Um ambiente de violência e impunidade preocupantes envolve o jornalismo mexicano. Neste período, houve o assassinato de cinco jornalistas no país, já considerado como um dos mais violentos para o exercício da profissão.
Além de perpetrados contra jornalistas, houve ataques também contra instalações de meios de comunicação, como ocorreu em Saltillo, Coahuila, nos escritórios do jornal Vanguardia, quando foram atiradas granadas de fragmentação em maio, provocando danos materiais.
Cada agressão ao jornalismo é um ataque ao Estado de Direito, como também a inação e a passividade das autoridades perante tais ataques. A Comissão Nacional de Direitos Humanos assinala que, por este motivo, se deve exigir do governo o seu compromisso com ações concretas para garantir aos jornalistas a proteção da vida e da integridade pessoal, bem como o direito do público às informações.
Esta entidade registra 10 assassinatos contra jornalistas em 2011 e 76 casos desde 2000.
Neste período, um dos fatos de maior impacto ocorreu em 20 de junho passado em Veracruz, quando foi assassinado Miguel Ángel López Velasco, colunista do jornal Notiver, junto com seu filho Misael López Solana, que também trabalhava como fotógrafo, e sua esposa Agustina Solana. Cinco repórteres desse jornal decidiram abandonar a cidade pela falta de garantias para sua proteção.
Entre os demais jornalistas assassinados desde abril estão: Noel López Olguín e Yolanda Ordaz de la Cruz, de Veracruz; Humberto Millán Salazar, de Sinaloa e María Elizabeth Macías Castro, de Tamaulipas.
-Noel López Olguín, que havia desaparecido em 8 de março e era colunista do diário La Verdad de Jáltipan, foi encontrado morto no dia primeiro de junho, perto de Jáltipan, Estado de Veracruz.
-Yolanda Ordaz de la Cruz, repórter que cobria as fontes de noticiário policial para o diário local Notiver, en Veracruz, foi torturada e encontrada morta em 26 de julho.
-Humberto Millán Salazar, diretor do diário digital A Discusión, e host de um dos espaços de notícias da Radio Fórmula em Sinaloa, foi encontrado morto em um campo agrícola, em 25 de agosto.
-María Elizabeth Macías Castro, editora de um jornal de Nuevo Laredo, Tamaulipas, foi encontrada morta em 25 de setembro.
Ainda não se sabe o paradeiro de vários jornalistas, entre eles, Alfredo Jiménez Costa, do El Imparcial, desaparecido desde abril de 2005.
Em 7 de julho passado, durante sua visita ao país, a Alta Comissária dos Direitos Humanos na Organização das Nações Unidas, Navi Pillay, manifestou sua decepção com a situação diante da violência crescente contra os jornalistas e acentuou que estes crimes não podem permanecer impunes.
A Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou sua preocupação profunda com a situação de violência contra comunicadores no México e instou as autoridades a investigarem de maneira exaustiva estes assassinatos, além de identificarem, processarem e condenarem os autores materiais e intelectuais.
A SIP denunciou que o governo federal não cumpriu seu compromisso de garantir a segurança dos jornalistas e de fazer uma reforma que os crimes contra a liberdade de expressão passem para a alçada federal e não prescrevam.
Fez também observações sobre estes temas para a Procuradoria Especial para Delitos contra Jornalistas, durante sua Conferência Hemisférica Universitária realizada em fim de agosto em Puebla, criticando a falta de ações concretas para esclarecer uma centena de crimes ocorridos nas duas últimas décadas.
Gustavo Salas, procurador geral especial para a Supervisão de Delitos Cometidos Contra a Liberdade de Expressão, informou que foi no norte que se cometeu o maior número de assassinatos contra jornalistas.
De acordo com o seu relatório, Chihuahua, Guerrero e Tamaulipas são as regiões mais inseguras para jornalistas, onde se cometem 50% dos atentados, enquanto Michoacán é a região com o maior número de desaparecimentos de jornalistas.
Aumentam os riscos para a mídia e para os jornalistas como consequência da narcopolítica reinante, fenômeno caracterizado pelas ameaças e pressões por parte de governos municipais e estaduais que protegem grupos do crime organizado e representa uma séria ameaça à segurança dos jornalistas e ao livre exercício da liberdade de expressão.
Esses narcopolíticos recebem imensos recursos para suas campanhas políticas durante os processos eleitorais, o que depois promove um estado de impunidade com proteção aos grupos do crime organizado e sem que se criem as condições de proteção ao livre exercício do jornalismo e para a investigação dos crimes contra jornalistas e contra a mídia.
Entre outros fatos relevantes se destacam:
-Três repórteres da Cidade do México que se encontravam nas instalações do Serviço Médico Forense em Veracruz, recolhendo depoimentos e fotografias de pessoas que procuravam seus parentes, entre as 35 vítimas assassinadas em 20 de setembro, foram agredidos e ameaçados por agentes da Agência de Investigações de Veracruz.
-Em 2 de julho, um grupo de indivíduos desconhecidos atirou os cadáveres de dois homens decapitados nas instalações dos jornais Noroeste e El Debate do porto de Mazatlán.
-Em 15 de setembro, a SIP condenou o assassinato de dois jovens mexicanos executados em aparente represália por suas denúncias contra o narcotráfico nas redes sociais.
Madrid, Espanha