Em meio à destruição causada por um terremoto e a um surto de cólera, a mídia do Haiti tem lutado para se reconstruir e continuar difundindo informações humanitárias essenciais para centenas de milhares de pessoas que continuam vivendo precariamente nas cidades construídas com tendas, dentro e fora da capital.
A Associação de Jornalistas Haitianos (AJH) tem trabalhado com o departamento de proteção civil, do governo, para treinar jornalistas em dezenas de cidades em todo o país e prepará-los para realizar seu trabalho de informar com mais rapidez e mais eficiência sobre os assuntos humanitários.
Transmissões de rádio sobre medidas de proteção e higiene, o trabalho conjunto da mídia e das organizações humanitárias internacionais e as redes de mais de 250 jornalistas nos 10 departamentos do Haiti têm ajudado a controlar a disseminação da doença e proteger os que correm mais riscos.
Mas os desafios antigos para a mídia diante do crime organizado e das guerras de gangues começam a despontar novamente.
Há duas semanas, homens armados alvejaram um ônibus com jornalistas que iam fazer a cobertura da campanha de um candidato à presidência do Haiti. Roubaram seus pertences, mataram o motorista e feriram um repórter. No ônibus viajavam sete jornalistas haitianos que se dirigiam para um comício do candidato Jacques Edouard Alexia, um ex-vice-presidente que é considerado o preferido para as eleições de 28 de novembro.
Apesar de as eleições não estarem na lista de riscos e prioridades humanitárias, continua sendo extremamente necessário ter um grupo proativo de meios de comunicação com preparo para fornecer matérias críticas e profundas e garantir, assim, que os bilhões de dólares envolvidos no processo de reconstrução não sejam desviados para as eleições que escolherão um novo líder para o país.
Para preparar os jornalistas haitianos para as eleições, a AJH treinou, de 29 a 31 de outubro, mais de 70 jornalistas de várias comunidades, cobrindo desde o noroeste do país até a capital.
Joseph Guyler Delva, correspondente da BBC e da Reuters em Porto Príncipe e presidente de um comitê para promover a investigação e julgamento dos casos envolvendo assassinatos de jornalistas foi ameaçado por membros de gangues.
Vários jornalistas haitianos trabalham para ganhar muito pouco ou quase nada, e o terremoto em janeiro só fez piorar essa situação. Dezenas de jornalistas perderam suas casas ou seus familiares, e muitos perderam o emprego. Vários jornalistas foram forçados a trabalhar com o governo. Antes do terremoto, a situação estava gradativamente melhorando, e havia iniciativas para tratar dos assassinatos de jornalistas e problemas relacionados com a impunidade.
A Comissão Independente para Apoio às Investigações sobre Assassinatos de Jornalistas foi criada em 2008 pelo presidente e pelo S.O.S. Journalistes, grupo local que defende a liberdade de imprensa, para contribuir nas investigações e no julgamento dos assassinatos de jornalistas nos últimos anos.
No ano passado, o juiz Fritzner Fils-Aime, encarregado da investigação do assassinato, em 2000, de Jean Dominique, jornalista e radialista, foi suspenso por graves atos de corrupção. Dois outros oficiais de justiça envolvidos no caso também foram suspensos por motivos semelhantes. Fils-Aime foi o sexto juiz a abandonar a investigação do assassinato de Dominique.
Madrid, Espanha