Diversos acontecimentos geraram controvérsia estes últimos meses, destacando-se, em 21 de setembro, o confisco pela polícia Provincial de Quebec de um computador de propriedade do repórter Michael Nguyen, a pedido do conselho judicial de Quebec.
Nguyen havia relatado em artigo publicado em junho que uma juíza insultara e agredira diversos subordinados depois de uma festa de Natal celebrada nas instalações do tribunal. O conselho judicial de Quebec disse que o repórter entrou nos sistemas digitais da repartição para obtenção da história. Por seu lado, o Journal de Montreal assegurou que seu repórter procedeu de acordo com os padrões mais rigorosos do jornalismo profissional e que essa violação nunca ocorreu. O computador foi lacrado judicialmente e continua apreendido até algum juiz se pronuncie sobre a validade da ordem de arrombamento empregada no confisco. A Associação Canadense de Jornalistas (CAJ) manifestou seu repúdio e solidariedade ao jornalista, dizendo que espera que lhe devolvam seu computador.
A reestruturação do setor jornalístico tem sido dominada pelos fenômenos de convergência e por uma reviravolta radical no modo pelo qual a mídia busca comunicar e divulgar as informações, em face ao desmonte dos seus modelos de negócio.
Entre 2015 e 2016, o país desceu dez posições no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, em decorrência do que se costuma chamar de "Era da Obscurantismo" para o jornalismo, durante o mandato do conservador Stephen Harper, segundo a organização Repórteres Sem Fronteira. Como herança dos quase 10 anos de Harper no poder, foram eliminadas muitas das proteções à liberdade de expressão e de imprensa.
O acesso às informações do Governo Federal ainda não foi restabelecido e o Sistema Canadense de Acesso às Informações (ATI) está deteriorado. Embora o governo federal de Justin Trudeau tenha chegado ao poder prometendo mais abertura e transparência, algumas das suas primeiras medidas nesta direção fracassaram.
Embora se proponham algumas proteções para os delatores de ações ilícitas em nível governamental, na prática não existem recursos significativos capazes de proteger os jornalistas que pretendam investigar a fundo as irregularidades.
Por outro lado, é bem mais complicado quando se trata de denúncias no setor privado. Isto gerou um clima de apatia e indiferença, onde poucos estão dispostos a ir em frente e denunciar atividades irregulares, pelo medo de perder os seus empregos.
O comissário federal para Proteção da Vida Privada no Canadá (Privacy Commissioner of Canada), Daniel Therrien, declarou que o governo deveria se dedicar mais a defender o direito dos cidadãos de proteger suas informações privadas. "Pretendemos utilizar ferramentas do século 20 para lidar com problemas de privacidade do século 21".
Preocupa o acesso, a manipulação e o comércio de milhões de dados pessoais que, segundo vários meios de comunicação - tanto impressos como cibernéticos - fazem parte de um novo "setor" dedicado ao intercâmbio de dados médicos e empresas de seguros, entre outros.
Na província de Ontário, foi aprovada uma Lei denominada Anti-SLAPP (sigla em inglês de Demanda Estratégica contra Participação Pública), um recurso usado por vários magnatas e indústrias para processar por difamação os que pretendem desmascarar atividades ou abusos de poder e de autoridade.
A lei ANTI-SLAPP impede o uso de grandes somas de dinheiro para evitar as denúncias. A Associação Canadense para Liberdades Civis vinha lutando em favor desta lei, que também existe em Quebec.
A Lei antiterrorista ou C-51, criada pelo governo de Harper em 2015, não se destina exclusivamente a combater o terrorismo. Concede poder de exceção às autoridades policiais para que possam atacar qualquer atividade que considerem que promova "minar a segurança", além de qualquer ação ou movimento capaz de "prejudicar" os interesses do país. A Lei C-51 introduziu mudanças amplas e significativas na adoção de medidas de segurança nacional. Elas foram autorizadas a compartilhar informações com mais de 17 órgãos federais e aumentou a competência da polícia para detenção preventiva de suspeitos de terrorismo, eliminação da "promoção do terrorismo", autorizando o ministro de Segurança Pública a incluir nomes na lista canadense de "impedidos de voar" e fortalecendo os poderes da agência secreta, CSIS, que passaria de órgão de mera observação e coleta de inteligência para ser uma agência com competências e poderes para realizar ações secretas, muito além de meras observações.
A C-51 pode se converter em uma das maiores ameaças à liberdade de expressão e ao direito à privacidade.
Quatro grandes grupos financeiros, com sólidas conexões com os Estados Unidos, são donos de mais de setenta por cento dos jornais, emissoras de rádio e televisão no Canadá.
Hedy Fry, membro do Parlamento Federal e presidente do Comitê do Patrimônio Canadense (Canadian Heritage), declarou que o governo tomará uma ação decisiva para examinar a situação de concentração da mídia.
Segundo esta parlamentar, o governo fará uma análise detalhada de como os canadenses, especialmente as comunidades locais, são informados sobre os assuntos e experiências municipais e regionais através dos meios de imprensa, rádio, televisão e mídia digital. O estudo servirá para determinar o impacto da concentração da mídia nas coberturas noticiosas locais e qual é o papel da mídia digital no tema da liberdade de expressão. El Mercury, da cidade de Guelph, um jornal com 149 anos de existência, cerrou suas portas em janeiro e desde então a rede Postmedia deixou sem trabalho dezenas de repórteres em todo o país. Em seguida, foram o Ottawa Journal e o Winnipeg Tribune.
Em London, Ontário, a Postmedia fechou as redações tradicionais do outrora poderoso London Free Press e a sua rotativa, transferindo a impressão do jornal para Hamilton, onde se imprime o Londoner, um periódico menor da mídia Metroland.
A Comissão Canadense de Telecomunicações e Radiodifusão (sigla CRTC, em inglês e entidade reguladora da mídia no país) advertiu que mais da metade dos estúdios de noticiários de televisão estão em perigo.