Como resultado de investigações jornalísticas sobre corrupção, o presidente Pedro Castillo ameaçou processar jornalistas e os impediu de participar de eventos públicos e de coletivas de imprensa.
Em maio, após uma denúncia de que ele havia plagiado sua tese de mestrado, o presidente Castillo disse que a imprensa defende "interesses particulares e antidemocráticos", procura "provocar a instabilidade política" e faz parte de uma "conspiração de certos grupos de poder e setores golpistas".
Poucas semanas depois, o poder Executivo enviou ao Congresso um projeto de lei para criar o crime de divulgação de informações classificadas nas investigações criminais. As partes prejudicadas, réus, advogados, representantes, juízes, promotores e/ou policiais que divulgarem - antes da audiência de julgamento - informações confidenciais a "pessoas sem direito a elas" podem ser punidas com até quatro anos de prisão.
O primeiro-ministro Aníbal Torres disse em um canal do YouTube que "a maior parte da imprensa, especialmente na capital, desinforma, descontextualiza as informações. Adotou o mecanismo que Mussolini usou na Itália, o fascismo; que Hitler usou na Alemanha, o nazismo. Adotou a política desses dois personagens: usar a mentira como o melhor instrumento para destruir o adversário".
Durante sua mensagem presidencial um ano após tomar posse, o presidente atacou novamente a imprensa, acusando-a tentar desestabilizar seu governo. Ele disse também que a mídia "só conta mentiras e espalha notícias falsas", referindo-se ao programa de televisão "Panorama" que fez matérias sobre corrupção no governo.
Em setembro, um grupo de policiais prendeu injustificadamente uma equipe da Exitosa Noticias que fazia a cobertura de um despejo em Lurín, ao sul de Lima.
Em meados de outubro, na presença da imprensa internacional, o governo impediu a imprensa nacional de participar de uma coletiva de imprensa no Palácio do Governo na qual o presidente se defendeu de uma denúncia feita pela Procuradoria-Geral contra ele por supostos atos de corrupção.
Em agosto, o deputado Segundo Toribio Montalvo Cubas apresentou dois projetos de lei que prejudicam a liberdade de expressão. Em um deles, ele propôs aumentar a pena de prisão para até cinco anos em casos de difamação. No outro, que a mídia eletrônica concedesse espaço gratuito a políticos eleitos dos governos federal, estadual e local.
Em maio, o Ministério Público intimou o jornalista Ernesto Cabral para testemunhar em um caso sobre áudios relacionados com o caso Lava Jato e La Centralita, que expõem as manobras dos promotores anticorrupção. A reportagem, publicada em 2019, revelou uma colaboração irregular entre o réu, Martin Belaunde Lossio, e dois promotores de justiça. O Ministério Público pediu a quebra do sigilo profissional do jornalista.
Em setembro, a promotora Fyorella Montero Talledo exigiu que o programa de notícias "D-Bate Noticias", do Canal Piura TV, revelasse a identidade de uma fonte que havia participado de um programa transmitido um ano antes e no qual haviam sido reveladas supostas irregularidades em concessões rodoviárias e suborno por um funcionário do município de Piura, Boris Manuel Gutiérrez Castillo.
Durante a campanha eleitoral estadual e municipal ocorreram vários ataques a jornalistas, tanto pelos próprios candidatos quanto por seus apoiadores e parentes. Três jornalistas foram presos.
Em abril, jornalistas da região do Amazonas, Teobaldo Meléndez e Maricruz Torrejón, que apresentam o programa "Total Noticias", foram processados pela promotora Celia Llesenia Delmar Pezo. Os jornalistas questionaram a decisão de Delmar de arquivar casos de estupro de menores na região, nos quais um funcionário público e um policial estavam supostamente envolvidos.
O jornalista Raúl Cabrera Ramos, do La Republica, que fazia a cobertura do despejo dos moradores de Fuerabamba, de propriedade da empresa MMG Las Bambas, foi detido pela polícia e teve seu equipamentos confiscados.
Em junho, a jornalista Patricia Hoyos, do Centro Liber, informou que a governadora de Ica havia enviado pessoas à sua casa para assediá-la e intimidá-la.
Em julho, dois jornalistas do programa "Cuarto Poder", da América TV, e seu motorista foram detidos por cinco horas por patrulhas camponesas no distrito de Chadín, na província de Chota, Cajamarca. Os repórteres tinham feito uma matéria na região sobre a cunhada do presidente Castillo, que estava aparentemente oferecendo trabalho de obras de saneamento sem ser funcionária pública. Cerca de 50 integrantes das patrulhas forçaram os jornalistas a se retratarem por meio de um comunicado que leram na América TV.
Em setembro, o Tribunal das Contratações do Estado do Organismo Supervisor das Contratações do Estado (OSCE) emitiu duas proibições de distribuição de publicidade estatal por quatro e cinco meses para o Grupo La República (GLR). O OSCE afirma que o GLR violou a Lei 30225 quando Claudia Cornejo Mohme, filha de María Eugenia Mohme, acionista do GLR, era ministra do Turismo e do Comércio Exterior. De acordo com o OSCE, a empresa de propriedade de um parente da ministra teria contratado publicidade com o governo, o que constituiria violação da lei. Entretanto, uma decisão do Tribunal Constitucional afirma que "a proibição de contratação com o Estado é apenas universal e geral para parentes diretos e até o segundo grau do presidente da República".
Miguel Méndez Maúrtua, promotor do Ministério da Mulher, enviou cartas com ameaças de mover ações judiciais ao jornalista Bruno Amoretti, do portal El Foco e autor de uma reportagem sobre as agressões dos funcionários do Ministério contra ex-funcionárias, e ao presidente do El Foco, Eloy Marchán.
O ex-deputado José Luna Morales enviou uma carta com ameaças de mover ação judicial à jornalista Josefina Townsend, moderadora do debate realizado em Lima, antes das eleições estaduais. Townsend perguntou ao então candidato Daniel Urresti o que aconteceria se ele fosse condenado pelo assassinato do jornalista Hugo Bustíos, considerando que seu candidato a vice-prefeito, Luna Morales, tinha sido investigado por fazer parte de uma organização criminosa.
Os apresentadores da estação de rádio Cusco Inti Raymi foram agredidos fisicamente pela esposa e pelas filhas de Ricardo Cavero Cárdenas, candidato à prefeito em Paucartambo, enquanto transmitiam seu programa ao vivo. As mulheres feriram um dos apresentadores e quebraram móveis e equipamentos.
A Suprema Corte decidiu que um juiz criminal não pode restringir o exercício da liberdade de expressão e o direito à participação política de um cidadão envolvido em uma investigação. Portanto, o tribunal declarou nulas e sem efeito as restrições impostas contra o ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski, que havia sido proibido de dar declarações à imprensa e de se envolver em atividades políticas diretas ou indiretas. Esta decisão cria um precedente para outras pessoas sob investigação no caso Lava Jato, como Ollanta Humala e Keiko Fujimori, que também estão impedidos de dar declarações à imprensa e de ter atuação política.
O caso do assassinato de Melissa Alfaro Méndez, estudante de jornalismo e estagiária da revista Cambio, que criticou o regime de Alberto Fujimori foi apresentado à CIDH. Em outubro, completaram-se 31 anos do crime. Alfaro morreu depois de abrir um jornal contendo ambo-gelatina, explosivo de uso militar.