A violência contra repórteres e cinegrafistas durante a cobertura dos bloqueios das estradas de La Paz a Oruro, praticados por mineiros cooperativados entre 22 e 25 de agosto de 2016, culminou com o assassinato de um alto funcionário da segurança interna e a morte de cinco trabalhadores. Isto gerou um ambiente de intimidação devido ao interesse da Promotoria em obter informações, imagens e vídeos de uso jornalístico para substanciar investigações policiais.
Mineiros de cooperativas dedicadas à exploração de jazidas estatais interromperam o tráfego rodoviário na estrada tronco da Bolívia, em protesto contra uma nova legislação para o setor e enfrentaram as tropas de choque policiais.
Durante os protestos, as equipes de reportagem dos canais de televisão, jornais e emissoras de rádio sofreram hostilidades dos manifestantes, ameaças e agressões físicas que deixaram um saldo de três cinegrafistas e fotógrafos feridos.
Em 23 de agosto, o cinegrafista da rede privada Cadena A da cidade de Oruro, Roger Salazar, foi ferido durante uma pancadaria protagonizada pelos mineiros. Este fato ocorreu na localidade de Panduro, a 50 quilômetros de La Paz.
A Promotoria abriu um processo contra os supostos responsáveis pela agressão.
Em 25 de agosto, o fotógrafo do jornal La Razón, José Lavayén, e o cinegrafista do canal particular Red Uno, Marcos Ayllón, acabaram feridos durante os confrontos entre os mineiros e os policiais de Panduro.
Neste mesmo dia, os mineiros interceptaram a equipe de reportagem da Red Uno, composta pelo jornalista Erick Salazar, o cinegrafista Marcos Ayllón e o motorista Félix Oscar Lira.
Ayllón sofreu fratura do septo nasal. Salazar fez o relato dramático do resgate de Ayllón, que foi capturado pelos responsáveis pelo bloqueio e golpeado repetidamente.
A Associação Nacional de Imprensa da Bolívia (sigla ANP, em espanhol) condenou os excessos dos mineiros e pediu o ressarcimento dos danos materiais e pagamento do atendimento médico.
Após o assassinato do vice-ministro de segurança interna, Rodolfo Illanes, em 25 de agosto, um membro da Comissão de Promotores convocou o diretor da rádio Fencomin, Moisés Flores, a prestar declarações, porque ele foi o primeiro comunicador a ver o corpo do morto e a divulgar a notícia.
A assessoria jurídica da ANP acompanhou Flores à Promotoria para explicar que o jornalista realizava seu trabalho de informação e não poderia se converter em testemunha.
Durante a representação, um promotor e policiais fizeram uma diligência no edifício onde funciona a rádio Fencomin. Detiveram o jornalista Roger Condori durante cinco horas e o soltaram em seguida sem nenhuma acusação.
A intervenção gerou a interdição do prédio, o silenciamento da rádio Fencomin, o sequestro do principal computador da emissora e de gravadora portátil usada em coberturas jornalísticas. O diretor da mídia explicou que realizou suas atividades de trabalho de informação nos dias do conflito em um contexto de pluralidade e respeito às fontes jornalísticas.
A ANP denunciou a violação do artigo 296 do Código Penal que pune "com seis meses a três anos de prisão e trinta a duzentos dias de multa, o que ilegalmente impediria ou prejudicaria a livre manifestação do pensamento por qualquer meio de divulgação, assim como a livre circulação de livros, jornais ou quaisquer outros impressos".
A Promotoria anunciou que pedirá fotografias e gravações de vídeo aos repórteres que cobriram os atos de violência, uma medida que viola as normas fundamentais ao exercício do jornalismo, como o sigilo de imprensa, a neutralidade e equilíbrio na informação.
O ministro de Governo, Carlos Romero, disse que "o sigilo das fontes passa para um segundo plano quando houver necessidade de esclarecer um assassinato", contrariando a garantia estabelecida pela Lei de Imprensa.
Continua o ambiente hostil contra os meios de comunicação e jornalistas no país. Depois dos resultados do referendo de 21 de fevereiro, contrários às aspirações de reeleição do presidente Evo Morales, o governo desencadeou uma campanha de descrédito do trabalho jornalístico.
As ameaças do governo vêm acompanhadas de qualificativos como o "cartel da mentira", "máfia informática" e "armas de guerra", pretendendo com isso mostrar o conjunto de mídia independente como um aparato político de desestabilização.
No caso da mídia impressa independente, a cobertura dos atos de corrupção e do caso Zapata em particular motivou a suspensão da publicidade estatal, uma política usual denunciada e rejeitada pela ANP há vários anos.
A ANP denunciou a "perigosa situação de vulnerabilidade" em que se encontra o trabalho jornalístico e entregou uma carta ao representante do Alto Comissariado para Direitos Humanos das Nações Unidas, Denis Racicot. O relator especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Edison Lanza, não se livrou nem do torpe descrédito governamental depois de sua visita ao país em agosto. Após se reunir com diversas organizações jornalísticas, de Direitos Humanos e ONGs, ele incentivou o estabelecimento de um clima de tolerância e respeito na relação entre o Governo e os Meios de Comunicação, algo do interesse da liberdade de expressão e do direito à informação.
Pouco depois, o presidente Morales incluía o relator Lanza no "cartel da mentira" e afirmava que a mídia se convertera em uma "arma de guerra poderosa dirigida à desinformação, à ideologização imperial e à desmobilização da sociedade".
A jornalista Marianela Montenegro enfrenta um processo pelo crime de difamação depois de uma ação apresentada pela ex-promotora de combate às drogas de Cochabamba, Claudia Mancilla. Montenegro, dona do Canal 33, de Cochabamba, comanda o programa de debates Alô Marianela, que cobre o desaparecimento de 119.800 dólares apreendidos em 2011 com uma pessoa suspeita de narcotráfico. O dinheiro que estava sob a custódia de Mancilla em seu cofre desapareceu.
A jornalista denunciou que há vários anos sofre "assédio, perseguição, ameaças de morte e processos inventados". A SIP pediu ao Conselho da Magistratura de Cochabamba transparência, o devido processo legal e acesso à justiça no processo criminal.