Nos últimos seis meses, houve ataques físicos, ameaças e assédio contra jornalistas que denunciaram atos de corrupção ou atividades ilegais, o que destaca a necessidade de reforçar os mecanismos de alerta, punir os agressores e proteger os jornalistas e suas fontes.
A "Lei da Mordaça", que proibia a publicidade oficial na mídia privada e foi promulgada pelo Congresso, sendo considerada a mais nítida expressão da censura indireta contra os meios de comunicação independentes, foi anulada pelo Tribunal Constitucional. Mas as vozes que o promoveram agora ameaçam uma nova proposta, sempre com o objetivo de limitar o exercício jornalístico e limitar o acesso à informação cidadã.
A crise política tem prejudicado a credibilidade das instituições e da classe política, tendo em vista as denúncias de corrupção que envolvem juízes, procuradores, políticos e empresários. O papel da imprensa foi determinante para revelar as implicações e o escopo dos casos de corrupção, o que acarretou reações contra a imprensa, como as provenientes da procuradoria geral e do Congresso, exigindo inclusive a divulgação das fontes jornalísticas.
Entre as outras represálias contra a imprensa, houve em junho a adoção da lei que proíbe a publicidade oficial na mídia privada, que foi acompanhada por uma campanha para desacreditar a mídia independente. A "Lei da Mordaça", apresentada em novembro de 2017 pelo congressista Mauricio Mulder, e aprovada apesar das observações interpostas pelo Executivo, foi declarada inconstitucional em 11 de outubro pela mais alta corte do país.
Em setembro, a Presidência do Conselho de Ministros e um grupo de parlamentares apresentaram ações de inconstitucionalidade perante o Tribunal Constitucional. A Ouvidoria Pública (Defensoría del Pueblo), a Sociedade Nacional de Rádio e Televisão e a Clínica Jurídica da Universidade do Pacífico apresentaram recursos de "Amicus Curiae", sustentando a inconstitucionalidade dessa Lei.
A tudo isso, se somaram agressões físicas e ameaças pelo "Poder de Fato", ligado à máfia e/ou atividades ilegais. Estas agressões decorreram das investigações realizadas para revelar casos de corrupção ou denúncias de crimes graves, como o tráfico de drogas ou a mineração ilegal.
Outros fatos relevantes neste período:
Em junho, o Conselho de Imprensa Peruano condenou manifestações do então chefe da segurança do Congresso, Walter Jibaja, quando ameaçou a jornalista Rosa Maria Palacios, de La República, através de sua conta no Twitter.
No mesmo mês, o pessoal de segurança do Congresso foi surpreendido tirando fotos da jornalista Anuska Buenaluque, de Cuarto Poder, enquanto ela entrevistava o porta-voz governamental Gilbert Violeta. Vários meios de comunicação denunciaram o recrutamento de militantes da Força Popular pelos escritórios de comunicação do Congresso, onde se realizou uma "campanha de desmoralização" contra os jornalistas, os meios de comunicação e o Conselho da Imprensa Peruana.
Também em junho, diversos meios de comunicação denunciaram uma "campanha de desmoralização contra os jornalistas Augusto Álvarez Rodrich, Patricia del Río, Claudia Cisneros, Pamela Vértiz, Raúl Tola, Rosa María Palacios, Sol Carreño e o cartunista 'Heduardo', por parte do Chefe de Segurança do Congresso, Walter Jibaja. Como ficou registrado nas imagens na tela que alguns usuários captaram na sua conta do Twitter, Jibaja atacou os jornalistas nesta mídia.
Em julho, o Ministério Público tentou entrar nas instalações da IDL-Reporteros para realizar uma diligência sobre a exposição de documentação relacionada a áudios envolvendo juízes e membros do Conselho Nacional da Magistratura (CNM), divulgados pela mídia. O diretor Gustavo Gorriti indicou que as autoridades não tinham a ordem respectiva, ficando suspensa a diligência. Horas depois, a Procuradoria Geral da Nação lamentou o "incômodo provocado" e esclareceu que o objetivo teria sido para "dar maior celeridade aos inquéritos, face à gravidade dos fatos".
Gustavo Gorriti e Rosana Cueva, diretora do programa "Panorama", foram intimados pela Comissão de Fiscalização do Congresso para informar como obtiveram os áudios divulgados. Da mesma forma, diferentes meios de comunicação, como os jornais El Comercio e La República, receberam solicitações privilegiadas de informações de uma comissão de inquérito liderada pela congressista Rosa Bartra, do partido Fuerza Popular.
Em resposta, o Conselho de Imprensa Peruana (CPP) disse em um comunicado que, embora seja legítimo solicitar a colaboração dos jornalistas para o esclarecimento de fatos sob investigação, "a proteção da confidencialidade das fontes é um elemento fundamental que permite à imprensa cumprir o seu papel de fiscalização".
Em 30 de julho, foi agredido o jornalista Deyvid Rufino Ito Apaza, da rádio Juliaca, na província do mesmo nome. Segundo a nota publicada pela ANP, o jornalista foi espancado enquanto cobria um confronto entre motoristas na via pública.
Em 19 de agosto, Hugo Max Gonzales Henostroza, diretor do portal www.noticierolibre.com, foi atacado por dois indivíduos quando ia para sua casa, na província de Huaraz, na região de Ancash.
Em 25 de setembro, Liubomir Fernández, jornalista de La República, recebeu ameaças de morte na sua conta pessoal do Facebook. O fato ocorreu na cidade de Puno, assim que Fernandez publicou denúncias sobre o suposto envolvimento do candidato a governador regional Alexandre Flores Pari e sua família em atividades de mineração ilegal.
Em 4 de outubro, foi divulgada a sentença pelo assassinato do jornalista Hugo Bustíos, ocorrido em novembro de 1998. O candidato a prefeito de Lima e ex-ministro do Interior, Daniel Urresti, foi absolvido do assassinato, o que gerou uma dura reação da mídia e dos parentes de Bustios. Urresti foi acusado de fazer parte do grupo de militares da Base Contra Subversivos de Castropampa que assassinou Bustíos, enquanto a vítima fazia a cobertura de um atentado na cidade de Erapata, em Ayacucho, para a revista Caretas.