Discurso de abertura de Gustavo Mohme

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Cerimônia de Abertura Oficial da Reunião de Meio de Ano da SIP

Relatório do presidente da SIP, Gustavo Mohme, La República, Lima, Peru

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Bom Dia.

Sr. Prefeito, convidados especiais, queridos colegas da SIP, amigos e amigas que nos acompanham e o Comitê Anfitrião integrado por Luis Miguel de Bedout, María Elvira Domínguez, Roberto Pombo e Werner Ziztman, a quem agradeço porque, com a sua equipe da Associação de Meios de Informação da Colômbia, nos ajudaram a conquistar este sonho compartilhado com Luis Miguel de trazer a SIP para Medellín.

Tenho que reconhecer que a cidade de Medellín, precedida de uma história de décadas difíceis, nos impressionou gratamente por sua cultura, pelo carinho dos seus cidadãos empreendedores e por sua beleza. Isso não é fake news, mas sim a pura realidade.

Tenho a satisfação de apresentar o relatório semestral sobre o trabalho que a SIP vem desenvolvendo nas Américas nestes últimos seis meses, mas antes disso, tenho a obrigação de falar sobre outros acontecimentos importantes que compartilhamos agora à distância.

Como sabem, em Lima, a minha cidade, inaugura-se hoje a oitava Cúpula das Américas, onde estamos presentes com uma mensagem que expressa uma de nossas maiores preocupações: o destino de dois países totalitários como Cuba e Venezuela, que precisam retornar à democracia.

Sob o título de “Uma obrigação histórica” expressamos que os governantes das Américas continuam sendo testemunhas da total degradação das liberdades de expressão e de imprensa em Cuba e na Venezuela, cujos regimes continuam violando os direitos humanos de seus cidadãos e desrespeitando os princípios essenciais da Carta Democrática Interamericana.

Somos conscientes de que nestes últimos anos a comunidade internacional tomou conhecimento do malogrado clima sócio-político na Venezuela e que muitas nações não reconhecem a Assembleia Constituinte nem reconhecerão nenhum líder que surja de eleições fraudulentas. Pelo mesmo motivo, consideramos que este consenso deve ser aproveitado para promover medidas mais drásticas que não permitam que o regime tente perpetuar-se no poder de costas para o progresso de seus cidadãos.

Nenhum governo das Américas está isento de cometer abusos, gerar corrupção e aplicar censuras, mas naqueles onde existem sistemas democráticos com separação de poderes, juízes independentes, mecanismos de transparência e imprensa livre, existem os contrapesos necessários para construir melhores democracias.

Estamos convencidos de que a Carta Democrática Interamericana não pode ficar como um enunciado decorativo, mas sim uma convocação à ação, especialmente nesta oitava Cúpula cujo lema é “Governabilidade democrática face à corrupção”. Esta conjuntura oferece o contexto adequado para que os Presidentes e Chefes de Estado sintam-se obrigados a trabalhar juntos para resgatar a democracia em Cuba e na Venezuela.

Quero comentar que aproveitaremos esta reunião em Medellín para conceber estratégias que nos armem com os instrumentos necessários para enfrentar as adversidades. Uma das principais neste momento é o sequestro de nossos três colegas equatorianos do diário El Comercio, Javier Ortega, Paúl Rivas e Efraín Segarra, em mãos de uma corrente das FARC dissidente do processo de paz, que continua armada e na ilegalidade.

Quero dizer a Carlos Mantilla, diretor de El Comercio, e a toda a sua equipe, assim como aos jornalistas equatorianos que nunca desistiremos de buscar a sua libertação. Insistiremos perante o presidente Juan Manuel Santos e seu colega do Equador, Lenín Moreno, para que consigam trabalhar coordenadamente na libertação de nossos colegas.

Quero também lembrar a mesma tragédia de sempre que nos envolve a cada semestre, quando passamos em revista a situação da liberdade de imprensa no continente. Infelizmente, 11 jornalistas foram assassinatos desde que nos reunimos no final de outubro em Salt Lake City. Eles foram:

· Leobardo Vázquez Atzin, Pamela Montenegro del Real, Carlos Domínguez e Gumaro Pérez Aguilando, do México;

· Laurent Ángel Castillo Cifuentes e Luis Alfredo de León Miranda, da Guatemala;

· Jefferson Pureza Lopes e Ueliton Bayer Brizon, do Brasil;

· Carlos Oveniel Lara Domínguez, de Honduras;

· Samuel Rivas, de El Salvador; e

· Efigenia Vásquez Astudillo, da Colômbia.

· Também foi o caso de Vladjimir Legagneur, jornalista do Haiti, que continua desaparecido desde meados de março.

Da mesma forma, soma-se a esta lista de mártires desaparecidos o nosso querido colega e associado Claudio Paolillo.

Honremos a todos eles, suas famílias e seus meios de comunicação, com um minuto de silêncio.

Muito obrigado.

Como sabem, na SIP não abandonamos nunca os casos de jornalistas mortos. E, diante de tanta tragédia, houve algumas vitórias que devemos comemorar. A maior, talvez, e a que poderia se constituir na história da nossa instituição como batalhas contra a Nova Ordem das Comunicações, o parecer consultivo 1985 da Corte Interamericana ou a recuperação democrática em vários países resultante da luta pelo respeito à liberdade de imprensa, que poderá ocorrer nos próximos dias se houver sentença favorável da Corte Interamericana no processo do jornalista Nelson Carvajal, de Pitalito, desta nação colombiana, que estamos discutindo na justiça e elevando a nível internacional.

Esta sentença se reveste de particular importância porque nos permitirá seguir lutando por justiça em outros crimes nas Américas. Também, como todos sabem, continuaremos trabalhando incansavelmente para que o processo de Guillermo Cano não caia no esquecimento. Aproveito a ocasião para reiterar o nosso compromisso com o processo de seu tio, Fidel Cano, diretor de El Espectador, seus parentes e todos os jornalistas de El Espectador e da Colômbia que sabem que o processo de Fidel Cano é emblemático e muito chegado à SIP.

Também nestes meses demos atenção ao processo de Gerardo Bedoya, que trabalhou no El País, de Cali, assassinado nesta cidade em 1997, motivo pelo qual mantemos uma cordial comunicação com seus parentes graças ao apoio da nossa vice-presidente María Elvira, além, também, de uma honrosa comunicação com o Estado colombiano. Estamos também trabalhando arduamente em processos no Brasil, México, Bolívia e no meu país, o Peru.

Todos estes casos que mencionei foram investigados pela SIP nas últimas duas décadas e enviados para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. É nosso objetivo que não continuem impunes, que seus parentes e as vítimas sejam dignificados, com o reinício das investigações e melhorias nos sistemas de proteção dos jornalistas. Temas que renovamos em novembro quando nosso presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, Roberto Rock, esteve em Buenos Aires na comemoração do dia mundial contra a impunidade.

Como podem perceber, o nosso semestre foi muito ocupado. No início do ano, fomos a Washington e, em conjunto com o Comitê de Repórteres para a Liberdade de Imprensa dos EUA, nos reunimos com congressistas, jornalistas, executivos e líderes de opinião aos quais expressamos nossas preocupações pela situação da liberdade de imprensa e de expressão nos EUA, particularmente pelo impacto negativo sobre a mídia e jornalistas dos contínuos comentários agressivos do presidente Donald Trump.

Nos reunimos também em Washington com o secretário geral da OEA, Luis Almagro, para entender melhor as linhas de ação intergovernamental para combater o autoritarismo na Venezuela.

No contexto digital, organizamos recentemente uma conferência em Lima para entender melhor o impacto negativo que o direito ao esquecimento está tendo sobre a liberdade de expressão e os meios de comunicação, tanto aqui na Colômbia, como no Peru, Argentina, Chile e outros países. Abordaremos este tema amplamente no painel que teremos pela manhã no domingo.

Nossa ideia agora é ver de que forma podemos incorporar os novos desafios que a disrupção digital nos apresenta no contexto da liberdade de expressão e que transcendem a nossa Declaração de Chapultepec. Isto nos permitirá ter um roteiro de trabalho mais claro para seguir defendendo a liberdade de imprensa em todos os âmbitos, bem além das plataformas onde ocorrem as violações.

Da mesma forma, estamos criando uma plataforma digital para que nossos sócios tenham maior atuação entre si para compartilhar e propagar os casos de sucesso do nosso setor, quer seja sobre a eficiência das nossas redações, a qualidade dos conteúdos ou a monetização dos mesmos.

Também estamos concebendo campanhas de educação pública para advertir a população sobre a importância de reconhecer notícias falsas de fatos reais. No momento oportuno, procuraremos elevar o debate sobre a liberdade de imprensa e criar comunidades, através da publicação dos conteúdos da SIP nas nossas próprias plataformas digitais. Posso dizer a vocês que fui o primeiro e estou orgulhoso das análises que mostram que os debates públicos sobre liberdade de imprensa se intensificaram mediante a articulação de La República com a SIP. Gostaria que muitos dos meios de comunicação associados da SIP possam também dar esta mesma opção aos seus leitores e usuários.

No próximo semestre temos muito o que fazer. Esperamos estar em maio na República Dominicana perante a CIDH, pois já solicitamos audiências sobre o tema da liberdade de imprensa nos EUA e sobre o processo de Guillermo Cano. Aceitei também um convite do Uruguai em 3 de maio, para que no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa honremos a memória do nosso querido amigo Claudio Paolillo.

Em julho em Miami – depois da Copa do Mundo, que espero ser um sucesso para os peruanos, colombianos, uruguaios, brasileiros, panamenhos e argentinos - teremos nossa megaconferência digital da SIPConnect e espero que logo possamos anunciar outra conferência para repassar os temas digitais que surgiram na luta pela liberdade de imprensa e de expressão.

Espero também que o governo do Equador e outros governos nos recebam durante estes meses para podermos chegar a Salta em outubro com a missão cumprida. Lá estarão nos aguardando Sergio Romero, sua equipe do El Tribuno e todos os nossos colegas e sócios argentinos.

Como eu havia prometido, quando me concederam a honra de assumir a Presidência pela segunda vez, continuamos empenhados em fortalecer a nossa instituição, pois esta é a melhor maneira de podermos defender e promover a liberdade de imprensa e de expressão, o mandato que nossos antecessores nos legaram há mais de 70 anos.

Quero enfatizar que temos um programa excelente aqui em Medellín e agradeço a todos que vieram de tão longe, pois isso demonstra o compromisso e o chamado que nos unem para defender a liberdade de imprensa.

Quero deixar com vocês um pensamento otimista final, diante de tantos problemas que ameaçam as nossas liberdades de imprensa e expressão. Os ataques, a distorção deliberada da realidade e a era da pós-verdade não são realmente notícias ruins, mas sim a justificação da nossa existência como instituição, enobrecendo o nosso trabalho e nos obrigando a reforçar a nossa missão e trabalho.

Muito obrigado

(Depois dos aplausos)

Por último, quero aproveitar este momento para mais uma vez reiterar o agradecimento de nós todos a uma pessoa que já não está conosco e que desejo que recordemos e honremos. Vídeo por favor (vídeo de 4 minutos e meio sobre Claudio Paolillo).


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