Estados Unidos

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Os meios de comunicação dos Estados Unidos continuam enfrentando sérias dificuldades em um cenário econômico difícil e imprevisível. Os dados são extremamente preocupantes, mas um deles é particularmente chocante: de 2000 a 2009, a receita proveniente dos classificados dos jornais passou de quase US$ 20 bilhões para US$ 6 bilhões. Alguns outros dados são igualmente alarmantes. A receita total de publicidade na mídia impressa experimentou queda de quase 50% entre 2005 e 2009, passando de quase US$ 50 bilhões para US$ 26 bilhões. Cerca de 41.000 jornalistas perderam seus empregos apenas nos dois últimos anos. A circulação paga continua caindo e o relatório mais recente aponta 5% de queda. A empresa PricewaterhouseCoopers prevê tempos difíceis para os jornais dos Estados Unidos. Segundo suas pesquisas, até o ano 2012 haverá mais 19% de queda na receita de publicidade paga e 9% na receita da circulação. Um aspecto positivo é o aumento da receita em publicidade digital, apesar de este ser um dado de menor dimensão. A publicidade digital aumentou rapidamente entre 2005 e 2009, mas de acordo com a PricewaterhouseCoopers vai apresentar queda em 2011 e representar apenas 11% do total da receita até 2014. É nesse contexto que vários dos grandes grupos de mídia estão lutando para sobreviver. O maior deles, a Tribune Company, de Chicago - que possui jornais em Los Angeles, Orlando, Fort Lauderdale e Baltimore e 23 estações de TV - anunciou no final de outubro ter apresentando um plano de reorganização para reduzir suas dívidas e transferir a propriedade da companhia para seus principais credores. No total, nove empresas de mídia, inclusive a Tribune, entraram com pedido de proteção contra falência como resultado do seu alto nível de dívidas. Entre elas estão a Freedom Communications, Philadelphia Newspapers Co., MediaNewsGroup, Morris Communications e Minneapolis Star Tribune. No final de outubro, a Associated Press, a maior organização noticiosa do mundo, anunciou que estava congelando as pensões dos funcionários, os quais ainda poderão contar com um pagamento mensal quando se aposentarem. Os pagamentos futuros de aposentadoria para funcionários atuais e novos será feito de acordo com um novo plano que aumentará seu papel no planejamento da sua pensão, mas não vai garantir um valor específico com base nos anos de serviço. Outros fatos relevantes para a liberdade da imprensa nos Estados Unidos são apresentados a seguir. Está terminando o prazo para a adoção de uma lei federal para proteção das fontes dos jornalistas (shield law) pelo Congresso dos Estados Unidos. Durante três anos, a shield law, antes formalmente chamada de Lei do Livre Fluxo das Informações (Free Flow Information Act), vem passando pelos trâmites legislativos. Foi aprovada pela Câmara dos Deputados, mas continua no Senado. Se não for adotada até o final deste ano, deverá voltar à estaca zero, quando o novo Congresso se reunir em janeiro. Mais de 70 grupos de mídia continuam promovendo a adoção da lei para proteger os jornalistas de identificar as fontes confidenciais em casos federais. Uma nova lei, a Lei de Liberdade de Imprensa Daniel Pearl, homenageia o jornalista do The Wall Street Journal que foi assassinado no Paquistão há oito anos. A legislação incentiva o Departamento de Estado a identificar os países que censuram jornalistas e os sujeita a agressões físicas e prisão. O Departamento de Estado fica também encarregado de decidir se governos internacionais estão permitindo os maus tratos a jornalistas. No final de outubro, um tribunal federal de recursos em Atlanta ouviu argumentos dos advogados de quatro meninas entre 13 e 17 anos cujas imagens foram exibidas em vídeos da festa na praia conhecida como “Girls Gone Wild”. Elas estão processando o produtor dos vídeos e querem testemunhar anonimamente em um tribunal fechado. Um tribunal de instância inferior recusou seu pedido depois que grupos da mídia alegaram que os tribunais abertos e os julgamentos públicos são a base do direito da Primeira Emenda de acesso do público aos tribunais. O editor de um site de notícias online no México, Jorge Luis Aguirre, conseguiu asilo nos Estados Unidos depois de alegar ter recebido ameaças de morte de cartéis de drogas. Este parece ser o primeiro caso de aceitação de um pedido desse tipo e pode abrir precedentes para outros jornalistas mexicanos que fazem a cobertura da guerra do tráfico de drogas. Aguirre fugiu para El Paso em 2008 e mora lá desde então. Um editorial do The New York Times criticou em setembro os governos dos Estados Unidos e do México pelas falhas em proteger jornalistas e funcionários públicos. O editorial disse que o governo mexicano “precisa se esforçar mais para investigar agressivamente e levar à justiça os casos de violência contra a imprensa... e se esforçar mais para proteger juízes, funcionários de prefeituras e os que trabalham para defender direitos humanos e a polícia...”. Acrescentou também que: “Os Estados Unidos possuem também uma nítida responsabilidade em controlar as armas e o dinheiro que permitem que os cartéis ampliem esse reinado de terror. O que está em risco aqui é nada menos que a sobrevivência da democracia no México”. A posição do Departamento de Justiça de Obama quanto aos que vazam informações confidenciais preocupa vários jornalistas. De acordo com a revista Editor and Publisher, o governo Obama moveu ação contra suspeitos de vazar informações confidenciais mais que qualquer outro governo na história. Entre eles está o jornalista James Risen, do The New York Times, que foi citado pelo Departamento de Justiça do governo Obama para informar como obteve supostas informações confidenciais para seu livro sobre a Agência Central de Inteligência (CIA). Em abril, o web site Wikileaks divulgou um vídeo de um ataque de um helicóptero militar dos Estados Unidos em Bagdá de três anos atrás que matou várias pessoas, inclusive um fotógrafo da Reuters e seu motorista. Na época, a Reuters entrou com pedido com base na Lei de Liberdade de Informação (FOIA) para o vídeo, mas o pedido nunca foi concedido. O grupo Repórteres sem Fronteiras, que defende a liberdade de imprensa, disse que “Se o governo de Obama não atender este pedido com base na FOIA estará mais uma vez ignorando suas promessas de maior transparência e responsabilidade. Seria um golpe para a liberdade de imprensa e para o princípio que diz que não cabe ao governo definir o que é ou não de interesse jornalístico”. (Em outubro, o Wikileaks divulgou 40.000 páginas de informações confidenciais sobre a guerra do Afeganistão, depois de uma importante divulgação semelhante em julho, o que resultou em comentários extremamente críticos dos porta-vozes de vários governos, inclusive dos Estados Unidos.) O jornal The London Telegraph informou, e o Pentágono confirmou, que o Pentágono comprou em setembro 10.000 exemplares de um livro para destruí-los. O livro, chamado Operation Dark Heart e escrito por Anthony Shaffer, tenente do Exército, fala do período que Shaffer passou no Afeganistão, como membro da inteligência do Exército. O livro havia sido autorizado pelos superiores de Shaffer. Os analistas do setor vão acompanhar os planos do The Boston Globe e do The New York Times de começar a cobrar pelo acesso aos seus web sites no ano que vem. Os detalhes dos planos ainda não são claros, mas a exigência de que os leitores paguem pelo acesso a conteúdo noticioso é um tema que tem sido calorosamente debatido entre os executivos da mídia dos Estados Unidos. O The New York Times deverá lançar esse novo sistema em janeiro, e o The Globe mais adiante, no ano que vem. O julgamento dos três homens acusados de matar Chauncey Bailey, editor do Oakland Press, da Califórnia, está marcado para o começo deste mês. Os homens são acusados de tê-lo assassinado três anos atrás para que parasse de escrever uma matéria sobre sua empresa familiar. Os defensores da liberdade na internet estão observando de perto o novo projeto de lei apresentado pelos senadores Patrick Leahy e Orrin Hatch e que exigiria que os serviços de registro de domínios que estão sob controle dos Estados Unidos e os provedores de serviços de internet retirassem dos seus servidores os endereços de web sites que violem direitos autorais ou marcas comerciais. O governo Obama também avalia possibilidades de permitir que agências dos Estados Unidos interceptem comunicações de usuários. Há preocupação de que medidas como essas possam prejudicar a ideia de uma “internet única” e dar aos governos um campo de ação irrestrito para vigiar as comunicações na internet.

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