O estigma social como instrumento de ataque verbal do governo e dos militantes do partido governista contra os meios de comunicação, repórteres e cinegrafistas gera preocupação porque esta mensagem se traduz em violência contra o trabalho jornalístico.
Qualificativos como "oposição" e "cartel da mentira" são utilizados pelos funcionários e políticos governistas para referir-se aos meios e jornalistas independentes, com a finalidade de desviar a atenção das denúncias de corrupção nos diversos níveis do governo, tanto central como local.
A Associação Nacional de Imprensa da Bolívia (ANP) pediu respeito ao trabalho dos jornalistas. A sua Unidade de Monitoramento informou que nos primeiros 10 meses do ano houve registros de agressões frequentes contra repórteres, fotógrafos e cinegrafistas que cobriam manifestações e protestos de segmentos sociais. As agressões atingiram jornalistas da mídia independente e governamental.
No início de agosto, um grupo de colonos e seguidores do presidente Evo Morales impediu o trabalho dos jornalistas no Território Indígena do Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS), intimidando-os com coação psicológica e ameaças. Foram afetados jornalistas dos diários El Deber, Los Tiempos, Opinión e dos canais de TV e de radioemissoras do departamento de Cochabamba que tentavam verificar a execução de obras viárias, mesmo estando em vigor uma norma de proteção a esta zona tão rica em biodiversidade.
O presidente Morales promulgou uma lei que sustou a proteção do TIPNIS em 13 de agosto.
A jornalista Beatriz Layme e o fotógrafo Álvaro Valero, ambos do diário Página Siete, escaparam com vida após perseguição por colonos partidários do governo que apoiam a construção de uma estrada que atravessa o TIPNIS. Estes enviados percorreram a região entre 13 e 16 de agosto e foram vítimas de perseguição, ameaças e coação psicológica.
O jornalista Agustín Mamani foi detido em 29 de agosto, tendo sua câmera confiscada por policiais da tropa de choque, enquanto cobria uma manifestação dos habitantes de uma região agrícola que exigiam melhorias nas rodovias. O equipamento não foi devolvido apesar das gestões da ANP. Agustín Mamani, detido por 93 horas, também foi indiciado indevidamente por supostos danos patrimoniais ao município de La Paz.
O jornalista Adolfo Yavarí sofreu um atentado contra seu domicílio na cidade de Villa Montes, no departamento de Tarija, em 18 de setembro. Um funcionário da empresa local de água mordeu e cortou seu dedo. O fato supostamente foi em represália às denúncias do jornalista sobre a contaminação da água.
A ANP apresentou processo requerendo a exclusão de jornalistas e comunicadores do artigo de "práticas profissionais indevidas" no projeto do Código do Sistema Penal. Em reunião convocada pelos presidentes das assembleias legislativas, em 10 de outubro de 2017, anunciou-se a modificação na redação dessa legislação visando a exclusão dos jornalistas.
Foi firmado um termo de compromisso ratificando o respeito ao trabalho da imprensa de acordo com a Constituição Política do Estado e a Lei de Imprensa. Ficou acordada a redação de um artigo que preserva a livre
expressão do pensamento, garante a circulação, emissão e divulgação da mídia impressa e o trabalho dos outros meios audiovisuais, eletrônicos ou digitais.