Argentina

Aa
74 Assembléia Geral
Salta, Argentina
$.-
Neste último semestre, agravou-se o cenário paradoxal em que atuavam os meios de comunicação, desenvolvendo suas tarefas com níveis elevados de liberdade de imprensa, embora dentro de um contexto particularmente desfavorável para sua sustentabilidade.

Desde abril, o país sofre uma grave crise econômica que afeta duramente as empresas jornalísticas. Um aumento acumulado da paridade cambial com o dólar americano superior a 100%, conjugado com a subida do preço do papel, multiplicou os custos no setor gráfico. Ao mesmo tempo, uma profunda recessão retraiu os investimentos em publicidade privada. A pauta de publicidade oficial caiu para um quarto da verba correspondente ao mesmo período em 2017. Uma inflação estimada em 45% para 2018 agrega instabilidade e pressiona o balanço econômico dos meios de comunicação. O quadro, em resumo, é de uma "tempestade perfeita" para que os meios consigam continuar exercendo as suas funções.

A Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas (ADEPA, em espanhol) e a Associação dos Jornais do Interior da República Argentina (ADIRA) promovem a implementação de medidas estruturais por parte do Estado para dar viabilidade ao setor.

Neste semestre, aumentou significativamente o número de jornalistas insultados e de campanhas de difamação sistemática nas redes sociais, geralmente protegidas pelo anonimato e artifícios tecnológicos, configurando fatores preocupantes capazes de afetar o trabalho jornalístico.

Quanto às agressões físicas contra jornalistas, destacam-se casos como o de Nicolás Wiñazki, jornalista do "Clarín", que, em maio, foi vítima de espancamentos e ameaças por militantes políticos nas imediações do Congresso. O jornalista Gonzalo Bonadeo, do Canal 13, durante a cobertura da Copa do Mundo em Moscou, levou uma garrafada nas costas dada por um torcedor. Em julho, Nicolás Gil, jornalista do jornal El Chubut, foi ameaçado pelo dirigente das entidades de classe dos funcionários do legislativo da Província. Em agosto, jornalistas de TN e La Nación foram ameaçados durante a cobertura da batida policial na casa da ex-presidente Cristina Kirchner. Nesse mesmo mês, Carolina Mulder, fotógrafa de La Voz del Pueblo, de Tres Arroyos, foi ameaçada por trabalhadores encarregados da limpeza da firma Pronto Casa, na cidade de Claromecó. Enquanto o jornalista Federico Tolchinsky de El Doze, de Córdoba, foi alvo de ameaças nas redes sociais por suas reportagens sobre o Sindicato Único de Catadores de Resíduos e Varreduras desta província.
Em Rosario, cidade onde se registra um aumento alarmante de crimes graves relacionados ao tráfico de drogas, o jornalista Maximiliano Raimondi do Canal 5 foi ameaçado de morte por um jovem não identificado, enquanto o repórter dava uma notícia sobre uma menina de cinco anos de idade baleada e morta, em meio a um tiroteio cruzado entre quadrilhas de narcotraficantes.
Quanto a medidas de censura na esfera pública, a ADEPA condenou, em maio passado, a suspensão da exibição do filme 'Será Venganza' na feira do livro de Buenos Aires, determinada pelas autoridades do evento. "A liberdade de expressão -declarou a organização- não significa apenas ser capaz de ouvir o que concordamos, porém precisamente o que nos incomoda ou, até mesmo, o que é diametralmente oposto ao que pensamos".
Sobre a relação entre as plataformas de tecnologia e a mídia, a ADEPA criticou, no seu relatório semestral sobre liberdade de imprensa apresentado em setembro, o uso de conteúdo jornalístico pelas plataformas sem o devido compartilhamento dos benefícios econômicos obtidos. A organização questionou o projeto de Lei de Intermediários, sancionado parcialmente pelo Senado Nacional, que vai no sentido contrário ao do reconhecimento desse direito e das tendências globais nesta questão.
Apesar da instabilidade que afeta o setor jornalístico, no "escândalo dos cadernos", uma investigação sobre corrupção nos governos "kirchneristas" com profundas ligações entre a função pública e as empresas privadas, a mídia tem exibido uma vitalidade surpreendente que abriu, em um horizonte dominado pela incerteza e ceticismo, uma expectativa inédita de regeneração institucional e de transparência.


Compartilhar

0