Durante a administração do atual governo, e principalmente nos últimos meses, após a tentativa de reeleição do presidente Horacio Cartes, que foi rejeitada pelo Congresso, ocorreram incidentes que representam riscos para a liberdade de imprensa.
Um dos destaques é um projeto de lei para regulamentação do conteúdo da internet; a intimidação de uma jornalista por não revelar as fontes utilizadas em uma denúncia sobre irregularidades na administração pública, e a ameaça de morte feita a um correspondente na região de fronteira por cartéis de drogas.
A Câmara dos Deputados rejeitou em dezembro um projeto de lei apresentado pelo deputado Édgar Ortiz (PLRA) que obrigaria provedores de internet a retirar as publicações de caráter ofensivo ou difamatório. Mais de vinte organizações da sociedade civil pediram, em carta, que o Congresso rejeitasse o projeto que regulamentaria as publicações sobre partidos políticos e parlamentares nas redes sociais por considerá-lo contrário ao direito à livre expressão dos cidadãos, aos direitos dos jornalistas e de suas fontes. A Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados rejeitou o projeto afirmando que violava a Constituição e a liberdade de imprensa.
Em março, a jornalista do ABC Color, Mabel Rehnfeldt, que divulgou em dezembro no seu programa de rádio "ABC Cardinal" gravações de conversas telefônicas que revelavam práticas de extorsão e tráfico de influência de Óscar González Daher, ex-senador e ex-chefe do Conselho de Magistratura, foi intimada a depor para revelar suas fontes. A jornalista recusou-se, amparando-se no artigo 29 da Constituição, que proíbe que os jornalistas sejam obrigados a revelar suas fontes. No final de março, a nova procuradora-geral, Sandra Quiñonez, afirmou que a liberdade de imprensa estava garantida e anunciou que as duas promotoras envolvidas no caso das gravações, Claudia Morys e Josefina Aghemo, estavam sendo auditadas, apesar de ambas terem sido retiradas do caso antes dessa medida.
Em novembro, um dos distribuidores de uma rede de microtráfico que atua em Caacupé ofereceu 25 milhões de guaranis a quem "fizesse viajar" Desiré Cabrera, correspondente do ABC Color, devido a matérias sobre áreas liberadas em Caacupé onde traficantes de drogas e outros criminosos atuam. O traficante seria Blas Alfonso Brítez López, conhecido como "Beibi'i", que foi condenado em agosto de 2017 a três anos e seis meses de prisão e beneficiou-se com medidas alternativas depois que um tribunal considerou que ele havia cumprido sua pena sem que tivesse sequer pisado na prisão.
Outros fatos que merecem destaque:
Em outubro, a imprensa protestou em frente à sede do Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra (Inder) em repúdio às ameaças do seu diretor, Justo Pastor Cárdenas, contra uma jornalista do jornal ABC Color. As ameaças estavam relacionadas a uma investigação jornalística sobre o suposto aumento do seu patrimônio, evidenciado por compras milionárias de imóveis, crime pelo qual está sendo investigado.
Em novembro, Manuel Gómez, jornalista da rádio "Génesis" da cidade de Alberdi, recebeu ameaças depois de denunciar atos de corrupção na prefeitura do local que envolveriam o prefeito da cidade, Federico Ramón Centurión Acosta. O jornalista foi ameaçado e agredido por um grupo de pessoas lideradas pela vereadora Dionisia Amarilla, o pré-candidato a vereador, Jorge Ríos, e Faustino Amílicar Centurión, irmão do prefeito, que o avisaram que sua vida corria perigo se ele não parasse de divulgar informações sobre o prefeito.
Em dezembro, a juíza Nilda Giménez analisou o pedido de destituição do senador Víctor Bogado (ANR) apresentado pela defesa do diretor do jornal ABC Color, Aldo Zuccolillo, para que pudesse enfrentar em igualdade de condições o senador. A juíza aceitou uma ação de Bogado contra o diretor do ABC Color por suposta difamação, calúnia e injúria e convocou as partes a uma audiência de conciliação em outubro. A defesa pediu, então, um litígio em igualdade de condições diante do foro do senador. A ação refere-se a uma matéria publicada em setembro e relativa a uma pessoa que trabalhava para Bogado e recebia salário duplo como funcionária da entidade binacional Itaipu e da Câmara dos Deputados.
Em novembro, dando continuidade ao julgamento oral e público pelo duplo homicídio de Pablo Medina e Antonia Almada, o Ministério Público acusou como autores materiais Wilson Acosta Marques, foragido, e Flavio Acosta Riveros, preso no Brasil, irmão e sobrinho, respectivamente, do ex-prefeito de Ypejhú, Vilmar Acosta Marques. Em dezembro, um tribunal declarou Vilma "Neneco" Acosta Marques culpado de ter ordenado o assassinato de Pablo Medida, repórter do ABC Color, e de Antonia Almada, sua secretária, baleados em uma estrada de Villa Ygatimí na tarde de 16 de outubro de 2014 em represália às denúncias feitas por Medina sobre a ligação da família de Acosta com o tráfico de drogas e outros crimes cometidos na região. Acosta foi condenado a 29 anos de prisão e a mais dez anos de reclusão. Um recurso contra a sentença foi impetrado junto ao Tribunal de Apelação, que ainda não emitiu decisão a respeito.