Desde o nosso último relatório, que analisou as iniciativas do governo de Justin Trudeau para devolver uma situação de liberdade de comunicação para os cientistas e funcionários, tem havido uma abertura muito necessária no debate e defesa do direito do cidadão à informação. Apesar desta iniciativa louvável, ainda existe uma percepção generalizada de falta de transparência em certas questões, que se tornam cada vez mais o centro das atenções.
A Organização de Jornalistas Canadenses para a Liberdade de Expressão (iniciais CJFE em inglês) continua a monitorar diversas ações contra a liberdade de imprensa decorrentes de decisões judiciais em que houve uma clara infração da Lei de Liberdade de Informação. A CJFE participa de um processo judicial capaz de acabar com o sigilo nos tribunais de Ontário. Em 6 de fevereiro de 2017, o diário Toronto Star apresentou uma ação na justiça em virtude da Carta de Direitos e Liberdades do Canadá, que visa combater a falta de transparência que ora vigora nos tribunais administrativos e nos tribunais provinciais para audiências preliminares. A CJFE apoia a posição do Toronto Star.
Em janeiro, foi aprovado o projeto S-231, referente à muito esperada Lei de Proteção de Fontes Jornalísticas, introduzida para aditar a Lei de Provas do Canadá e o Código Criminal em termos de proteção das fontes jornalísticas. O projeto de lei recebeu o Consentimento Real (necessário para entrar em vigor). A seguir uma súmula do projeto publicado:
"Este instrumento altera a Lei de Provas do Canadá para proteger a confidencialidade das fontes jornalísticas. Permite que os jornalistas se recusem a divulgar informações ou documentos que identifiquem ou possam identificar uma fonte jornalística, a menos que a informação ou documento não possam ser obtidos por outros meios razoáveis e que o interesse público na administração da justiça prevaleça sobre o interesse público em preservar a confidencialidade da fonte jornalística".
Esta lei também modifica o Código Criminal para que somente um juiz de um tribunal superior de jurisdição criminal ou um juiz na acepção do artigo 552 desta Lei possam emitir uma ordem formal relativa a algum jornalista. Estabelece também que só se pode emitir uma ordem formal se o juiz estiver convencido de que não existe outro modo de obter de maneira razoável a informação desejada e que o interesse público na investigação e julgamento de um crime prevalecem sobre o direito do jornalista à privacidade na coleta e divulgação das informações. O juiz deve também estar de acordo com a aplicação destas mesmas condições antes que uma autoridade possa examinar, reproduzir ou fazer cópias de um documento obtido mediante ordem formal relativa a algum jornalista".
Apesar da vitória anterior para a liberdade de imprensa, a Associação Canadense de Jornalistas (sigla CAJ em inglês) precisou ser muito ativa neste semestre em suas iniciativas para defender os princípios dessa resolução.
No que acabou sendo um acontecimento muito lamentável, uma sentença do juiz Jean-François Émond solicitou à jornalista investigativa da Radio-Canadá Marie-Maude Denis que identifique as fontes que utilizou como parte das suas investigações sobre uma suposta colusão na adjudicação de contratos em Quebec.
Vários grupos de liberdade de imprensa condenaram rapidamente a sentença de Émond, o que ocorreu quando o jornalista de VICE News, Ben Makuch, preparava seu recurso perante o Tribunal Supremo sobre uma ordem da Real Polícia Montada do Canadá (sigla RPMC em inglês) para que revelasse as suas fontes confidenciais.
Também muito recentemente, a CAJ condenou a prisão do repórter da Radio Canadá, Antoine Trépanier, por suposto crime de assédio. A polícia prendeu Antoine Trépanier em 13 de março, depois que uma mulher, abordada repetidamente para comentar sobre uma história que estava relatando, entrou com uma queixa na polícia. "Buscar comentários sobre o tema básico de uma história é a base do jornalismo responsável", declarou o presidente da CAJ, Nick Taylor-Vaisey. "É preocupante a detenção de um jornalista no curso do seu trabalho de expor um assunto de interesse público".
A CAJ continua solicitando a criação de um defensor especial que, a pedido de um juiz, possa solicitar uma proteção contínua das fontes nos casos em que as autoridades legais buscam ordens para fiscalizar ou confiscar registros capazes de levar ao reconhecimento de fontes anônimas.
Continua diminuindo o número de leitores da imprensa escrita canadense e muitos jornais locais acabam obrigados a fechar as portas, fazendo com que dezenas de trabalhadores fiquem sem trabalho. A imprensa canadense não encontrou novas formas de oferecer conteúdo mediante outro modelo de negócio.
Em 9 de abril, Kevin Metcalf, coordenador de Promoções e Comunicações dos Jornalistas Canadenses de Expressão Livre (CJFE), foi demitido depois que a organização condenou em um pronunciamento os ataques a jornalistas em Gaza por parte de Israel. Sua demissão seguiu a renúncia de pelo menos meia dúzia de membros do conselho, incluindo o diretor executivo interino e o presidente do conselho, sob pressão da Canadian Broadcasting Corporation (CBC) para retirar seu apoio à CJFE, em resposta às declarações controversas. A eliminação do pronunciamento da página da CJFE também foi ordenada.