Doze jornalistas assassinados nos nove primeiros meses deste ano, junto a muitos outros que foram vítimas de perseguição, agressões físicas e ameaças de morte, demonstram o perigo atual do exercício do jornalismo no nosso hemisfério. Continua crescendo o número de assassinatos sem que seus autores respondam à justiça, evidenciando que existe um número elevado de casos que caíram na total impunidade. Deste modo, são evidentes a proteção escassa e resposta nula do Estado em relação a estes casos extremos. Somente no México houve 11 destes crimes e já existem 118 assassinatos e 20 jornalistas desaparecidos nesse país desde o ano 2000. Na Colômbia, nesse período, existem mais de 100 assassinatos não resolvidos e no Brasil os números não são muito diferentes.
Estes casos representam a ponta do iceberg quanto à liberdade de expressão, pois se chega a matar o jornalista depois de ameaçá-lo, persegui-lo e agredi-lo. Há intimidações de jornalistas e editores de jornais na Bolívia, Colômbia, Equador, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, Panamá e Venezuela. As táticas de amedrontar partem dos traficantes de drogas e das quadrilhas de criminosos, mas também de autoridades locais, nacionais e militares. Com a reação tímida das autoridades do governo, quando não com a sua ativa participação na intimidação dos jornalistas, gera-se um clima favorável à agressão e, eventualmente, ao assassinato dos jornalistas.
Além disso, nesses anos se observa um aumento da interferência no trabalho jornalístico quando os repórteres são obrigados a participar como testemunhas em muitos processos judiciais e, em alguns casos, se tenta forçá-los a revelar as suas fontes. Isso já aconteceu em Boliva, Brasil, Colômbia, Estados Unidos e México.
Em vários países, como Bolívia, Chile, Equador, Panamá e Trinidad-Tobago, a autoridade máxima do país se intromete nas tarefas jornalísticas, quer processando os jornalistas, quer criticando-os diretamente. Em muitos outros, como na Costa Rica, Nicarágua, México e Bolívia, a publicidade oficial ou estatal é usada para premiar ou castigar a mídia, dependendo das informações divulgadas. E ainda existem, em vários países, grandes restrições para o acesso à informação pública. Apesar da aprovação de várias leis de acesso à mesma, existem casos em que subsequentemente se limitou a aplicabilidade dessas leis.
Um sinal preocupante é que os esforços legislativos persistem em apresentar projetos que restringem a liberdade de expressão, como no caso da República Dominicana.
Em Cuba, o surgimento da mídia independente preocupa o governo que aumentou a repressão contra ela e, ainda mais intensamente, contra os jornalistas-cidadãos. As detenções, os interrogatórios ameaçadores e o confisco dos equipamentos de trabalho são frequentes. Um sinal preocupante é que os esforços legislativos persistem em apresentar projetos que restringem a liberdade de expressão, como no caso da República Dominicana.
As detenções arbitrárias e as proibições do ato de informar sobre elas, como ocorreu no caso do jornalista Braulio Jatar, mostram a que ponto se chegou nesse país. As sedes de alguns meios de comunicação venezuelanos sofreram ataques noturnos com tiros e coquetéis Molotov que não são investigados.
Junto aos obstáculos tradicionais que a imprensa enfrenta para desenvolver livremente sua tarefa de informar, aparecem novos desafios. Os ataques cibernéticos contra alguns meios de comunicação adquiriram um caráter alarmante. Seja através de hacking ou da criação de contas falsas nas redes sociais, ou da criação de páginas anônimas, a mídia se expõe a novas formas de obstrução do seu trabalho. Portanto, ela deve se preparar e se defender desta nova ameaça à liberdade de expressão que afeta gravemente a mídia da Guatemala, El Salvador e Trinidad-Tobago. A SIP lançou com a Google uma iniciativa denominada Projeto Escudo (Project Shield) que utiliza a tecnologia e a infraestrutura desta empresa para proteger os sites de notícias dos ataques cibernéticos que procuram impedir a divulgação das informações e garantir, desse modo, a liberdade de expressão. A Sociedade Interamericana de Imprensa confia que, com esta ajuda, os meios de comunicação grandes e pequenos da América Latina terão melhor proteção.
Entre estas novas ameaças criou-se um novo suposto direito, o direito ao esquecimento. Como consequência das resoluções judiciais de um tribunal europeu, apareceram várias iniciativas legais no continente que procuram regulamentar esta matéria, o que pode se transformar facilmente em uma nova forma de censura. Já surgiram casos emblemáticos na Argentina, Brasil, Chile e Colômbia e em alguns destes países houve uma interpretação arbitrária do fato, o que fica evidente em projetos de lei que procuram regulamentar este suposto direito, permitindo que as pessoas descontentes com alguma notícia possam eliminar a informação divulgada. O potencial de censura de uma iniciativa semelhante é imenso, como são também as complexidades de sua aplicação, pois as sentenças de cada tribunal somente são aplicáveis nas localidades de sua competência e pretende-se dar aplicação universal ao esquecimento.
Junto às graves ameaças de violência e aos novos desafios que a imprensa enfrenta, deve-se registrar também áreas de progresso. Atualmente é mais fácil acessar a informação pública em muitos países, onde as novas leis de acesso começaram a ser aplicadas, como no caso da Argentina, onde se aprovou uma lei a este respeito. Do mesmo modo, é preciso reconhecer o esforço do governo argentino de alcançar uma distribuição da publicidade oficial de forma mais técnica, independentemente das linhas editoriais.