rivero, CubaPress, foi detido por agentes da Segurança do Estado em seu apartamento de Havana. Foi liberado dias depois.
13 de agosto - Efrén Martínez Pulgarón, CubaPress, foi preso pela Segurança do Estado em San Luis, perto de Pinar dei Río. Em 3 de setembro ainda estava preso.
16 de agosto - Marvin Hernández Monzón, CubaPress, foi detido por agentes da Segurança do Estado em Cienfuegos. Foi liberado no mesmo dia, após ser interrogado.
28 de julho e 13 de agosto - Os jornalistas William Cortês e Efren Martínez, CubaPress, foram detidos por agentes da Segurança do Estado em Pinar dei Río.
17 de agosto - Bernardo Arévalo Padrón, diretor da agência de notícias Línea Azul, de Aguada de Pasajeros, na província de Cienfuegos, foi processado e poderia enfrentar 3 anos de prisão por "circulação de propaganda contra Cuba".
18 de agosto - Ramón Alberto Cruz Lima, Agencia Patria, foi detido em sua casa em Ciego dei Avila por agentes da Segurança do Estado.
5 de setembro - Bernardo Arévalo Padrón, diretor de Línea Azul, foi detido durante cinco horas em Aguda de Pasajeros, província de Cienfuegos. No mesmo dia, Ricardo González Alfonso, jornalista de CubaPress, foi intimado a se apresentar nos quartéis da polícia em Havana.
8 de setembro - Omar Rodríguez Saludes da Agencia Nueva Prensa (ANP) foi preso pela Segurança do Estado. Confiscaram documentos e uma câmara fotográfica. No mesmo dia, Odalys Curbelo Sánchez, correspondente de CubaPress em Pinar dei Río, foi intimada a se apresentar na sede da Segurança do
Estado.
15 de outubro - Assédio e ato de repúdio contra María de los Angeles González Amaro, de HavanaPress e presidente do Sindicato de jornalistas e Escritores Cubanos Independentes.
16 de outubro - Prisão de Ricardo González Alfonso, jornalista de CubaPress.
María de los Angeles González Amaro, do Sindicato de jornalistas e Escritores Cubanos Independentes, acrescentou os seguintes fatos:
Omar Rodríguez Saludes, Nueva Prensa, detido e bens confiscados.
Héctor Peraza Linares, jornalista da agência HavanaPress, detido pela Segurança do Estado em Pinar de! Río em 23 de julho de 1997. Liberado depois de 90 dias de prisão.
Joaquín Torres Alvarez, diretor da HavanaPress, vítima de atos de repúdio, brutalmente agredido pelas brigadas de resposta rápida e elementos paramilitares.
julio Rivera, jornalista da agência HavanaPress, detido em várias ocasiões e perseguido, assim como sua família. Foi vítima de atos de repúdio.
Nicolás Rosario Rosabal, jornalista da HavanaPress, detido por vários dias e ameaçado pela Polícia Política do regime.
María de los Angeles González Amaro, jornalista da HavanaPress e presidente do Sindicato de jornalistas e Escritores Cubanos Independentes (UPECI), detida por vários dias na prisão da décima unidade policial. Sua família foi ameaçada e perseguida. Seu filho foi expulso do centro de trabalho em 5 de julho passado pelas atividades contra-revolucionárias exercidas por sua mãe, segundo a Segurança do Estado. As pessoas que facilitam o acesso a um telefone são constantemente ameaçadas.
Celia Jorge Ruiz, jornalista da HavanaPress, teve seus documentos confiscados quando entrava no Escritório de Assuntos Norte-americanos. Seu telefone é interrompido constantemente e a jornalista é vítima de ameaças anõnimas.
Luis López Prendes, do Escritório de Imprensa Independente de Cuba, detido em várias ocasiões.
Madrid, Espanha