Neste período não se registraram violações importantes da liberdade de imprensa. Os meios de comunicação independentes puderam expor as suas posições sem contratempos nem ameaças e, salvo esporádicas explosões de mau humor do presidente José Mujica, não houve nenhuma intromissão nos trabalhos dos jornalistas.
O único momento sombrio do período surgiu em consequência de uma dívida do diário oficial La República e seu complexo de multimídia (rádio e canal de televisão) com a UTE, o órgão encarregado do setor energético do Uruguai. Esta dívida foi refinanciada em setembro de 2010, mas voltou a ficar inadimplente e, por sua vez, foi objeto de novas gestões e refinanciamento, o que se pode interpretar como favorecimento tendo em vista o não pagamento das suas obrigações.
Em 28 de outubro, a Asociación Nacional de Broadcasters (Andebu) expressou a sua "preocupação" com a "proliferação" de iniciativas de regulação da mídia, cuja aplicação "restringe" as liberdades. Solicitou às autoridades a "tomada de medidas" para dar cumprimento efetivo ao compromisso, assumido pelo presidente e vice-presidente da República Danilo Astori, "de rechaçar qualquer iniciativa" que "tenha por objeto a restrição da liberdade e independência dos meios de comunicação.
Em 18 de dezembro, face à pergunta de um jornalista que o interrogava sobre um incidente naval em que um barco argentino interceptou um pesqueiro espanhol em águas territoriais uruguaias, o presidente Mujica optou por calar a boca do interlocutor em vez de lhe dar uma resposta: Não seja maluco, ele disse e acrescentou tudo bem, retire-se.
Em 2 de fevereiro, o Presidente criticou a imprensa em seu programa de rádio habitual na quinta-feira, pelo tratamento e espaço que dá para as notícias boas, que só recebem uma leve menção escondida, enquanto repisam as que podem representar críticas, quanto pior melhor.
No início de março, o órgão encarregado do setor energético UTE iniciou os cortes de eletricidade do denominado Multimedio Plural, um grupo pró-governamental que inclui o diário La República, a rádio AM Libre e TV Libre pelo descumprimento do acordo de refinanciamento firmado em setembro de 2010 no valor aproximado de 300 mil dólares. O corte decorreu da falta de pagamento da prestação anual, a primeira das cinco incluídas no refinanciamento inicial.
O empresário argentino Gustavo Yocca, novo proprietário majoritário do grupo Multimedio recorreu a uma Comissão do Parlamento. Além de conseguir uma mediação, deixou constar que a UTE não contratou publicidade suficiente na sua mídia, um dos modos previstos para amortizar a sua dívida, segundo noticiou a rádio Espectador, que teve acesso ao áudio da sessão da Comissão. O convênio firmado não gerava nenhuma obrigação à UTE de comprar matéria publicitária no grupo Multimedio. O atraso ocorreu já na primeira prestação do refinanciamento, o que foi considerado um tratamento privilegiado perante a concorrência (jornais, rádio ou televisão) cumpridora de suas obrigações.
O governista Luis Puig ficou especialmente aborrecido com Yocca, assinalando que a UTE tem o direito e a obrigação de cobrar os serviços prestados. O deputado, um tradicional dirigente sindical, expressou na Câmara que, logo se deverá dar continuidade à resolução dos atrasos nos créditos trabalhistas do grupo com os seus trabalhadores.
Pode-se entender melhor este novo episódio com base no e-mail enviado por Yocca a um alto funcionário da Casa Rosada, que reproduz a revista Caras y Caretas, onde diz que com um pouco de ajuda do velho (ou seja, Mujica) e mais um pouco da chefa (Cristina Fernández), consigo empurrar isso com a barriga.
Madrid, Espanha