Nos últimos seis meses, apesar da situação da liberdade de imprensa não registrar fatos violentos a lamentar, persistem as ameaças isoladas contra jornalistas, principalmente no interior do país, enquanto o governo continua sua política de usar a publicidade governamental para castigar a crítica da imprensa.
Falta um mês para o início formal do processo eleitoral da Guatemala, embora, na prática, a campanha partidária já tenha começado há algumas semanas. Tradicionalmente nestes processos, surgem ataques e críticas contra a imprensa independente e, ao que parece, isso não vai mudar agora.
Quanto ao acesso às informações públicas no país, a Procuradoria de Direitos Humanos (PDH) afirmou haver resistência em muitas das instituições públicas de entregar o que foi solicitado, apesar de uma lei que ampara este direito estar em vigor desde 2009.
O secretário executivo da Comissão de Acesso às Informações, na PDH, Alfonso Godínez, revelou que em 2010 os ministérios de Governo e Economia, além de muitos municípios, resguardaram informações sobre os salários de seus funcionários, atribuindo isso, entre outros fatores, ao baixo nível de prestação de contas e à inexistência da cultura de informar as pessoas.
O funcionário da PDH considerou ser necessário transformar a cultura dos funcionários do setor público que não estão acostumados a dar informações, mas também a dos cidadãos que não estão acostumados a cobrar. O acesso às informações se baseia em uma premissa muito importante: quem tem mais informações é capaz de tomar melhores decisões sobre a sua vida, esclareceu Godínez.
No caso de instituições que negam informações aos jornalistas ou pedem que façam o pedido por escrito, Godínez assinalou que deve estar claro para os órgãos públicos e todas as pessoas obrigadas pela legislação que o acesso às fontes é um direito constitucional; a lei de acesso às informações não entra em conflito com a liberdade de imprensa, acrescentou.
Neste semestre, registraram-se algumas agressões contra jornalistas, principalmente no interior do país.
No início de janeiro, o jornalista Óscar de León, correspondente de telejornalismo de Guatevisión, no departamento de Quetzaltenango, recebeu reiteradas ameaças e ataques, enquanto seu irmão sofreu um atentado em carro de sua propriedade. O jornalista acha que os incidentes podem estar ligados às informações anônimas que recebeu sobre denúncias contra o diretor da Polícia Municipal de Transporte de Quetzaltenango.
Embora nunca tenha publicado as informações, estas se tornaram públicas após as consultas que fez ao prefeito do município, quando este, por sua vez, reuniu o Conselho Municipal.
As ameaças telefônicas e por meio de colegas continuaram. Em 28 de janeiro, desconhecidos dispararam em três ocasiões contra o seu automóvel, que estava sendo dirigido por um irmão do jornalista. Enquanto isso, o agora ex-diretor da polícia apresentou uma ação contra ele por difamação.
Em 16 de janeiro, dois jornalistas de Quiché foram agredidos em evento político-partidário. Jorge Toledo e Norman Rodas, do canal 2 de Santa Cruz del Quiché, foram atacados por pessoas que se identificaram como membros da equipe de Comunicação Social do Partido Patriota (PP).
O incidente provavelmente se originou durante conferência de imprensa na sede do PP, onde surgiu uma discussão que acabou em insultos e golpes contra Toledo. Ao tentar interceder, golpearam Rodas e o feriram na cabeça com uma câmera.
Em 17 de fevereiro, um procurador geral para o crime organizado, do Ministério Público (MP), que coordenava um mandado de busca e apreensão em um bar clandestino no centro de San Pedro Sacatepéquez, em San Marcos, ameaçou confiscar o equipamento de dois jornalistas e levá-los à prisão, quando eles faziam a cobertura do evento.
Jenner Barrios, operador de câmera do website Noticias del Valle, disse à agência Cerigua que fazia a cobertura da operação de busca e apreensão, quando o procurador geral, cujo nome não revelou, se dirigiu a eles com violência, pedindo que não gravassem e ordenando que virassem para a parede, enquanto ameaçava tirar seu equipamento e levá-los à prisão.
Madrid, Espanha