Na Bolívia, três jornalistas foram detidos e temporariamente presos em represália pelas suas denúncias sobre corrupção na administração pública. Na Guatemala e na Argentina houve repressão a repórteres que cobriam as eleições, e no Peru, Equador e Brasil àqueles que informavam sobre conflitos e protestos sociais.
Na Venezuela, onde se consolida um totalitarismo comunicacional do Estado, 287 violações ao direito de liberdade de expressão foram registradas até agora este ano, e elas incluem agressões a jornalistas, esforços para criminalizar o trabalho dos jornalistas e restrições do acesso às informações. Um fato positivo é a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos do início de setembro que ordena a restituição dos equipamentos e licenças da RCTV, apesar de a sentença ter sido até agora ignorada pelo governo de Nicolás Maduro.
Em Cuba, apesar do restabelecimento das relações entre os governos desse país e dos Estados Unidos, há poucos avanços em termos de liberdade de expressão, associação e imprensa, e jornalistas continuam sendo presos. Entre outras medidas de repressão, mantém-se a censura a web sites importantes, a inspeção de e-mails, suspensão de serviços de telefonia móvel e a agressão física e verbal a ativistas e jornalistas independentes.
No Equador, continua o clima de repressão dos órgãos de controle e aplicação da Lei Orgânica de Comunicação. Meios e organizações sancionados recorreram ao direito constitucional de resistência. Arquivou-se um processo para a dissolução da FUNDAMEDIOS, mas as ameaças persistem. As cadeias nacionais presidenciais dos sábados também continuam, apontando e estigmatizando aqueles que se atrevem a discordar do governo.
Também na Argentina e na Venezuela os presidentes recorrem de modo abusivo a cadeias nacionais para fazer propaganda partidária e insultar seus críticos. Os abusos e a distribuição discriminatória da pauta de publicidade oficial aumentam na Argentina, Bolívia, Venezuela, Equador e México. Nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça revelou que em 2014 emitiu duas intimações e uma ordem de busca e autorizou em duas ocasiões interrogatórios a jornalistas e meios de comunicação. Dois repórteres que cobriram os conflitos no ano passado em Ferguson foram acusados de suposta “invasão de propriedade” e “interferência”.
As restrições do acesso à informação pública aumentaram na Argentina, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Haiti, Honduras, Jamaica, Panamá, Paraguai, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela. No Chile, projetos de lei em trâmite poderiam resultar em sérios obstáculos à liberdade de imprensa; entre eles, intervenção na linha editorial dos meios de comunicação, restrições ao direito de propriedade e prejuízo para o direito à livre iniciativa econômica; danos a empresas jornalísticas e jornalistas, e restrições ao acesso às informações.
No Panamá, estuda-se um projeto de lei que, entre outras graves restrições à liberdade de expressão, impõe a afiliação obrigatória de jornalistas a associações profissionais e estabelece penas de prisão para o exercício ilegal do jornalismo. Continuam as investigações sobre escutas ilegais de jornalistas.
A concentração da mídia nas mãos de grupos do governo ou pessoas ligadas ao governo é um fenômeno cada vez mais presente nas Américas. No Paraguai, por exemplo, um grupo empresarial ligado ao presidente Horácio Cartes comprou um grupo de empresas jornalísticas, o que acendeu o debate sobre a concentração da mídia nas mãos de pessoas próximas ao governo.
Na Nicarágua, o presidente Daniel Ortega mantém controle ferrenho sobre a mídia e os jornalistas. Restam apenas um canal de TV, uma rádio e um jornal independentes; o resto é propriedade da família Ortega ou de pessoas próximas a eles. O presidente do Equador, Rafael Correa, não cumpriu seu compromisso de reprivatizar os meios de comunicação que foram confiscados pelo seu governo. E na Argentina proliferam os grupos multimídia criados e mantidos com a publicidade oficial, apesar de sua baixa audiência.
No Paraguai, é preocupante o programa de vigilância eletrônica do ministério do Interior e prosseguem, na Suprema Corte de Justiça, dezoito ações de inconstitucionalidade contra a Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual.
Em contrapartida, em Costa Rica um projeto de lei de rádio e televisão que prejudicava empresas privadas e a liberdade de imprensa foi abandonado, e estão sendo estudados projetos para regulamentar a publicidade oficial, descriminalizar o trabalho dos jornalistas e legalizar as emissoras de rádio comunitárias. Persistem, porém, as ameaças ao jornalismo livre.
Merecem destaque também os esforços coordenados das organizações de defesa da liberdade de imprensa na região, como o recente Foro de Quito, que estabeleceu um plano de ação para exigir que esse direito seja respeitado no Equador.