Nicaragua

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Continua a discriminação, iniciada no início do mandato presidencial do Presidente Ortega, de negar publicidade estatal à mídia independente. A voracidade na aquisição de meios de comunicação não tem limite. Atualmente o partido do governo conta com as rádios Ya, Sandino, Primerísima e Nicaragua; páginas eletrônicas como El 19 Digital, Nicaragua Triunfa e os canais de TV: 4, 6, 8, 13 e 91. O sigilo e a falta de acesso às informações públicas são tão grandes que a Secretária de Comunicação e Cidadania e Chefe de Campanha da Frente Sandinista de Liberação Nacional, Rosario Murillo, quando se reuniu em 13 de junho com os “jornalistas da mídia do Poder Cidadão”, recebeu queixas sobre o bloqueio que eles também sofrem nas instituições do Estado. Sob a orientação do presidente Daniel Ortega, Rosario Murillo insistiu na “obrigação” dos funcionários e servidores do Governo de Reconciliação e Unidade Nacional e das prefeituras do Poder Cidadão de atender os meios de comunicação que promovem e defendem o projeto e modelo governamental. Rosario Murillo convocou os funcionários dos serviços de relações públicas de cada instituição para que atuem como um canal que permita contatar o dirigente da mesma “sempre que for necessário”. “Até agora, atuam como meios de obstrução das informações, prejudicando assim o governo, o presidente e os projetos presentes e futuros dos nicaraguenses”. Com era de esperar, nada disse sobre as informações para os meios de comunicação independentes. Mesmo assim, continuam os piquetes ao diário La Prensa, duas ou três vezes por semana, por parte de um suposto sindicato apoiado por setores ligados ao partido do governo, além da obstrução de suas portas para evitar a circulação do jornal. Investigações jornalísticas feitas pelo jornal La Prensa descobriram que correligionários e funcionários sob comando direto do presidente criaram uma sociedade à qual o órgão regulador das telecomunicações, Telcor, outorgou prestimosamente uma licença para lhe conceder o serviço de televisão aberta em UHF através do canal 47. Este seria o segundo canal de televisão em UHF que a Telcor concede a testas de ferro ligados diretamente ao mandatário sandinista. Em meados da Semana Santa, o secretário geral da prefeitura de Manágua e chefe de campanha da FSLN, Fidel Moreno, e a prefeita Daysi Torres, além de acusarem os vereadores da oposição Luciano García e Leonel Teller, asseguraram também que “desta vez nos reservamos o direito de acusar e processar os donos de meios de comunicação que se prestaram a esta campanha e a própria mídia” pelo simples fato de informarem sobre supostos usos indevidos de fundos da prefeitura. Daisy Torres indicou que “quem difamar os funcionários da prefeitura de Manágua (ALMA) que aguente as consequências. Jornalistas, tenham cuidado para não difamar nem prejudicar a imagem das pessoas que não praticaram delitos”. Durante a reunião do Foro de São Paulo em Manágua, “por ordens superiores”, foi negado o credenciamento de El Nuevo Diario, La Prensa, Canal 2 e Canal 12 de TV para cobertura à reunião anual dos partidos de esquerda da América Latina. O porta-voz do evento, Silvio Esteban Rodríguez, confirmou que não tinha autorização para credenciar nenhuma equipe jornalística destes meios de comunicação para dar cobertura ao encontro. Fotógrafos de El Nuevo Diario e La Prensa foram agredidos por Alejandro Bolaños Davis, presidente do Partido Conservador, em distúrbio interno na sede do partido durante uma sessão do mesmo com discussões acaloradas. Em agosto, a correspondente de El Nuevo Diario em Jinotega, Silvia González, tornou pública a sua denúncia a organizações de direitos humanos, onde expôs as ameaças que recebeu de simpatizante do partido do governo. Silvia González denunciou à Comissão Permanente de Direitos Humanos (CPDH) que, em repetidas ocasiões, recebeu em seu celular mensagens de texto com advertências para não continuar exercendo a sua atividade jornalística, senão “vai sofrer onde mais lhe incomoda”. As últimas mensagens enviadas foram: “De Jos: Gostaríamos de ver você assim para que não continue perturbando, é melhor calar a boca de uma vez”, seguida de “Se continuar perturbando, também vamos mandar queimar este jornaleco onde você trabalha”. Em setembro, Silvia González se viu obrigada a pedir demissão do jornal e a abandonar o país, após as contínuas ameaças recebidas contra a sua vida desde 30 de julho e por não receber respostas da Polícia Nacional, apesar das suas constantes denúncias. Silvia González disse que a Polícia somente levantou uma lista de todos os números telefônicos e garantiu que a chamaria para identificar os telefones. “Como nunca chamaram, compareci à delegacia duas vezes. Na primeira vez, disseram que não tinham pessoal suficiente e na seguinte nem me atenderam”, ela declarou. Depois lhe enviaram duas mensagens de texto em que a ameaçavam de morte e, em agosto, jogaram, na área da sua residência, uma cabeça de galinha, com um papel amarrado onde estava escrito o seu nome. Dois dias antes da sua partida, recebeu duas cartas anônimas com recortes de revistas e jornais onde se lia: “Vamos lhe matar”.

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